DF registra aumento de chamados para retirada de abelhas

Por Vítor Ventura O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) atendeu somente na última segunda-feira (25) três chamados para lidar com enxames de abelhas. Em um desses, os insetos se aglomeraram na traseira de uma moto estacionada perto do Aeroporto de Brasília. O CBMDF destaca o crescimento de casos do tipo em 2025, entre janeiro e agosto foram 4.671 ocorrências. O número representa um aumento de mais de 135% em relação ao mesmo período em 2024. Os acidentes envolvendo abelhas também aumentaram, segundo a Secretaria de Saúde (SES-DF). No primeiro quadrimestre de 2024, foram 34 ocorrências. No mesmo período em 2025, foram 43 casos, representando um aumento de 26,5%. Até o dia 23 de agosto, foram registrados 123 acidentes com abelhas no DF, conforme dados da SES-DF. A secretaria indica que o aumento de acidentes envolvendo animais peçonhentos em geral no DF pode estar associado a uma combinação de fatores ambientais e urbanos. A expansão desordenada das áreas urbanas, o acúmulo de resíduos sólidos, as alterações climáticas e a insuficiência de infraestrutura de saneamento básico são condições que possivelmente contribuem para a maior incidência desses animais em áreas habitadas. Segundo o Ministério da Saúde, as abelhas são insetos da ordem Hymenoptera, assim como as vespas e as formigas. Algumas espécies são conhecidas por produzirem o mel e viverem em colônias, com uma organização hierárquica com uma rainha, alguns machos férteis e milhares de operárias fêmeas. As abelhas operárias são as responsáveis pela defesa da colônia. Ao picar, elas perdem parte do aparato inoculador, morrendo em seguida. Este aparato possui músculos próprios e continua injetando a peçonha mesmo após a separação do resto do corpo. Próximas a um enxame, as primeiras abelhas, ao picarem, liberam um feromônio que faz com que outras ataquem o mesmo alvo, podendo ocasionar um acidente com centenas de picadas. Especialistas explicam aumento Para Luiz Lustosa Vieira, presidente da Federação de Meliponicultores do DF, um dos fatores que explicam o aumento no número de abelhas é o período de enxameação, um fenômeno natural que ocorre no ciclo de vida das abelhas, no qual uma parte da colônia, liderada pela rainha, deixa a colmeia original para formar um novo enxame. Esse processo é essencial para a reprodução e sobrevivência das abelhas, garantindo a dispersão e colonização de novos locais. Outro ponto levantado por Luiz é a condição climática no DF. “No período de seca, existe escassez de alimentos que causa a evasão das abelhas no seu habitat natural”, aponta. Junto à seca, as queimadas também contribuem para a presença das abelhas em ambientes urbanos, segundo Luiz. Roberto Montenegro, diretor-presidente da Associação de Meliponicultores do Distrito Federal (AMe-DF), afirma que a intensificação das pressões ambientais sobre o habitat natural das abelhas, especialmente no cerrado, contribui para a aparição de abelhas em ambientes urbanos. As queimadas são um dos reflexos dessas pressões. “O fogo ameaça a fauna e a flora nativas e, especialmente as abelhas, por dependerem do cerrado para viver e se alimentar. Como mecanismo de sobrevivência, os enxames abandonam as áreas de risco e migram para locais mais seguros, sendo as cidades uma das alternativas mais próximas”, explica. Além disso, Roberto destaca também a própria expansão urbana no DF, que reduz a mata nativa. “Com menos flores e locais para nidificar, as abelhas são empurradas para as cidades”, conta. Como lidar De acordo com a SES-DF, nenhum antiveneno está atualmente disponível para o tratamento de picadas de abelhas. Por isso, é importante a adoção das medidas de prevenção de acidentes, como a remoção das colônias de abelhas situadas próximas a lugares públicos ou residências. Essa remoção é conduzida pelo Corpo de Bombeiros, portanto ao se deparar com um enxame de abelhas, a recomendação é acionar o CBMDF através do número 193. Segundo Luiz, as abelhas normalmente não atacam, apenas o fazem quando se sentem ameaçadas. No entanto, é importante tomar cuidado. “O risco é ser ferroado. Se o indivíduo for alérgico, como no meu caso, deve tomar um antialérgico e tentar retirar o ferrão. O melhor mesmo é ficar longe delas”, orienta. Roberto reforça que enxames migratórios geralmente não oferecem risco, pois não têm crias ou estoque de mel para proteger. “Se o enxame estiver apenas ‘pousado’ em um local (uma bola de abelhas em uma árvore, por exemplo), ele provavelmente está apenas descansando e seguirá viagem em até três dias. Se não houver risco imediato, a melhor opção pode ser apenas aguardar”, avalia. Em casos de ataques já desencadeados de abelhas, a orientação é evitar movimentos bruscos ou agitar as mãos perto do rosto e se afastar rapidamente do local, procurando abrigo em um ambiente fechado, como uma casa ou veículo. Para o tratamento das manifestações tóxicas ocasionadas por uma ou poucas picadas, recomenda-se a retirada dos ferrões e a utilização de compressas frias e analgésicos para o alívio da dor. Em casos de reações alérgicas, múltiplas picadas ou sintomas como falta de ar, inchaço na garganta ou tontura, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente.