Com a sanção do prefeito Eduardo Paes à lei que libera a construção e ampliação de hospitais em Botafogo e Humaitá — incluindo a unidade da Prevent Senior na Avenida Pasteur, nos números 138 e 146 —, reacendeu-se o debate sobre o impacto viário e urbanístico da medida em uma das regiões mais congestionadas da Zona Sul. A proposta, aprovada pela Câmara e publicada no Diário Oficial na última terça-feira, permite a implantação de unidades de saúde com internação nos dois bairros, flexibilizando uma restrição vigente desde 1982. Comunidades do Horto: após assinatura de acordo com Jardim Botânico, desafio é impedir expansão das construções na área Perturbação do sossego: Leblon e Botafogo estão entre os lugares mais barulhentos do Rio Para o engenheiro Paulo César Pêgas, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ (Coppe/UFRJ), a localização escolhida para o hospital, no antigo prédio da IBM, é uma das áreas mais delicadas do ponto de vista da mobilidade urbana. — A Avenida Pasteur é uma via estreita, de pista simples, e já apresenta congestionamentos mesmo com baixo fluxo. É um trecho que dá acesso à Praia de Botafogo e à Rua da Passagem, duas vias com gargalos históricos — explica Pêgas. — A instalação de um hospital, mesmo sem pronto-atendimento, cria uma circulação contínua de funcionários, pacientes, prestadores e visitantes, em um funcionamento de 24 horas. Isso naturalmente pressiona ainda mais o sistema viário local. Antigo prédio da IBM, na Avenida Pasteur, em Botafogo Márcia Foletto/Agência O Globo O especialista observa que, diferentemente de um escritório como o da IBM, que funcionava em horário comercial, um hospital opera em tempo integral e com fluxos imprevisíveis. — A entrada e saída de ambulâncias, a chegada de funcionários por turnos e o movimento de visitantes geram uma dinâmica que a via não foi projetada para comportar. Será preciso repensar acessos, áreas de carga e descarga, estacionamentos e pontos de embarque e desembarque — afirma Pêgas. 'Serial killer': defesa alega que 'não há elementos robustos' sobre a participação de universitária, que confessou dois assassinatos O engenheiro ainda aponta que a prefeitura deve exigir da empresa um estudo detalhado de impacto de vizinhança e um plano de mobilidade antes da emissão do “habite-se”. — Isso gera custo: reconfiguração de semáforos, sinalização, possíveis ajustes de mão de direção. Esses custos não podem recair sobre o cidadão, mas sobre o empreendimento. É improvável que um hospital desse porte mantenha equipamentos de diagnóstico ociosos. No médio prazo, é provável que amplie serviços e atraia ainda mais usuários, elevando o fluxo na região — avalia. Moradores desaprovam Entre os moradores, a sanção da lei foi recebida com indignação. Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores de Botafogo, acusa o poder público de ceder à pressão do setor privado. — É impressionante que em 1982 o bairro já fosse considerado saturado urbanisticamente e, 42 anos depois, o poder público retroceda para atender a um lobby empresarial. Por que esse hospital não poderia ser implantado em outro bairro mais carente desse tipo de equipamento? — questiona. Guerra de expansão: em dois anos, Comando Vermelho tomou pelo menos dez favelas na Zona Sudoeste do Rio Segundo Regina, o prefeito Eduardo Paes havia se comprometido, há três anos, a não autorizar a instalação da Prevent Senior na região: — Tenho até a ata dessa reunião. Mas depois ele mudou de ideia, não sei por quê. Redes hospitalares da região A região de Botafogo e Humaitá concentra hoje algumas das principais unidades privadas de saúde da cidade, como a Casa de Saúde São José e um hospital da Rede D’Or. Em nota, o grupo Santa Catarina, responsável pelo São José, na rua Macedo Sobrinho, no Humaitá, informou que “neste momento, a Casa de Saúde São José tem em seus planos de ampliação a reinauguração de sua Maternidade e o lançamento do Câncer Center”. Já a Rede D’Or ainda não se manifestou sobre planos de novos hospitais na região. A Prevent Senior, por sua vez, ainda não divulgou o cronograma de obras nem informações sobre o início da implantação do hospital, que pretende chamar de Sancta Maggiore Mônaco, em referência ao país europeu. O projeto original apresentado em audiência pública prevê 76 leitos de internação, um centro cirúrgico com cinco salas e uma UTI com 18 leitos. Em nota, a Prevent Senior disse que "o projeto está em elaboração e, quando for apresentado à Prefeitura e demais órgãos públicos, divulgaremos os detalhes".