Hoje, não é segredo para ninguém que a imprensa brasileira dita “profissional” deixou de ser mediadora da realidade para se tornar autora de ficções politicamente convenientes. Ainda assim, há momentos em que os nossos pseudojornalistas extrapolam na criatividade, tornando simplesmente inverossímil a peça de ficção — como naqueles filmes de ação que, de tanto o protagonista realizar movimentos fisicamente impossíveis, acabam irritando o espectador. Na GloboNews, o roteirista Guilherme Balza abusou da paciência do público do canal — que até paga para consumir ficção, mas com um mínimo de aparência de verdade. Pois Balza não se conteve. Tendo o microfone na mão e as câmeras diante de si, e sabendo da expectativa dos patrões pela produção de historietas cada vez mais agradáveis ao governo lulopetista, o homem deve ter sonhado, como os jogadores pernas-de-pau diante do gol aberto: “Agora eu se consagro”. Veio então com a fantástica notícia de que, segundo as suas fontes (e que o leitor não seja maldoso de sugerir terem sido “vozes de sua cabeça”), Donald Trump teria mudado completamente sua linha de conduta em relação ao governo brasileiro, e que, nesse contexto, a Casa Branca fazia um movimento de isolar o secretário de Estado Marco Rubio . Governo brasileiro avalia que a linha de Donald Trump mudou completamente nas últimas semanas e isolou o secretário Marco Rubio. A apuração é de Guilherme Balza. ➡️ Assista à #GloboNews : https://t.co/yAMjf4cw3V pic.twitter.com/nltxt6BA16 — GloboNews (@GloboNews) October 7, 2025 Sim, o leitor não está delirando. Na ânsia de bajular o governo petista e de fabricar um cenário internacional “amistoso” para o descondenado-em-chefe, o roteirista Balza anunciou ao país o isolamento de Rubio como um sinal inequívoco de distensionamento entre Washington e Brasília. Fosse nas salas de cinema, muitos espectadores teriam se levantado nessa hora, ido embora e pedido de volta o dinheiro do ingresso, sob o argumento de que os realizadores do filme haviam mentido além da conta. “Ah, não. Aí já é demais. Não vi tanta mentira nem em Missão Impossível ou em Velocidade Máxima ” — diriam, irritados. + Leia mais notícias de Imprensa em Oeste E, com efeito, bastou uma semana para que a realidade viesse cobrir com uma pátina adicional de ridículo o que já era suficientemente pastelão. Trump, aquele mesmo que “isolava” Rubio, escalou justamente o secretário para liderar as negociações de paz no Oriente Médio — e, para completar a ironia, referiu-se a ele como “o maior secretário de Estado da história” . Que duro golpe para o roteirista! Trump, Rubio e os roteiristas da GloboNews O episódio seria apenas risível, não fosse trágico. Afinal, ele revela o estágio avançado de uma doença jornalística que mistura ideologia, preguiça e servilismo. A GloboNews definitivamente abriu mão de qualquer correspondência entre os fatos e o que dizem seus repórteres e comentaristas. Estes, ao contrário, devem ser fiéis apenas ao evangelho lulopetista, e fazer o mundo caber na caixa de interesses do Planalto . O resultado é o que se vê: o jornalismo de suposições, que transforma desejo em manchete e torcida em “análise”. Trata-se da antítese da prudência intelectual requerida para o exercício do bom jornalismo, exigência substituída pela leviandade disfarçada de expertise. Parodiando Paulo Maluf, poderíamos dizer a Guilherme Balza: “Mente, mas não esculacha”. Leia também: "Jornalismo suicida" , reportagem de Branca Nunes publicada na Edição 212 da Revista Oeste O post ‘Mente, mas não esculacha’: a ficção inverossímil da GloboNews apareceu primeiro em Revista Oeste .