Forças do grupo terrorista Hamas entraram em confronto com grupos armados rivais em diferentes partes da Faixa de Gaza na terça-feira, um dia após a assinatura do acordo de cessar-fogo firmado com Israel. Integrantes do braço armado do Hamas conduziu execuções públicas que foram gravadas em vídeo e espalhadas nas redes sociais. Essas ações, que continuam a espalhar medo entre palestinos, fazem parte de uma disputa de poder pelo controle do enclave. O grupo islamista acusa membros das milícias rivais de serem "traidores" e aliados do governo de Israel. Entenda: Em Gaza, 50 milhões de toneladas de escombros e falta de equipamentos desafiam busca por corpos de reféns israelenses Após cessar-fogo: Organizações internacionais de mídia voltam a exigir acesso imediato de jornalistas a Gaza O acordo de cessar-fogo firmado na última sexta-feira garantiu o retorno de reféns mantidos sob poder do grupo terrorista a Israel, além da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e do recuo de tropas israelenses dentro do enclave. No entanto, esses passos acordados na primeira fase de negociações entre os envolvidos no conflito ainda estão longe de serem suficientes para garantir a paz na região. Desde a segunda-feira, quando o houve a troca de reféns por prisioneiros palestinos, o Hamas convocou cerca de 7 mil membros de suas forças de segurança para reassumir o controle sobre áreas de Gaza que haviam sido desocupadas pelas tropas israelenses. A liderança do grupo na região tem sido desafiada por vários clãs nos últimos meses, especialmente no sul do enclave palestino. E a reocupação rápida do território por parte do Hamas busca não dar espaço para os adversários controlarem a região. Saqueadores que pertencem a esses grupos rivais roubaram milhares de armas e munições dos depósitos do Hamas durante a guerra, e alguns grupos até receberam suprimentos de Israel. Veja quais são os rivais internos do Hamas: Clã Doghmush No domingo, confrontos eclodiram entre o clã Doghmush e as forças de segurança do Hamas, matando pelo menos 27 pessoas, incluindo oito membros do grupo terrorista, de acordo com o Ministério do Interior em Gaza. O clã Doghmush é um dos maiores e mais poderosos da Faixa de Gaza. O clã tem uma relação tensa com o Hamas há muito tempo, e seus membros armados já entraram em confronto com o grupo em várias ocasiões no passado. Essa grande família tem membros em várias facções do espectro político em Gaza, incluindo a Fatah e o Hamas. Mumtaz Doghmush, um importante líder do clã, liderou anteriormente o braço armado dos Comitês de Resistência Popular na Cidade de Gaza. Mais tarde, formou o "Exército do Islã", que declarou lealdade ao Estado Islâmico, e esteve envolvido no ataque transfronteiriço de 2006 que levou à captura do soldado israelita Gilad Shalit, juntamente com o Hamas. Este foi posteriormente libertado numa troca de prisioneiros. Initial plugin text Combatentes do Hamas entraram em confronto com membros do Doghmosh no domingo e na segunda-feira. Muitos membros do clã foram mortos, assim como alguns combatentes do Hamas, de acordo com fontes de segurança. Não há evidências de que Mumtaz Doghmush tenha participado dos confrontos dos últimos dias, uma vez que ele não é visto em público nem dá notícias há alguns anos. Yasser Abu Shabab Além de Doghmush, Yasser Abu Shabab, com base na área de Rafah, é o líder da milícia anti-Hamas mais proeminente e alguns de seus membros dissidentes fundaram outros grupos armados no enclave. Ele opera numa parte do sul de Gaza ainda ocupada pelas forças israelenses. Segundo a Reuters, seu grupo recrutou centenas de combatentes oferecendo salários atraentes. O seu clã é um grupo beduíno concentrado na zona oriental de Rafah e estima-se que sua força pessoal seja de cerca de 400 homens. O Hamas o acusa de colaborar com Israel, mas Abu Shabab nega. Em junho deste ano, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, admitiu que o país estava armando a milícia rival do Hamas. A informação, revelada inicialmente pela imprensa internacional, foi confirmada por Netanyahu em um vídeo publicado nas redes sociais. Na ocasião, o premier afirmou que o apoio ao grupo era uma forma de ajudar os soldados israelenses. Segundo ele, a revelação da história pela mídia "apenas ajudava o Hamas". Leia mais: Hamas convoca moradores de Gaza a caçar 'colaboradores de Israel' em meio a disputa territorial com facções Segundo o jornal americano Wall Street Journal (WSJ), o grupo — que se autodenomina “Força Popular” — já circula armado pelas ruas da região, portando fuzis M16 e Kalashnikov, armas supostamente fornecidas pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) e confiscadas de combatentes do Hamas. Acusados de saquear ajuda humanitária em Gaza, Abu Shabab admitiu em entrevista ao New York Times em novembro de 2024, ter “assumido” a distribuição de mantimentos para famílias da região. Clã al-Majida Mais um grupo grande que disputa o poder com o Hamas no enclave palestino é o clã al-Majida, que está sediado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. No início de outubro, o Hamas invadiu a área do clã para prender homens que, segundo o grupo, eram procurados por terem matado membros do Hamas. Seguiu-se um tiroteio, que resultou em várias mortes de ambos os lados, segundo o Hamas e membros do clã. Fontes próximas ao clã negam as acusações do Hamas de que seus membros tenham ligações com Abu Shabab. O líder do grupo, Hossam al-Astal, é ex-oficial do aparato de segurança preventiva palestino, foi acusado na década de 1990 de colaborar com Israel. Ele estava entre aqueles que se juntaram às milícias de Yasser Abu Shabab antes de fundar o seu próprio grupo armado em Gaza. A milícia acusa o Hamas de usar a invasão como pretexto para assassinatos seletivos, citando um documento que afirmam ter recuperado dos corpos de combatentes do Hamas mortos durante a invasão. No entanto, na segunda-feira, o chefe do clã emitiu uma declaração nas redes sociais afirmando o apoio à campanha de segurança lançada pelo Hamas para manter a lei e a ordem em Gaza, convencendo os membros do clã a cooperarem. Assim como o clã Doghmush, o clã al-Majida é formado por membros com diferentes afiliações, incluindo a Fatah e o Hamas. Rami Hellis O clã Hellis se concentra na Cidade de Gaza, com sede no subúrbio de Shejaia. Há alguns meses, um membro sênior do grupo, Rami Hellis, e Ahmed Jundeya, membro de outro grande clã de Shejaia, formaram uma milícia que atua contra o Hamas em partes de Shejaia que ainda estão sob o controle das Forças Armadas israelenses.