Como é o trabalho de Israel para identificar os corpos dos reféns devolvidos pelo Hamas?

Todos os oito corpos devolvidos pelo Hamas desde a última segunda-feira, quando começou a vigorar a primeira fase do acordo de cessar-fogo, foram levados para o Instituto de Medicina Forense Abu Kabir, em Tel Aviv. A instituição, responsável por examinar as vítimas do massacre de 7 de outubro, agora se prepara para receber novas remessas de restos mortais vindos da Faixa de Gaza — e estima que, embora a maioria das identificações leve algumas horas, casos mais complexos podem demorar mais de um dia. Em Gaza: 50 milhões de toneladas de escombros e falta de equipamentos desafiam busca por corpos de reféns israelenses; entenda Retaliação: Autoridades de Israel dão informações conflitantes sobre reabertura de Rafah e envio de ajuda a Gaza Depois que os corpos são transferidos, as equipes forenses iniciam imediatamente o processo de confirmação das identidades e coleta de evidências para determinar as circunstâncias das mortes. — Peço que respeitem este lugar. Peço que respeitem os mortos — gritou Lehi, integrante das Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês), na porta do instituto de medicina, segundo uma reportagem da rede americana NPR, que acompanhou a chegada de corpos de reféns israelenses em Tel Aviv. Initial plugin text Em entrevista à NPR, o rabino Weissberg relatou como alguns corpos entregues pelo Hamas, desde o ataque de 7 de outubro, chegaram em Israel. — Chegavam meninas e mulheres idosas estupradas. Soldados e cidadãos cujas cabeças foram decepadas — descreveu Weissberg, visivelmente abalado. Grande parte das pessoas envolvidas na operação de identificação dos corpos são reservistas militares. A dentista Maayan, por exemplo, identifica vítimas pelas marcas dentárias, de acordo com a NPR. — Ao lado do local de identificação, há uma sala de família para se despedir de seus entes queridos. Enquanto identificamos, podemos ouvir os gritos e o choro de uma mulher que perder seu filho ou de uma criança perdendo os pais — contou a dentista. — Enquanto isso, tentamos identificar os corpos incansavelmente, para dar aos mortos o último respeito que ninguém lhes deu. Desde segunda-feira, militantes do Hamas entregaram os restos mortais de oito pessoas. Tel Aviv confirmou que seis são israelenses e uma é nepalês; a oitava vítima ainda não foi identificada, mas não é israelense, segundo o Exército. Ainda não há informações sobre quantos corpos o grupo entregará nos próximos dias. Identificação por DNA Após a chegada ao instituto, segundo o jornal israelense Haaretz, os corpos passam por tomografias computadorizadas e exames feitos por patologistas forenses. A identificação é realizada por meio de registros dentários e análise de DNA, que fornece a confirmação definitiva. Após recuo do Exército de Israel: Hamas usa execuções públicas e entra em choque com facções para restabelecer domínio em Gaza O rabino Weissberg acrescentou que há três métodos de identificação: o reconhecimento visual, o registro dentário e o DNA — sendo o último o mais utilizado devido à mutilação de muitos corpos, inclusive de crianças. O Instituto Abu Kabir, inclusive, já possui amostras de DNA dos reféns, usadas como referência. — Há casos que podem ser resolvidos em poucas horas e outros que exigem testes muito mais abrangentes — explicou a médica Nurit Bublil, diretora da divisão de laboratórios, em entrevista ao Haaretz. Segundo ela, o sucesso do teste depende da condição das amostras, mas o foco principal são as famílias. — Ela reflete o estado do corpo. Mas nosso foco está nas famílias. Queremos dar a elas a certeza de que precisam para enterrar seus entes queridos — afirmou. "Pessoas mutiladas depois de mortas" Dentro do instituto, contêineres refrigerados abrigam dezenas de sacos mortuários. Perto dali, Avigayil, também reservista, atua na preparação dos corpos segundo as tradições judaicas. — Existe um conceito de respeito pelos mortos. É tratar cada pessoa morta com a dignidade e o respeito que gostaríamos, da mesma forma que gostaríamos quando vivos. Qualquer parte que tenha sido parte do ser humano, nós a levamos para o enterro junto com o corpo — explicou Avigayil à NPR. Mais de 20 anos para limpar: Gaza tem 14 vezes mais escombros que o total de guerras desde 2008 Para ela, "a situação está começando a piorar". — Nunca pareceu tão cruel. Estamos vendo corpos que foram mutilados depois de já estarem mortos. É mais difícil para mim entender isso — disse. O Instituto Abu Kabir já realizou centenas de identificações desde o massacre de 7 de outubro. Segundo o diretor, Chen Kugel, 55 reféns devolvidos a Israel já foram identificados desde então. — O tempo naturalmente cobra seu preço, mas, dada a vasta experiência que adquirimos, acredito que conseguiremos identificar todos — afirmou Kugel ao Haaretz. — Nunca houve um evento dessa magnitude em que 100% das vítimas foram identificadas, mas em Israel, isso aconteceu. Identificaremos todos, mas isso exigirá paciência. (Com The New York Times)