O Exército de Israel intensificou as operações ao redor da Cidade de Gaza nesta quarta-feira (27), enquanto aguarda os resultados de uma reunião na Casa Branca, liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o pós-guerra no território palestino devastado. O governo israelense enfrenta pressão interna e externa para acabar com a ofensiva de quase dois anos na Faixa de Gaza, onde suas tropas se preparam para tomar a maior cidade do território, que, segundo a ONU, enfrenta uma fome generalizada. Os países mediadores apresentaram um projeto de acordo para um cessar-fogo e a libertação dos reféns, que foi aceito pelo movimento islamista palestino Hamas, cujo ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra em Gaza. Israel ainda não respondeu oficialmente à proposta. Nesta quarta-feira, o Exército de Israel afirmou que a evacuação da Cidade de Gaza é "inevitável". "A evacuação da Cidade de Gaza é inevitável (...) cada família que se deslocar para o sul receberá a mais generosa ajuda humanitária possível", escreveu na rede social X o porta-voz de língua árabe do Exército, Avichay Adraee. Moradores do bairro de Zeitoun, na Cidade de Gaza, relataram bombardeios noturnos intensos. "Aviões de guerra bombardearam várias vezes e os drones dispararam durante a noite", declarou Tala al Khatib, de 29 anos, à AFP por telefone. "Várias casas em Zeitoun foram destruídas. Nós ainda estamos em nossa casa. Alguns vizinhos fugiram, mas, para onde quer que você vá, a morte te acompanha", disse. Abdel Hamid al Sayfi, de 62 anos, disse que não sai de casa desde a tarde de terça-feira. "Quem sai é atingido por drones", afirmou, também por telefone. O enviado especial de Trump, Steve Witkoff, anunciou que o presidente americano receberá nesta quarta-feira funcionários de alto escalão na Casa Branca para formular um plano para o pós-guerra em Gaza. "Temos uma grande reunião na Casa Branca, comandada pelo presidente, e é (sobre) um plano muito completo que estamos elaborando para o dia seguinte", declarou Witkoff ao canal Fox News, sem revelar mais detalhes. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também não revelou mais informações sobre o encontro, mas disse que a guerra "começou em Gaza e terminará em Gaza. Não deixaremos esses monstros lá". - Israel exige retratação - O ministro israelense da Defesa, Israel Katz, prometeu na sexta-feira destruir a Cidade de Gaza, caso o Hamas não aceite encerrar a guerra nas condições israelenses. O Ministério da Defesa aprovou os planos de tomar a cidade e autorizou a mobilização de cerca de 60 mil reservistas. A Classificação Integrada da Segurança Alimentar (IPC), uma autoridade apoiada pela ONU, declarou na sexta-feira que a área da Cidade de Gaza sofre de fome, e uma agência das Nações Unidas atribuiu a situação à "obstrução sistemática de Israel". Netanyahu classificou o relatório como uma "mentira descarada", e nesta quarta-feira o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que vai pedir a retratação do documento e denunciou que a IPC está "politizada". - "Chega!" - Em Israel, dezenas de milhares de manifestantes se reuniram na terça-feira em Tel Aviv para exigir o fim da guerra e um acordo para libertar os reféns sob poder do Hamas, coincidindo com uma reunião do gabinete de segurança israelense. "Já chega!", clamou Silvia Cunio, uma argentina que vive em Israel cujos filhos - Ariel e David - estão sequestrados em Gaza. Netanyahu ordenou na semana passada negociações imediatas para garantir a libertação dos reféns, sem abandonar o plano de tomar a Cidade de Gaza. O Hamas aceitou a última proposta de trégua apresentada pelos mediadores, que contempla a libertação gradual dos reféns ao longo de 60 dias em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel. Em Doha, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, disse que os mediadores ainda "aguardam uma resposta" de Israel. A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo um balaço da AFP baseado em números oficiais. Dos 251 reféns sequestrados no ataque, 49 continuam em Gaza, incluindo 27 que, segundo o Exército israelense, estariam mortos. A ofensiva de represália de Israel deixou ao menos 62.895 mortos, a maioria civis, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis. © Agence France-Presse