A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 85 casos da síndrome de Guillain-Barré — que faz com que o sistema imunológico ataque o organismo, enfraquecendo os músculos e paralisando partes do corpo — na Faixa de Gaza nos últimos três meses. Embora a causa da doença não seja totalmente compreendida, o órgão aponta que ela está ligada a alimentos contaminados ou ao consumo de água não tratada. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, oito pessoas morreram, noticiou a Al Jazeera. Artigo: campanha de Israel em Gaza está transformando o país em um Estado pária Itamaraty: Crise entre Brasil e Israel atrapalha diálogo entre os governos, mas relações econômico-comerciais devem ser mantidas No enclave, sitiado e sob bombardeios constantes de Israel, as redes de água e saneamento foram destruídas pela ofensiva militar do governo de Benjamin Netanyahu. Com isso, a população vive a margem de condições humanitárias básicas, justificando a proliferação da enfermidade. Apesar de não ter cura oficial, a Guillain-Barré tem tratamentos reconhecidos — todos indisponíveis por lá, de acordo com a OMS. O bloqueio israelense continua impedindo não só a chegada de remédios, como também a de alimentos. Além disso, a superlotação em abrigos, a desnutrição e imunidade comprometida, o acesso restrito a cuidados de saúde e a capacidade de testagem também são apontadas como causa. Initial plugin text "A OMS continua trabalhando em estreita colaboração para fortalecer a vigilância e abordar as lacunas relacionadas à capacidade laboratorial e de diagnóstico, bem como ao tratamento", noticiou a instituição da ONU dedicada à saúde global. Não é a primeira doença infecciosa detectada na região ao longo de quase dois anos de conflito. Antes, hospitais de Gaza também diagnosticaram surtos de poliomielite, cólera, hepatite A e sarna. O que é a síndrome de Guillain-Barré? A síndrome de Guillain-Barré é uma condição autoimune, na qual o sistema imunológico do paciente ataca parte do sistema nervoso periférico. A síndrome pode afetar os nervos que controlam o movimento muscular, bem como aqueles que transmitem sensações de dor, temperatura e toque. Isso pode resultar em fraqueza muscular e perda de sensibilidade nas pernas e/ou braços. A causa exata da síndrome de Guillain-Barré é desconhecida. Mas dois terços dos pacientes relatam sintomas de infecção nas quatro semanas anteriores. Cobertura em xeque: Guerra em Gaza e controle de informação militar desafiam jornalismo em Israel Remwar: Projeto de pesquisa desenvolvido na Noruega promete revolucionar investigações de crimes de guerra A condição não é contagiosa e, portanto, não há risco de transmissão. Esta doença é um distúrbio imunomediado, ou seja, o sistema imunológico começa a atacar estruturas do próprio corpo, segundo especialistas. Geralmente, a síndrome é provocada por um processo infeccioso anterior. O paciente poderá transmitir o vírus que desencadeou a síndrome, por exemplo, mas não a síndrome em si. Síndrome de Guillain-Barré é uma doença neurológica que provoca fraqueza muscular Arte O GLOBO A síndrome pode apresentar diferentes graus de manifestação, desde quadros leves, com apenas alteração de sensibilidade nos membros e fraqueza muscular, até graves, que incluem paralisia da face e comprometimento da respiração. Os primeiros sintomas incluem sensação de fraqueza ou formigamento. Podem começar nas pernas e se espalhar para os braços e rosto, em uma progressão ascendente. Outros sintomas incluem: dormência, comichões, dor, problemas de equilíbrio e coordenação, sonolência; dificuldade para respirar, falar e/ou deglutir; retenção urinária; aumento ou queda da pressão arterial; arritmias cardíacas; visão dupla; alteração de reflexo; confusão mental; tremores e até mesmo coma. Leia mais: Israel alega que ataque a hospital em Gaza que matou 20 pessoas tinha como alvo câmera de vigilância do Hamas A maioria dos pacientes com síndrome de Guillain-Barré se recupera. Em geral, a doença progride por um período de quatro a seis semanas. Depois, o paciente evolui com melhora lenta e gradual, mesmo sem tratamento. No entanto, o tratamento ajuda a reduzir o tempo e os danos da doença. Dados internacionais mostram que aproximadamente 50% dos pacientes se recuperam totalmente em até seis meses. Em alguns casos, pode haver sequelas como alteração na sensibilidade dos membros e dificuldades motoras. A mortalidade varia de 3% a 5%.