Anunciada no último sábado, a decisão da montadora chinesa BYD de instalar no Aeroporto Internacional Tom Jobim seu centro de testes de carros autônomos (sem motorista) fabricados no Brasil é o exemplo de uma aposta da cidade no futuro que já chegou. O Rio quer se tornar referência no país na atração e desenvolvimento de empresas de tecnologia e serviços ligados à indústria da inteligência artificial. Para isso, a prefeitura está oferecendo redução de ISS (de 5% para 2%) a negócios neste setor que se instalarem na Zona Portuária ou àqueles que comprarem créditos de carbono para compensar suas emissões. Família busca respostas: militar da Aeronáutica é encontrado morto dentro da Base Aérea do Afonsos, na Zona Oeste do Rio Comunidades do Horto: após assinatura de acordo com Jardim Botânico, desafio é impedir expansão das construções na área Haja energia. A proposta de como ficará o data center na Barra Olímpica Divulgação Em outra frente, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) criou este ano a Unidade Parque Tecnológico (Digitech) em um prédio vizinho ao Sambódromo. Até dezembro a unidade começa a oferecer uma série de cursos para formar mão de obra especializada em programação, segurança cibernética e outras especialidades. Além disso, o governo do estado fechou na segunda-feira uma parceria com a Microsoft para a realização no Rio de cursos também para a formação de especialistas. — Além do parque tecnológico, vamos investir R$ 22,8 milhões em dois anos para financiar projetos de start-ups. As empresas serão selecionadas por editais a serem lançados a partir de 2026 — anunciou Luiz Cézio Caetano, presidente da Firjan. Ex-nômade digital. O canadense Simon Graham veio para uma temporada e ficou Reprodução Os principais projetos nesse setor vêm sendo divulgados em eventos sediados na cidade, como o Rio Summit, em abril, e o Rio Innovation Week, em agosto passado. — O Rio está se consolidando como um polo de ciência, inovação e tecnologia. Com a redução do ISS, a prefeitura dá uma vantagem competitiva em relação a outras cidades. É um passo enorme para atrair negócios e gerar empregos — avaliou o vice-prefeito, Eduardo Cavaliere. Uma dessas iniciativas é o Rio IA City, implementada para atrair empresas de data centers, instalações que armazenam e processam dados computacionais. Esse é um mercado em expansão por causa da necessidade de maior espaço virtual para reunir as informações geradas por inteligência artificial. De acordo com a prefeitura, o maior da América Latina ficará na Barra Olímpica, em um terreno nas proximidades do Shopping Metropolitano. A empresa Elea Data Centers inicia ainda este ano um plano para a expansão dos serviços. A meta é abrir oito prédios entre 2027 e 2030, que poderão consumir até 1,5 gigawatts de energia. Essa energia seria suficiente para manter os dados de 180 supercomputadores semelhantes ao Santos Dumont, do governo federal, instalado em Petrópolis. A longo prazo, o complexo poderá ser expandido para o consumo para 3,2 gigawatts. Essa tecnologia impõe a necessidade de uma imensa geração de energia. — A vantagem é que o Rio está pronto para investir em data centers. A cidade está conectada a cabos submarinos de fibra ótica (usado na transmissão das informações) com a Europa e os Estados Unidos. Há oferta abundante de energia elétrica barata e vamos compensar as emissões de carbono, tendo acesso à redução do ISS — diz Alessandro Lombardi, CEO da Elea. Supercomputador no porto Outro projeto envolve o Porto Maravalley, inaugurado pela prefeitura no Santo Cristo em 2024 para ser referência nos setores de tecnologia e inovação. O município vai licitar a compra de um supercomputador, num investimento inicial de cerca de R$ 3,5 milhões, a ser instalado no prédio em 2026. O edital exigirá que o software seja da empresa americana Nividia, líder mundial em computação e inteligência artificial. O equipamento começará processando 144 petaflops, o equivalente a 144 quatrilhões de operações por segundo. Mas, com atualizações previstas para 2027 e 2028, essa capacidade chegará a 360 petaflops. — O objetivo é oferecer esse supercomputador para universidades do Rio de Janeiro desenvolverem projetos inovadores em transporte, saúde e outras áreas estratégicas — disse a secretária municipal de Ciência e Tecnologia, Tatiana Roque. Carro sem motorista. O projeto do centro da BYD no Galeão: área de testes Divulgação O imóvel do Porto Maravalley é compartilhado pelo curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa Tech), que está em seu segundo ano no espaço, além de 60 empresas, financiadores universidades e start-ups. Em julho, a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (Coppe) abriu ali o laboratório Casulo, que presta consultoria para empresas emergentes. — Existem soluções que podem baratear projetos. A gente trabalha muito com protótipos feitos em impressoras 3D. Criamos, por exemplo, peças que passaram a fazer parte de drone usado para borrifar inseticidas em áreas agrícolas — contou a coordenadora do laboratório, Amanda Xavier. No último fim de semana, a Coppe coordenou um hackathon, eventos com programadores que são desafiados a propor soluções para problemas apresentados. No caso, o evento atendeu a demandas da Secretaria municipal de Saúde. Houve, inclusive, prêmios em dinheiro oferecidos pela Amazon, que também é usuária do Maravalley. — Um dos projetos desenvolveu com inteligência artificial um processo automático de análise de pedidos de consultas que chegam ao Sistema de Regulação (Sisreg). Outro avalia o risco de pacientes faltarem a consultas, seja pela distância ou problemas financeiros, por exemplo. Ao todo são cinco programas que vamos implantar na rede em quatro meses — prometeu a subsecretária geral da Secretaria de Saúde, Fernanda Adaães. CEO do Porto Maravalley, Pedro Barros conta que alguma start-ups nasceram no espaço: — Há muitos casos bem-sucedidos. Uma dessas empresas, por exemplo, acabou sendo comprada por um ‘‘investidor anjo’’ (que faz aportes financeiros) pela qualidade dos serviços. Longe de casa Em outra frente, a Secretaria municipal de Turismo criou o programa Nômades Digitais — pessoas que trabalham de forma remota longe de onde nasceram. O site traz informações úteis sobre locais de hospedagem mais procurados pelo público e, no caso de estrangeiros, como tirar o visto de nômade digital e emitir o CPF. O objetivo é atrair mão de obra qualificada para a cidade. Um levantamento do site thenomadworld.org estima que, mensalmente, dois mil nômades digitais se estabelecem na cidade, por um tempo médio de dois meses. No Brasil, o Rio é uma das cidades mais procuradas, ao lado de Florianópolis (SC) e Pipa (RN). Mas, no Rio, tem nômade virando nativo. — Visitei o Rio duas vezes. Pesava em mudar de vida e vim para cá. Hoje trabalho remotamente e não penso em me mudar. Aprendi a surfar, gosto de fazer trilhas e caminhadas. E até comecei a namorar uma médica carioca — contou o consultor de empresas canadense Simon Graham, de 37 anos, que se fixou em Copacabana há mais de um ano.