Hamas convoca moradores de Gaza a caçar 'colaboradores de Israel' em meio a disputa territorial com facções

O Hamas, que não se comprometeu publicamente a se desarmar ou ceder o poder em Gaza, vem gradualmente retomando o controle das ruas do enclave desde a assinatura da primeira fase do acordo de cessar-fogo na última sexta-feira. Após a divulgação do vídeo que mostra os terroristas executando oito pessoas em uma praça na Cidade de Gaza, o grupo pediu aos moradores que entreguem "colaboradores e mercenários ligados a Israel", sob ameaça de enfrentar a “mão severa da justiça”. As ações reacendem o temor de que o território palestino esteja caminhando para outra rodada de derramamento de sangue — mas, desta vez, em razão de conflitos internos após a retirada parcial das forças israelenses. Após recuo do Exército de Israel: Hamas usa execuções públicas e entra em choque com facções para restabelecer domínio em Gaza Entenda: Em Gaza, 50 milhões de toneladas de escombros e falta de equipamentos desafiam busca por corpos de reféns israelenses Em comunicado, a força de segurança Radaa, ligada ao Hamas, afirmou que está conduzindo uma “operação de segurança abrangente” em toda a Faixa de Gaza para atingir “aqueles envolvidos na colaboração com a ocupação e seus mercenários, e qualquer pessoa que os abrigue”, com o objetivo de “purificar a retaguarda doméstica”. “Reafirmamos que a última oportunidade para corrigir o rumo e fornecer qualquer informação disponível continua aberta para aqueles que desejam retornar ao abraço da pátria. Depois disso, não haverá escapatória da mão severa da justiça, que alcançará todo traidor e cúmplice”, acrescentou o comunicado. Initial plugin text Desde o recuo das tropas de Israel, que ainda controlam 53% do enclave, relatos de violência circulam amplamente nas redes sociais, incluindo o vídeo das execuções sumárias em praça pública, divulgado por canais ligados ao Hamas. As imagens mostram um grupo de combatentes mascarados — alguns usando faixas verdes do Hamas — executando oito pessoas vendadas em uma praça na Cidade de Gaza. Segundo o grupo, os oito eram "colaboradores e bandidos" de Israel. Sob o argumento de garantir a ordem e restaurar a lei, o grupo palestino, no poder no enclave desde 2007, anunciou uma mobilização de 7 mil homens. Combatentes das Brigadas Izzedine al-Qassam, seu braço armado, foram vistos controlando a multidão durante a entrega dos 20 reféns vivos na última segunda-feira, enquanto a polícia do território retomou patrulhas nas ruas das cidades, com agentes usando máscaras pretas e portando armas de assalto. Hamas x Dughmush O vídeo das execuções surgiu após confrontos entre combatentes do Hamas e a família Dughmush, um poderoso clã baseado na cidade de Al Sabra. O clã, segundo a rede britânica BBC, afirmou que 28 de seus membros foram mortos pelo grupo, apesar de terem recebido garantias de segurança caso se rendessem. Dia seguinte: Como é o trabalho de Israel para identificar os corpos dos reféns devolvidos pelo Hamas? A tensão aumentou rapidamente depois que dois membros das forças de elite do Hamas foram mortos a tiros por integrantes do Dughmush. Um deles era filho de um comandante sênior do braço armado do Hamas, Imad Aqel, atual chefe da inteligência militar do grupo. Os corpos foram deixados nas ruas, o que provocou indignação e levou à mobilização de centenas de combatentes. De acordo com testemunhas, o Hamas cercou uma área onde cerca de 300 homens armados do clã Dughmush estariam escondidos, portando metralhadoras e explosivos. Nesta quarta-feira, membros do Hamas mataram um integrante do clã e sequestraram outros 30. Parte do armamento utilizado pelos Dughmush teria sido saqueada de depósitos do Hamas durante a guerra. A França condenou, também nesta quarta, “energicamente as execuções sumárias perpetradas pelo Hamas nos últimos dias em Gaza”, classificando os recentes episódios armados como “especialmente preocupantes”. Um ex-oficial da Autoridade Nacional Palestina, em entrevista à BBC, expressou preocupação com uma nova escalada de violência interna. — O Hamas não mudou. Ele ainda acredita que armas e violência são os únicos meios de manter seu movimento vivo — afirmou. Anistia para gangues e reação dos EUA No último domingo, o Ministério do Interior de Gaza, controlado pelo Hamas, anunciou uma anistia para membros de gangues “não envolvidas em derramamento de sangue ou assassinatos”, válida até o próximo dia 19. Após cessar-fogo: Organizações internacionais de mídia voltam a exigir acesso imediato de jornalistas a Gaza “Todos os indivíduos envolvidos devem se entregar aos serviços de segurança dentro de uma semana para resolver sua situação legal e de segurança e encerrar permanentemente seus arquivos”, informou o ministério. A medida ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugerir que o Hamas teria recebido um “sinal verde temporário” para policiar Gaza. Em conversa com jornalistas, Trump afirmou que o grupo “matou vários membros de gangues”, o que, segundo ele, “não o incomodava”. Já o principal comandante dos Estados Unidos no Oriente Médio, almirante Brad Cooper, pediu ao Hamas que interrompa imediatamente os ataques contra civis palestinos. — Instamos firmemente ao Hamas que suspenda de imediato a violência e os disparos contra civis palestinos inocentes em Gaza — disse o chefe do Comando Central (Centcom). Cooper afirmou ainda que o grupo deve “aproveitar a oportunidade histórica para a paz” e “aderir estritamente ao plano de 20 pontos do presidente Trump e desarmar-se sem demora”. (Com AFP)