O Itaú Unibanco avalia que o dólar deve continuar em processo de enfraquecimento nos próximos meses. Segundo o economista-chefe do banco, Mário Mesquita, as taxas impostas recentemente pelos Estados Unidos a diversos países provocaram um choque de oferta no mercado americano, já que reduziram a entrada de produtos no país. Esse movimento começa a gerar pressões inflacionárias internas. Diante disso, o Federal Reserve (FED, o banco central americano) tende a cortar juros, mas num ritmo mais lento do que o esperado pelo mercado, já que a economia segue aquecida, com desemprego baixo. Reforma da renda: Haddad defende que Congresso ‘honre compromisso’ de aprovar isenção do IR com medidas de compensação Isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil: veja como o projeto mexe no bolso de cada classe social Mesquita também lembrou que a autonomia do FED tem sido questionada. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destituiu nesta semana a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook. O republicano também vem aumentando as críticas ao presidente do banco, Jerome Powell, por não reduzir os juros básicos do país. Segundo Mesquita, essa pressão do governo americano sobre o FED deve levar a uma mudança de postura da instituição nos próximos seis a nove meses: — A gente vai assistir ao longo dos próximos seis, nove meses, a uma mudança de postura do FED, na direção de provavelmente se tornar mais leniente com a inflação. Tarifaço: EUA não venderam sequer um saco de soja para a China em mês crucial Uma das consequências dessa mudança de postura iminente do FED é o comportamento anormal dos ativos americanos. Tradicionalmente, em economias desenvolvidas, quando os juros de mercado sobem, a moeda local tende a se valorizar. Mas, recentemente, ocorreu o contrário: os juros de médio prazo aumentaram e, ainda assim, o dólar se desvalorizou. Esse movimento é mais comum em economias emergentes. O cenário americano indica, segundo Mesquita, uma moeda frágil. A avaliação é de continuidade no processo de enfraquecimento do dólar: — O dólar no mundo tende a continuar o processo de enfraquecimento. Os Estados Unidos vão cortar a taxa de juros, começando agora e continuando no ano que vem, mas esse relaxamento da política monetária deve bater mais para 2027 do que para 2026 [...] E tem mais espaço para o dólar cair. E aí o dólar caindo, ele traria junto com o real. Traria, não necessariamente trará, porque tem fatores que podem atrapalhar, como a piora das contas externas. Galerias Relacionadas O Itaú calcula ainda que a tarifa de 50% aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, na prática, equivale a uma alíquota média de 30%, considerando uma série de itens incluídos na lista de exceções. ‘Batalha das expectativas’ Em relação ao cenário doméstico, o Copom interrompeu o ciclo de cortes na taxa Selic e sinalizou que pretende mantê-la estável por um período prolongado. Mesquita lembra que, no passado, quando o Banco Central utilizou apenas o termo “prolongado”, isso significou uma pausa de sete a nove reuniões. Agora, ao reforçar que será um período “bastante prolongado”, a sinalização é de uma pausa ainda mais longa, provavelmente até o fim do ano. Para o economista, a autoridade monetária já começa a colher resultados positivos, como a melhora das expectativas captadas pela pesquisa Focus, um reflexo direto da política adotada até agora. — O Banco Central está começando a ganhar a batalha das expectativas, isso é muito bom. O Banco Central tem tido boas notícias derivadas da pesquisa Focus. A inflação implícita já tinha cedido e, normalmente, ela antecede os movimentos da Focus. Isso, sem dúvida alguma, é resultado da política monetária. A política monetária está começando a colher os frutos do esforço todo que foi feito.