Vieira e Rubio buscam destravar agenda entre Lula e Trump após meses de impasse

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, vai se reunir nesta quinta-feira com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em meio a um esforço de reaproximação entre Brasília e Washington após meses de tensão. Vieira e Rubio conversaram por telefone na semana passada, em um diálogo que durou cerca de 15 minutos, dias depois de uma ligação de meia hora entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. A conversa entre os chefes da diplomacia dos dois países tem como principal objetivo preparar o terreno para o aguardado encontro entre Lula e Trump, que deverá ocorrer nos próximos dias, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia. Segundo integrantes do governo brasileiro, o chanceler tentará assegurar que a futura reunião presidencial não se limite a gestos simbólicos, mas resulte em avanços concretos. As relações entre Brasil e Estados Unidos foram seriamente abaladas desde 9 de julho, quando Trump anunciou que os produtos brasileiros seriam sobretaxados em 50%. O mandatário americano praticamente condicionou uma negociação comercial com o governo Lula ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Vieira e Rubio devem combinar os temas a serem discutidos no encontro entre Lula e Trump. Se depender do presidente brasileiro, além do tarifaço e das sanções aplicadas a cidadãos brasileiros — como o ministro do STF Alexandre de Moraes —, os ataques de barcos venezuelanos em águas internacionais por militares americanos, a guerra entre Rússia e Ucrânia e a situação na Faixa de Gaza, após o acordo entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, também entrarão na pauta. Nas negociações, os dois países devem levar à mesa objetivos claros — e nem sempre convergentes. O governo brasileiro tentará reverter o tarifaço de 50% imposto por Washington sobre produtos nacionais, que atingiu diretamente setores como o de calçados, têxtil, de máquinas e equipamentos e de frutas. Também fará um apelo para que as sanções contra cidadãos brasileiros sejam retiradas. Já os Estados Unidos querem assegurar acesso privilegiado a minerais críticos, regras mais favoráveis às grandes plataformas de internet americanas e uma posição mais previsível do Brasil em temas geopolíticos, especialmente diante da aproximação brasileira com a China e com os países do Brics. Trump faz ameaças frequentes, incluindo a aplicação de tarifas ainda mais elevadas, caso o grupo de nações em desenvolvimento insista em reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais. Em audiência pública no Congresso, nesta quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, revelou que foi convidado pelo governo americano a conversar sobre minerais críticos e estratégicos. Lítio, níquel e terras raras, entre outros, são considerados essenciais em várias áreas, como a transição energética e as indústrias de baterias e semicondutores. Pessoas familiarizadas com o assunto afirmam que o Brasil quer deixar de ser apenas exportador de matéria-prima e passar a desenvolver cadeias produtivas locais, com transferência de tecnologia. Os Estados Unidos, porém, pressionam por acesso direto às reservas brasileiras e por acordos de fornecimento estável, dentro da estratégia de reduzir sua dependência da China. No campo digital, os Estados Unidos insistem em regras mais brandas para as big techs, buscando proteger suas empresas de uma regulação mais rígida no Brasil. O governo brasileiro, por sua vez, tenta equilibrar a atração de investimentos com a defesa da soberania de dados e o debate interno sobre tributação de plataformas digitais, um tema que desperta incômodo em Washington. Nas palavras de um importante interlocutor, na prática, o Brasil busca previsibilidade, redução de barreiras e acesso a mercados. Os Estados Unidos, influência estratégica e garantias de que o Brasil não se alinhará aos polos rivais na disputa global.