Exército israelense afirma que Cruz Vermelha está a caminho para recolher corpos de mais reféns

O Exército israelense informou nesta terça-feira que a Cruz Vermelha (CICV) está a caminho para recolher os corpos de vários reféns mantidos por militantes palestinos em Gaza ao longo dos dois anos de guerra. A medida ocorre após Israel decidir não reabrir a passagem fronteiriça de Rafah entre a Faixa de Gaza e o Egito, conforme exigido pelo acordo de cessar-fogo, sancionando o Hamas por "não ter cumprido a sua parte no tratado" de devolver os corpos de todos os reféns mortos no enclave — apesar de o grupo ter sinalizado previamente que teria dificuldades para atender à demanda. Um alto dirigente do Hamas declarou à AFP que o movimento islamista palestino entregará os cadáveres de entre quatro e seis reféns na noite de terça-feira. Do cativeiro à liberdade: veja o antes e depois dos reféns israelenses libertados pelo Hamas Guga Chacra: Alegria no presente, tristeza no passado e ceticismo no futuro "As equipes do CICV estão tomando medidas para garantir que os mortos sejam tratados com respeito, incluindo providenciar sacos mortuários, veículos refrigerados e o envio de pessoal adicional para facilitar esse processo", declarou a Cruz Vermelha em comunicado. As medidas foram tomadas após avaliações de autoridades das Forças Armadas israelenses (FDI) de que o Hamas não fez esforços significativos para localizar e entregar os restos mortais, mesmo tendo informações para tal. Na segunda-feira, o grupo terrorista libertou 20 reféns vivos e transferiu os corpos de quatro reféns mortos, com 24 corpos ainda permanecendo em Gaza. Isso gerou acusações de Israel de que o grupo terrorista estava violando seu compromisso com a paz temporária. O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que se o grupo atrasar deliberadamente a entrega dos corpos, isso será considerado uma violação do acordo. "O anúncio do Hamas sobre o retorno esperado de quatro corpos hoje é um fracasso no cumprimento de compromissos", escreveu Katz no X. "Qualquer atraso ou omissão intencional será considerado uma violação flagrante do acordo e será respondido adequadamente." O Hamas admitiu que não sabe a localização dos restos mortais dos que morreram nos últimos dois anos, e negociadores afirmaram que os israelenses sabiam disso quando assinaram o plano. Initial plugin text Nesta terça-feira, o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas endereçou uma carta ao enviado especial americano, Steve Witkoff, expressando sua preocupação com o retorno dos reféns falecidos. "O que temíamos está acontecendo diante dos nossos olhos", afirmou o fórum. E, na sequência, eles instaram o enviado a "fazer tudo o que estiver ao seu alcance e a exigir que o Hamas cumpra sua parte do acordo e traga todos os reféns [mortos] restantes para casa". Contexto: Devolução incompleta de reféns e prisioneiros frustra famílias israelenses e palestinas O fórum também anunciou que realizará uma reunião de emergência devido à "violação do acordo assinado e aos temores de que os 25 reféns em cativeiro sejam sacrificados", apelando a Israel e aos mediadores para que suspendam a implementação do cessar-fogo. Ajuda do Egito Enquanto isso, equipes designadas pelo Egito — uma das nações mediadoras do armistício, ao lado da Turquia e do Catar, além dos EUA — dentro de Gaza trabalham para achar os corpos dos israelenses, segundo reportagem do canal de notícias al-Araby, do Catar. Os obstáculos enfrentados são tamanhos, dada a quantidade de escombros no território inteiramente devastado por mais de dois anos de bombardeios. De acordo com a reportagem, equipes israelenses estão consultando autoridades egípcias para resolver a questão. Entenda: Vídeo explica desafios para a paz no Oriente Médio e levanta dúvidas sobre plano de Trump para Gaza Autoridades de saúde locais informaram à Reuters, nesta terça-feira, que o primeiro grupo de corpos de palestinos mortos durante a guerra em Gaza chegou ao enclave após ser liberado por Israel. Ao todo, 45 corpos foram encaminhados ao Hospital Nasser, em Gaza. Israel ainda mantém sob custódia centenas de corpos de palestinos mortos desde 7 de outubro de 2023, incluindo combatentes que participaram do ataque e dos confrontos posteriores. Análise: Trump afirma que a guerra em Gaza terminou. Já é possível dizer isso? Para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a devolução dos restos mortais de reféns e detidos mortos durante a guerra deve levar tempo, classificando a tarefa como um "enorme desafio" diante das dificuldades para localizar os restos mortais sob os escombros de Gaza. — É um desafio ainda maior do que libertar as pessoas vivas — disse o porta-voz da pasta, Christian Cardon, acrescentando que o processo pode levar dias ou semanas, e que há a possibilidade de alguns corpos nunca serem encontrados. Israel sabia das dificuldades Durante as tratativas pelo cessar-fogo, fontes israelenses próximas às conversas indicaram à CNN que o Hamas poderia não ser capaz de cumprir a entrega dos restos mortais de todos 28 reféns que morreram após sua captura em outubro de 2023, quando o grupo atacou Israel, deixando quase 1,2 mil mortos e dando início à guerra. Segundo a CNN, o grupo não sabe onde estão os corpos de ao menos 15 dos reféns — alguns estariam enterrados sob toneladas de concreto em prédios ou túneis destruídos pelos bombardeios. Leia também: Com acordo para Gaza, Trump transforma viagem ao Oriente Médio em um espetáculo sobre si mesmo Pela proposta, composta por 20 pontos, a interrupção dos combates seria acompanhada pelo retorno dos reféns, pela libertação de prisioneiros palestinos em prisões israelenses e pela retomada da entrada de ajuda, em patamar similar ao de janeiro, quando foi firmado o último cessar-fogo, rompido dois meses depois. Esses itens fariam parte da fase inicial do plano. Como esperado, os dois lados, que conversaram de forma indireta através da mediação de Catar, Egito e EUA, entraram em acordo sobre a primeira fase do plano, voltada à interrupção dos combates, e não trataram das etapas seguintes, que incluem o futuro de Gaza. 'Medicina do cativeiro': Como é o atendimento médico aos israelenses libertados após 738 dias como reféns Ainda não há previsão para que as próximas etapas comecem a ser debatidas, em um processo que promete ser tão ou mais complexo do que o atual. O texto propõe que Gaza seja administrada inicialmente por um grupo de palestinos sem ligação com o Hamas — que seria excluído de qualquer governo futuro — ou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), sob supervisão de um órgão internacional, ainda a ser criado, e que poderia ser liderado por Trump. A presença militar israelense em Gaza não tem uma data para terminar, e a proposta da Casa Branca defendia que os prazos fossem discutidos posteriormente. O Hamas, por sua vez, exige uma saída imediata. E há uma questão existencial para os palestinos: o direito à criação de um Estado independente. Embora o plano deixe uma fresta aberta para a iniciativa, Israel e os EUA dizem que isso só poderá acontecer por meio de negociações futuras — Netanyahu e os membros de seu Gabinete afirmaram em mais de uma ocasião que não aceitarão um Estado palestino, em resposta a uma onda internacional de reconhecimentos, inclusive por potências ocidentais. Com AFP.