Leandra Leal se emocionou ao falar sobre como a maternidade mudou sua vida. A mãe de Julia, de 11 anos, e de Damião, de 1, analisou, em entrevista à jornalista Maria Fortuna no videocast 'Conversa vai, conversa vem', disponível no canal do GLOBO no Youtube e no Spotify, a transformação que as crianças proporcionaram em sua vida. Leia: Sua filha Julia, de 11 anos, chegou após um processo de adoção de três anos. Damião, depois de uma gravidez biológica. Em que essas experiências se encontram? Cada filho é um filho. Com Júlia, eu tinha 33, agora, tenho 42. Há uma diferença grande de quem eu era pra quem eu sou agora. Acho que toda mãe de dois fala isso, mas honestamente, não tem diferença. Essa fase inicial é muito mágica mesmo. Esse amor que parece paixão, que se fica longe, dói. Eu amo ser mãe. A gente vive tão acelerada que ser mãe para mim é uma atividade meditativa, me conecta com o presente. Sei que é um privilégio. Tenho a possibilidade de ter tempo de me dedicar aos meus filhos. Meus filhos potencializaram minha carreira, isso é um privilégio pra uma mulher. Julia me fez ficar sagaz com o que queria dizer, ficar mais fina nas minhas escolhas. Querer dirigir tem muito a ver com a chegada dela, me deu essa guinada. Ser mãe me potencializou. A maternidade é o que mais me transformou na vida, que me alarga. Meu filhos são o maior combustível que tenho para estar viva e querer transformar o mundo. O quanto me alimenta contemplar Julia e Damião existindo. Sou filha única, queria muito que minha filha tivesse o amor de irmão que eu não tive. A relação deles é emocionante. Leandra Leal e a filha, Julia Reprodução Como é criar uma filha negra numa sociedade racista e um um menino branco consciente de seus privilégios? Que ferramentas procura trabalhar nela para se proteger. Já enfrentou situações de racismo que sequer imaginava? As situações de racismo são inimagináveis. Muito cruéis. Isso atravessa a minha maternidade de uma forma muito difícil. Porque eu não tenho a mesma experiência que ela, sou branca, mas compartilho dessa dor. O que faço diariamente é fortalecer a autoestima dela, dar a consciência de que isso é um problema social e não dela, ferramentas para ela conhecer a história, a vida, e ter clareza de quem ela é, que tem uma família, uma mãe que está ao lado dela. Minha família está tão treinada, envolvida, comprometida nesse flow. Mas tem que estar atento o tempo inteiro. A branquitude tem que estar atenta aos seus privilégios, a como se beneficia deles. Porque faz parte do desmonte disso, cortar esses mecanismos, fazer a diferença nos lugares em que está, abrir a porta para outras pessoas. Initial plugin text A revisão da História também é importante e você se tornou sócia da primeira escola afro-brasileira no Rio. Qual é o norte da proposta educacional? A escola Maria Filipa é a primeira escola afro-brasileira registrada no MEC. Foi fundada pela Bárbara Carine, em Salvador. E a Maju Passos. Um projeto feito a partir da maternidade dela, mulher negra, intelectual. Ela se torna mãe, procura escolas e vê que a filha dela vai passar pelas mesmas violências que ela passou quando criança. E funda essa escola, com projeto antirracista, decolonial. Que trata os marcos fundadores da sociedade brasileira, europeia, africana e indígena com igualdade. As pessoas falam: "E não vai ter criança branca? Não se ensina a história da Europa?". Ensina, mas com igualdade com a história africana e com a história indígena. Que são tão importantes para a formação do nosso povo. Conheci essa escola a partir de uma busca que eu fiz para a Júlia. Só existia em Salvador e quando Bárbara diz que vem para o Rio, me ofereço para estar junto do projeto. É desafiador porque é uma escola particular, mas que tem um compromisso social muito grande. 20% é de bolsa. Tem bolsa de 50% também para crianças negras e indígenas. É em Vila Isabel, estamos com educação infantil e crescendo.