Trocas de mensagens obtidas com exclusividade por Oeste mostram que termos como “voto auditável”, “eu autorizo” e “urnas eletrônicas” eram classificados como nocivos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e incluídos no monitoramento feito por parceiros da Corte. Em um dos grupos do tribunal — que reunia integrantes do Instituto Democracia em Xeque e servidores da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) —, Thiago Rondon, então analista colaborador, pediu que fossem rastreados “discursos perigosos” em mensagens sobre caravanas organizadas para o 7 de Setembro. Mais tarde, esse episódio seria usado como uma das justificativas para a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em outra mensagem, Rondon solicita que termos específicos sejam adicionados à “query” — nome dado à consulta de palavras-chave em bancos de dados. No caso, o banco era alimentado por publicações extraídas de aplicativos de mensagem e redes sociais. A lista incluía expressões ligadas ao pleito de 2022 e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. “Olhando o relatório/metodologia, faço uma sugestão de query para avaliação: (”urnas”) (”urnas eletronica”) (”urna eletrônica”) (”urna digital”) (”eleições presidenciais”) (”eleições 2022”) (”eleições fraudulentas”) ("fraude eleição")("fraude eleitoral")(”fraude nas urnas”) (”fraude nas eleições”) (”urna auditável”) (”urnas auditáveis”) (”urna fraudada”) (”urnas fraudada”) (”prova de fraude”) (”eleição impressa”) (”voto impresso”) (”voto auditável”) (”voto em papel”) (”voto em cédula”) (”voto de papel”) (”votação em papel”) (”votação tradicional”) (”golpe nas urnas”) (”golpe das urnas”) (”golpe na eleição”) (”golpe na votação”) (”golpe nas eleições”) (”cédula de papel”) (”cédula em papel”) (”recibo de voto”) (”anular as eleições”) (”anular os votos”) (”anular a votação”) (”contagem de votos”) (”roubaram as eleições”) (”roubar as eleições”) (”eleições anuladas”) (”eleições brasileiras”) (”inauditável”) (”novas eleições”) ("barroso") ("fachin") ("moraes") ('tse") ("tribunal superior eleitoral") ("tre") ("pesquisa eleitoral") ("artigo 142") ("art 142") ("interven(ç|c)(ã|a)o militar") ("eu autorizo"), "GLO"; "Garantia da lei e da ordem"; "Estado de Defesa"; "Estado de Emergência"; "PM and Forças auxiliares"; "Art. 136"; "Art. 137"; "Art; 144”, escreveu Rondon.” Mensagem enviada por Thiago Rondon em um dos grupos do TSE | Foto: Divulgação/Oeste Segundo apurou Oeste , o Instituto Democracia em Xeque monitorava redes como X (antigo Twitter), Telegram e Gettr — esta última já revelada na segunda reportagem da Vaza Toga 3. Naquele período, Thiago Rondon, além de desempenhar papel na AEED, também integrava a Comissão de Segurança Cibernética do TSE, da qual participavam o ministro Alexandre de Moraes e seu juiz auxiliar, Airton Vieira. Os trabalhos eram secretariados por Cristina Yukiko Kusahara, chefe do gabinete de Moraes no STF — a mesma que aparece em mensagens, já divulgadas pelos jornalistas David Ágape e Eli Vieira, dando ordens ao então assessor da AEED Eduardo Tagliaferro. comissão cibernetica tse 03-2022 Baixar Monitoramento do 7 de setembro pelo TSE A solicitação de Rondon para a adição de novos termos para a extração de dados ocorreu logo depois de Beto Vasques, do Democracia em Xeque, enviar relatórios sobre menções a ministros do TSE e do STF e ao 7 de setembro de 2022, que marcou o Bicentenário da Independência. Durante o governo Bolsonaro, a data costumava ser marcada em manifestações de apoio ao mandatário. O Democracia em Xeque não foi o único parceiro a monitorar o 7 de Setembro. Mensagens obtidas por Oeste revelam que a empresa de tecnologia Palver também desempenhava o mesmo papel em cooperação com o TSE. O monitoramento do 7 de setembro também começou em agosto de 2022. À Palver, o TSE solicitou que os funcionários envolvidos na parceria compilassem mensagens potencialmente nocivas. A rede de dados da empresa permitia identificar os grupos onde elas eram compartilhadas. Entre os conteúdos enviados ao tribunal, havia críticas a ministros do STF, manifestações de apoio a Bolsonaro e convocações para o 7 de setembro. Mensagens interceptadas por funcionários da Palver e enviadas ao TSE | Foto: Divulgação/Oeste Mensagens interceptadas por funcionários da Palver e enviadas ao TSE | Foto: Divulgação/Oeste O envio de mensagens pelos funcionários da Palver era baseado no conteúdo mais compartilhado nos grupos. Os servidores do TSE também tinham acesso a um banco de dados privado da empresa, que permitia localizar mensagens por palavras-chave e identificar em quais grupos haviam circulado. A ferramenta rastreava áudios e imagens que continham os termos buscados. No dia 7 de setembro, funcionários da Palver compartilharam impressões iniciais sobre as manifestações, relacionando o aumento de “mensagens inflamadas” contra o TSE e as urnas eletrônicas a apoiadores de Bolsonaro. Funcionário da Palver chegou a dizer que Bolsonaro havia 'atacado' o STF | Foto: Divulgação/Oeste Nos dias seguintes, continuaram enviando ao tribunal conteúdos extraídos dos grupos. Funcionários fizeram alerta sobre aumento de menções às urnas eletrônicas | Foto: Divulgação/Oeste O que é a Vaza Toga As informações e os documentos divulgados nesta reportagem, obtidos por Oeste com exclusividade, acrescentam novos e graves detalhes aos fatos que começaram a vir à luz a partir das revelações contidas em reportagens publicadas inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo , no que ficou conhecido como Vaza Toga. As primeiras denúncias foram feitas por Glenn Greenwald e Fábio Serapião, conforme registrado pela Oeste . Novos documentos comprometedores vieram à tona em apuração de David Ágape e Eli Vieira, publicadas no site Public. Leia mais sobre a Vaza Toga 3 O post ‘Voto auditável’ e ‘Eu autorizo’: os ‘termos nocivos’ que entraram na mira do TSE em 2022 apareceu primeiro em Revista Oeste .