Artista de Jundiaí denuncia transfobia e cyberbullying após vídeo de dança viralizar Uma pessoa não-binária, de 24 anos, de Jundiaí, interior de São Paulo, denunciou casos de transfobia e cyberbullying após um vídeo seu dançando durante o Congresso de Estudos de Gênero e Interseccionalidades, na PUC de Porto Alegre (RS), viralizar na internet. Fetú Nicioli Cerioni é artista e a apresentação, chamada "A delicada dança do monstro", faz parte de sua pesquisa de mestrado no programa de pós-graduação em Artes da Cena, da Unicamp. Assista a uma parte da performance acima. Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Fetú, que usa os pronomes elu e delu, contou ao g1 que a apresentação foi publicada em sua rede social particular para fins de divulgação, no entanto, o material foi republicado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), da capital paulista, na rede social X, no dia 8 de outubro. Segundo elu, o post é ofensivo e contém a seguinte frase na legenda: "Tudo isso na PUC-RS. Às vezes, o que falta é um emprego e um Caps!". Vereador de São Paulo, Rubinho Nunes (União Brasil), fez publicação em tom ofensivo contra artista de Jundiaí (SP) Reprodução/X Até a última atualização desta reportagem, o post continuava na rede social e acumulava 885,8 mil visualizações, além de cinco mil comentários e três mil republicações. Entre os comentários, Fetú relatou ter lido frases ofensivas de incitações de ódio e violência, inclusive com teor transfóbico e misógino. Capturas destes comentários, links, perfis, entre outros registros das republicações, foram apresentados durante registro de um boletim de ocorrência por difamação contra o vereador e internautas que compactuaram com a atitude, no dia 9 de outubro. "A difusão do vídeo sem minha autorização viola meus direitos de imagem, autoria e integridade moral, configurando ofensa à honra, injúria e difamação, com potencial de dano à minha reputação, segurança e saúde mental", disse Fetú. Artista de Jundiaí (SP) denunciou pessoas que fizeram comentários ofensivos em vídeo de sua apresentação de mestrado Reprodução/X Os internautas comentaram ataques como "Essa encarnou o capeta", "Assim recrutam todo tipo de imbecil medíocre" e "Numa faculdade católica esse tipo de baixaria?". Segundo Fetú, a dança foi uma produção que se baseia na desistência de gênero, gestos de travessia e desobediência à norma. "O processo, apoiado em perspectivas transfeministas e multiespécies, apropria-se do movimento sistêmico que afasta identidades dissidentes de sua humanidade higienizada, dócil e normativa e encontra, na animalidade — ou na monstruosidade —, seu material poético de criação. Assim, pretende-se partilhar, em movimento, a beleza de experienciar o mundo fora do regime da diferença sexual (Preciado, 2022), mais do que as feridas coloniais que acompanham esse processo", explica elu em seu texto de resumo de pesquisa de mestrado. O g1 tentou contato com o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) e solicitou um posicionamento diante da denúncia, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. Nota da universidade Em nota pública, o Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp destacou que repudia discursos de ódio, assédio, constrangimento, intimidação ou incitação à violência contra pessoas, grupos e produções artísticas. "O Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp vem a público reafirmar, de forma firme e inequívoca, seu compromisso com a liberdade de expressão e com a liberdade de criação e de pesquisa artística, pilares constitucionais e acadêmicos que orientam a vida universitária." "Seguiu-se um fluxo de comentários de ódio, ataques pessoais e incitação à violência, além de questionamentos depreciativos ao papel da universidade pública e da pesquisa em artes. Há republicações não autorizadas, exposição vexatória e utilização do conteúdo fora de contexto em múltiplas plataformas, inclusive com identificação nominal, gerando risco à integridade física de Fetú Nicioli", também diz a nota. Segundo a instituição, a performance de Fetú foi orientada pela Profa. Dra. Marisa Lambert e, anteriormente, pela Profa. Dra. Silvia Geraldi, no II Congresso de Estudos de Gênero e Interseccionalidades, realizado na Escola de Humanidades da PUC-RS, no dia 23 de setembro deste ano. A apresentação integrou o Simpósio Temático e recebeu avaliação positiva dos pesquisadores que estiveram presentes. Unicamp repudiou ataques de violência contra arte e artistas após denúncia de estudante de Jundiaí (SP) Fetú Nicioli Cerioni/Arquivo pessoal "Reafirmamos que a pesquisa em artes — inclusive em formatos performativos e experimentais — é um modo legítimo de produção de conhecimento científico e crítico, submetido a protocolos acadêmicos, avaliação por pares e marcos éticos, tal como ocorre nas demais áreas. Ressaltamos que a circulação descontextualizada de obras e processos artísticos deturpa sentidos, viola direitos e empobrece o debate público. A crítica é bem-vinda quando informada e responsável; o ataque pessoal, não". A secretaria também afirmou que já entrou em contato com as instâncias competentes da Unicamp para prestar suporte jurídico e psicossocial para Fetú Nicioli, além de estar à disposição para auxiliar as autoridades na investigação do caso. A instituição ainda pontua que entrou em contato com a organização do evento para troca de informações e a adoção de medidas convergentes que preservem a segurança de Fetú e a integridade do debate acadêmico. "Recomendamos à comunidade acadêmica e ao público que preservem o ambiente de diálogo, crítica qualificada e respeito mútuo — condição sine qua non (essencial) para a vida universitária e democrática. Finalmente, reafirmamos nosso compromisso de defesa intransigente da liberdade de cátedra, de pesquisa e de expressão artística, valores que nos definem como universidade pública, gratuita, laica e de excelência", finaliza o texto. Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí