Mônica sob o Sol

“Não se deixem enganar: o maior mal não é cometido por vilania óbvia, mas pela quieta autossatisfação do bem-intencionado” (C. S. Lewis, Cartas de um diabo ao seu aprendiz) Foi um instante fugaz, mas deveras revelador. Durante a transmissão do discurso de Benjamin Netanyahu, no exato instante em que o premiê israelense rasgava elogios a Donald Trump, o pacificador , a jornalista Mônica Waldvogel, tomada pela fúria de quem confunde o noticiário com uma cruzada contra os inimigos políticos, deixou escapar uma soturna invocação: “Nossa Senhora… espero que o Diabo lhe…” . https://twitter.com/Biakicis/status/1977805010311545136 O áudio, captado e amplamente divulgado, rompeu o verniz do jornalismo exibicionistamente “profissional”, expondo uma alma individualmente convulsa, mas que, assim como o invocado, também é legião naquele ambiente. Graças à providencial interrupção do vazamento, não ficamos sabendo o que exatamente Mônica rogava ao diabo. O que sabemos, o que já foi consagrado em toda a literatura universal — da Bíblia a Goethe, de Dante a Baudelaire, de Thomas Mann à nossa literatura de cordel — é que Satanás nunca faz nada de graça, e que desgraça é o resultado comum a quem lhe regateia. O drama de Mônica, claro está, repete em miniatura o de Fausto : o intelectual moderno que, perdendo a fé na razão e na transcendência, busca no pacto com o Mal uma saída estética para o próprio desespero. Waldvogel, filha dileta de uma imprensa que se pretende racional e iluminista, invoca o Diabo como catarse. Eis a metáfora perfeita do jornalismo militante contemporâneo: a incapacidade de lidar com o real e a tentação de amaldiçoá-lo. + Mônica Waldvogel leva advertência por violar regra da TV Globo Há muito, a GloboNews transformou-se no púlpito laico de uma religião invertida, cujo dogma mefistofélico é a idolatria ao poder da esquerda e cujo inferno é a existência de quem o contesta. Daí a naturalidade com que uma pretensa jornalista, diante do elogio de Netanyahu a Trump, e do momento histórico do fim da guerra entre Israel e o Hamas, reage não com a razão, mas com o fígado — o órgão que mais apetece ao coisa-ruim. Em Sob o Sol de Satã , de Georges Bernanos, temos uma das descrições literárias mais assustadoras do diabo. Ao falar de suas presas, o maligno sentencia: “Vocês me trazem em sua carne obscura, a mim, cuja luz foi a essência, no tríplice recesso de suas tripas, eu, Lúcifer… eu que os arrolo, todos. Nenhum de vocês me escapa. Reconheço pelo cheiro qualquer animal do meu rebanho.” A frase, que alude à penetração sutil do Mal no cotidiano, parece descrever a reação do diabo diante de uma vulnerabilidade como a de Mônica. Pois, sem saber, a extremista de esquerda ofereceu-lhe as tripas, adquirindo a carteirinha de membro do rebanho. Erguendo a cabeça e dilatando as narinas, Satanás decerto reconheceu-a pelo cheiro. De algum modo, a tragédia do jornalismo contemporâneo, ademais de intelectual, política e moral, é também espiritual. Quando o ódio metafísico nos trai, as vestes se rasgam e a alma fraqueja. E é nesse infeliz instante que, sob o brilho negro do Sol de Satã, o homem está cego. Resta que o seu destino não é Damasco, mas o Tártaro... O post Mônica sob o Sol apareceu primeiro em Revista Oeste .