Galípolo reforça que juros devem permanecer em nível alto por longo período e vê dólar ‘se comportando bem’

EDUARDO SODRÉ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Gabriel Galípolo não trouxe boas notícias para um setor que anseia por crédito barato. Nesta quarta (27), o presidente do BC (Banco Central) falou a empresários do setor automotivo durante o 33º Congresso Fenabrave, realizado no São Paulo Expo, pavilhão de exposições na zona sul de SP. Galípolo reforçou que a Selic, taxa básica de juros do país, deve permanecer no patamar de 15% por um longo período, já que a convergência para o centro da meta de inflação segue lenta. O presidente do BC disse que projeções feitas para este ano -e também estudos de prazos mais longos, com foco em 2026 e 2027- indicam que os cenários futuros permanecem com inflação acima da meta anual, que é de 3%, com uma banda variável de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Em comunicados das últimas reuniões, o Copom (Comitê de Política Monetária) tem reforçado a estratégia de manter a Selic em nível elevado por um longo tempo para assegurar a convergência da inflação à meta. Para o comitê, é necessária uma política de juros em nível "significativamente contracionista" -ou seja, que contribua para a moderação do crescimento da economia- por período "bastante prolongado". O cenário preocupa os revendedores de veículos, que têm no financiamento uma das principais ferramentas de venda. Por outro lado, o câmbio dá sinais positivos, com dólar registrando quedas, o que favorece as importações de veículos e de componentes comercializados nas concessionárias. "O mercado cambial tem se comportado bem, há uma mudança na correlação entre as moedas emergentes e o dólar", afirmou Galípolo. "Historicamente, quando há um aumento na aversão ao risco, tende a ser um momento de valorização do dólar. Temos visto essa relação não funcionar muito bem." O presidente do BC chegou ao evento pontualmente às 14h. Sentou-se na primeira fila do auditório ao lado do presidente da Fenabrave, Arcelio Júnior, e aguardou o término dos anúncios publicitários para ser chamado ao palco. Foram cerca de 10 minutos de propagandas dos patrocinadores do evento. Santander, Itaú, Safra e C6 Bank estão nesse grupo, bem como a montadora Stellantis. Antes da palestra, Arcelio Júnior disse que Galípolo falaria para um público que representa mais de 8.000 pontos de venda, que geram cerca de 350 mil empregos. O evento, realizado entre os dias 26 e 28 deste mês, reúne donos de concessionárias, financeiras, fintechs e empresas de tecnologia ligadas à indústria automobilística. O presidente do BC explicou para a plateia o processo de definição da taxa básica de juros e fez analogia à medicina. "Tão importante quanto o tratamento para o paciente é explicar como ele funciona." O presidente da Fenabrave mostrou alinhamento com a Anfavea ao falar sobre a chegada de novas marcas ao mercado nacional. "Há espaço para todos, desde que com isonomia", disse Júnior. Ele comparou o momento do mercado a uma pizza do mesmo tamanho que passa a ser dividida por mais pessoas. Entre janeiro e julho, foram licenciados 1,44 milhão de veículos leves e pesados, segundo a Fenabrave. Houve crescimento de 4,12% em relação ao mesmo período de 2024.