O Rioprevidência, responsável por gerir a previdência dos servidores públicos do Estado do Rio de Janeiro, investiu ao menos R$ 150 milhões, entre junho e agosto, em um fundo ligado ao grupo Master e cuja carteira é composta essencialmente por ações da encrencada Ambipar. O TCE-RJ proibiu na semana passada o Rioprevidência de realizar novos investimentos em instrumentos financeiros emitidos, geridos ou administrados pelo Master por indícios de gestão irresponsável dos recursos de aposentados e pensionistas. Segundo o tribunal, até julho, R$ 2,6 bilhões estavam em fundos administrados pelo banco. O valor é contestado pelo Rioprevidência, que cita aproximadamente R$ 960 milhões investidos. O órgão afirma ainda que não realiza investimentos em ativos do Master desde agosto de 2024. No início de junho, o Rioprevidência realizou uma operação de R$ 50 milhões, aportados no Texas I Fundo de Investimentos em Ações, administrado e distribuído pelo Master, de acordo com informe ao Ministério da Previdência Social. Naquele mês, foi efetuada outra aplicação, de valor idêntico, no mesmo fundo. Em agosto, o Rioprevidência fez mais três aportes, no total também de R$ 50 milhões. As operações ocorreram pouco antes de o Banco Central rejeitar a compra do Banco Master pelo BRB, em análise desde março. O Texas I é gerido pela BlueMac, responsável por tomar as decisões de investimento, escolhendo os ativos que compõem a carteira e executando operações do fundo. Já a Master Corretora, na condição de administradora, fica encarregada da estrutura operacional e legal do fundo, cuidando da parte contábil, documental e regulatória. Segundo o Rioprevidência, o fato de a Master atuar como administradora não implica qualquer influência sobre as decisões de investimento, que são de responsabilidade exclusiva da gestora BlueMac. Beleza. Só que a BlueMac tem o mesmo CNPJ da Macam Asset, do Banco Master. No próprio processo de credenciamento junto ao Rioprevidência, há documentos que comprovam a relação, como uma alteração no contrato social, de maio de 2024. Na ocasião, a sociedade deixou de se chamar Master Capital Asset e virou Macam. O cadastro da BlueMac na Receita Federal reforça a ligação. O endereço eletrônico registrado faz menção à Macam. As datas de abertura também coincidem: 12 de setembro de 2022. Assim como os sócios Felipe Mota e Jaguar Fundo de Investimentos e Participações. Uma consulta à carteira do fundo, na plataforma da CVM, indica ainda que o Texas I é composto basicamente por ações da Ambipar, que está à beira de ingressar com um pedido de recuperação judicial. Em crise, as ações da empresa desabaram. Outra consulta sobre o fundo, também na página da CVM, o associa a um site da Trustee DTVM, administradora de fundos citados na Operação Carbono Oculto e controlada por Maurício Quadrado, ex-sócio do banco Master. A corretora chegou a atuar em conjunto com Tércio Borlenghi Junior, controlador da Ambipar, na compra de ações da empresa. A Trustee já foi enquadrada pela CVM após o preço das ações da Ambipar dispararem em 2024. Questionado, o Rioprevidência afirma que os recursos nesses fundos nunca transitaram nem foram alocados em ativos do Banco Master, sendo direcionados diretamente aos ativos dos fundos, especificamente títulos públicos federais e ações negociadas na B3. E que o DAIR (relatório mensal encaminhado ao Ministério da Previdência) nunca apontou qualquer desenquadramento ou concentração nesses investimentos. O órgão também sustenta que a BlueMac é uma gestora independente e sem qualquer vínculo com o conglomerado Master. E acrescenta que nenhum ativo do fundo é controlado pelo Banco Master ou por seus sócios: "Como todo investimento em renda variável, o fundo apresenta variações nas cotas, que só se convertem em lucros ou perdas no momento da liquidação das posições. O fundo apresentou variação positiva nos dois primeiros meses, revertida parcialmente nas últimas semanas, em função de movimentos específicos de mercado e ativos que não têm qualquer relação com o Banco Master. Trata-se de um investimento de longo prazo, e o Rioprevidência confia na diligência da gestora para maximizar a rentabilidade ao longo do tempo".