Nos dias muito quentes, o ventilador de teto na sala da escola pública em que a professora Érica Castro leciona, em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, não dá conta do calor. Por isso, ela vive para cima e para baixo com seu próprio ventilador. Além de amenizar o desconforto térmico, o aparelho serve de mote para explicar aos alunos, especialmente para quem não acredita, que, infelizmente, a crise climática é algo real. — Como todas as pessoas, os alunos também estão expostos à desinformação. Já ouvi de estudantes que o degelo das camadas polares é “fake news” e que não há aquecimento global porque o inverno foi muito frio. Eles veem essas coisas nas redes sociais, especialmente o TikTok, usado como fonte primária de entretenimento e informação — conta. O professor é um grande influenciador para crianças e adolescentes. Por isso, afirma a jornalista Clara Becker, diretora executiva do projeto de educação midiática Redes Cordiais, os docentes têm papel fundamental no combate à desinformação. Segundo ela, as principais mentiras a serem trabalhadas dizem respeito à própria existência da crise climática global provocada pela ação humana. — Além disso, circulam narrativas enganosas que distorcem o problema, como a ideia de que as mudanças climáticas não representam ameaça, de que preservar o meio ambiente seria um obstáculo ao crescimento econômico ou de que as energias renováveis são caras e pouco confiáveis. Dizem até que não há mais tempo para frear o aquecimento — observa Clara. A tarefa é dura. O professor Leandro Martins, do Colégio Estadual Abdias Nascimento, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, diz que o profissional tem o dever de orientar alunos no desenvolvimento pessoal e social. Dentro disso, está o combate à desinformação, que deve promover a formação de cidadãos críticos e éticos, ensinando habilidades de verificação de informações. — É essencial promover o letramento científico e a busca por fontes confiáveis. É preciso entender a ciência das mudanças climáticas para que possamos atuar como agentes de mudança na sociedade — diz o professor de Geografia. Neste mês, o Redes Cordiais disponibilizou, gratuitamente, na plataforma Ambiente Virtual do Ministério da Educação (Avamec), o curso “No clima certo: combatendo a desinformação climática nas escolas”, que, segundo Clara Becker, disponibiliza ferramentas práticas para introduzir o tema em sala e apresenta visão ampla sobre mudanças climáticas e formas de enfrentar a desinformação. — Os professores vão aprender conteúdos fundamentais, desde o papel da ação humana na crise até as funções de órgãos da ONU e da COP. Também vão encontrar fundamentos da desinformação, o que é, como se espalha, os impactos e como fazer uma verificação de fatos simples. Também são ofertadas aulas sobre inteligência artificial, a ascensão dos “newsfluencers” e dicas de comunicação para momentos de emergência — conta a diretora do Redes Cordiais. O curso é indicado para professores dos ensinos fundamental e médio, mas se aplica a qualquer profissional da área de educação ou mesmo comunicadores e jornalistas interessados. — Mudanças climáticas e desinformação são assuntos que podem e devem ser tratados de forma transversal nas escolas, sem a exigência de vinculação a uma disciplina — diz Becker.