Alta dos juros freia construção civil, mas DF ainda registra saldo positivo de empregos no setor

Mesmo com o menor volume de lançamentos desde 2021, com 1.916 unidades registradas, o Distrito Federal criou 948 novos empregos formais na construção civil no primeiro semestre de 2025. O número reflete um crescimento moderado frente à expansão regional, mas indica resiliência do mercado de trabalho local, que concentra 80 mil empregos, diante do cenário de desaceleração no Centro-Oeste. Esses dados estão em um levantamento feito pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o CBIC Indicadores Regionais Centro-Oeste. Apesar de poucos lançamentos, Brasília registrou 3.211 em vendas nesse primeiro semestre de 2025. O vice-presidente para o Centro-Oeste da CBIC, Paulo Muniz, explicou que a entidade apresenta não só indicadores do mercado imobiliário das regiões do Brasil, mas principalmente os números econômicos. Ele considera que essa é uma ferramenta muito importante para o gerenciamento das empresas no setor. “Foi concluído que nós tivemos uma pequena queda no Centro-Oeste, mas Brasília continua muito saudável”, concluiu. Ao Jornal de Brasília, a economista chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, destacou que, embora o DF tenha registrado uma queda no número de novas vagas no setor da construção civil no primeiro semestre de 2025, o mercado segue aquecido. Segundo ela, a capital gerou 948 postos de trabalho no período, número este que caiu 67,59% em comparação com o ano anterior, quando foram gerados quase 3 mil, mas que ainda demonstra um desempenho positivo na geração de empregos. “A redução está relacionada ao desempenho desigual entre os segmentos que compõem o setor”, comentou. Na construção civil, dos três segmentos que geram empregos — construção de edifícios, obras de infraestrutura e serviços especializados — o crescimento foi expressivo nos dois primeiros. Na construção de edifícios, a alta foi de mais de 130%, em obras de infraestrutura, o aumento foi de mais de 180%. Mas houve uma queda que impactou o saldo geral de vagas, de menos de 140% no setor de serviços especializados, que incluem etapas como instalação elétrica e hidráulica. Entretanto,  Ieda acrescentou que esse movimento é parte natural do ciclo produtivo. “Esses serviços costumam ser mais demandados em fases posteriores das obras. Com o avanço da construção de edifícios e da infraestrutura, é provável que o segmento volte a crescer nos próximos meses”, disse. Mas Ieda acredita que a grande preocupação do setor de construção está no impacto dos juros altos. Segundo a economista, a elevação da taxa Selic, que está em 15%, tem preocupado os empresários, por enfrentarem custos maiores para financiar empreendimentos. Além de também ser um entrave para os compradores, que têm acesso mais restrito ao crédito. “A taxa de juros está no maior nível dos últimos 20 anos. Isso desestimula novos investimentos e reduz o volume de recursos em fontes importantes de financiamento, como a poupança, que tem perdido atratividade”, ressaltou. O mercado imobiliário no DF O cenário do setor imobiliário em Brasília atualmente está equilibrado e saudável no que diz respeito à oferta e demanda, segundo Fábio Tadeu Araújo, CEO da Brain Inteligência Estratégica e consultor da CBIC. Os indicadores regionais mostraram que a cidade conta com cerca de 5.500 apartamentos novos disponíveis — considerando unidades em construção e na planta —, enquanto as vendas anuais giram em torno de 6.500 a 7.000 unidades. “Estamos vendendo mais do que temos hoje em estoque, o que só é possível porque há novos lançamentos constantes. Se o mercado parasse de lançar, esse estoque atual seria absorvido em cerca de oito meses. Isso mostra que o ritmo de vendas está aquecido e o mercado segue saudável”, explicou. Fábio também salientou que hoje existem mais famílias procurando imóveis em Brasília, do que imóveis disponíveis. Especialmente no programa Minha Casa, Minha Vida, que atualmente tem 516 unidades à venda, para atender a demanda de mais de 9.400 famílias tentando comprar um imóvel nesse segmento. “Isso representa uma demanda 18 vezes maior do que a oferta atual”, afirmou. No segmento de alto padrão, são cerca de 600 unidades em oferta, mas a procura também é maior, já que 1.800 famílias estão em busca de comprar um imovel . “Ou seja, seja no segmento de baixa renda, ou alto padrão, ou naturalmente, na classe média, existem mais bem mais compradores do que imóveis novos disponíveis para atender essa procura", salientou. Ele reforça que o mercado está muito saudável, entretanto o especialista apontou que houve uma desaceleração de aproximadamente 10% tanto no volume de lançamentos quanto de vendas, em comparação com o mesmo período em 2024. De acordo com Fábio, a motivação disso está no encarecimento do crédito e do financiamento, em decorrência da alta taxa de juros. Setor resiliente O evento de lançamento do CBIC Indicadores Regionais Centro Oeste, aconteceu na sede do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF). Segundo o presidente da entidade, Adalberto Valadão Júnior, os dados divulgados mostram um mercado resiliente, que mesmo com uma taxa de juros elevada, ainda consegue manter o número de vendas.”Estamos aguardando ansiosamente que a taxa de juros caia para que o nosso mercado possa de fato crescer com uma velocidade maior”. O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Celestino Fracon Júnior, acredita que os indicadores apontam para uma pequena diminuição no número de lançamentos, o que não quer dizer que há um desaquecimento do mercado. “Pelo contrário, nós temos hoje mais unidades em oferta do que tínhamos no final de 2024”, frisou. Ele descreveu que atualmente, Brasília tem entre 5 mil e 6 mil unidades em oferta. “Brasília, historicamente, sempre teve em torno de 9 a 10 mil. Então nós estamos com um estoque menor do que a série histórica”, acrescentou. Mas ele acredita que isso é uma excelente notícia, porque como são poucas ou médias as unidades em oferta, a tendência de valorização desses imóveis é muito grande.