Tuta, chefe do PCC preso na Bolívia, é transferido para presídio no interior de São Paulo

Dois meses após autorização do Tribunal de Justiça de São Paulo, o governo federal confirmou que o líder do PCC Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, foi transferido para o sistema penitenciário paulista nesta quarta-feira. Tuta foi preso em maio deste ano na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e levado pela Polícia Federal (PF) para o presidio federal de Brasília. Quem é Tuta, líder do PCC preso pela PF na Bolívia: seis codinomes, resgate de Marcola e suborno de agentes Atuação internacional: PCC já atua em 24 países, soma mais de 40 mil membros e envia drogas aos cinco continentes A operação de deslocamento ocorreu sob um esquema rigoroso de segurança, coordenado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais, por meio da Polícia Penal Federal, e contou com o apoio logístico de uma aeronave da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Marcos Roberto de Almeida, o Tuta MPSP/Reprodução Ao desembarcar no estado, Tuta foi imediatamente conduzido ao Presídio de Segurança Máxima de Presidente Venceslau II, no interior de São Paulo. O pedido de encaminhamento partiu do Ministério Público Estadual, uma vez que a unidade concentra as principais lideranças da facção no território paulista. O traficante tem duas prisões decretadas em investigações do Ministério Público de São Paulo. Ele foi um dos principais alvos da Operação Sharks, deflagrada em 2020, quando fugiu do Brasil e passou a constar como foragido na lista da Interpol. Tuta foi capturado na cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. A prisão foi efetuada pela Força Especial de Luta Contra o Crime (FELCC) da polícia boliviana. O criminoso foi preso ao tentar renovar sua cédula de identidade de estrangeiro com documentos falsos. Na ocasião da prisão, ele utilizava o nome de Maycon Gonçalves da Silva, portando uma identidade e CPF emitidos pelo Rio Grande do Sul. O alerta de foragido internacional foi acionado após consulta ao sistema da Interpol. A detenção de Tuta, condenado no Brasil a 12 anos por associação criminosa e lavagem de capitais, levantou suspeitas sobre a corrupção local. Dias após sua prisão, um major da polícia boliviana foi detido sob suspeita de oferecer proteção a Tuta no país vizinho, segundo relatos da imprensa. A volta do criminoso para o sistema prisional paulista acende um alerta de segurança para as autoridades que atuam contra o PCC. Tuta seria responsável, dentro da facção, por coordenar planos de resgate do líder máximo, Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola", e também por ações contra agentes públicos. Tuta, apontado como liderança do PCC nas ruas e número 2 de Marcola, foi entregue às autoridades brasileiras após ser preso na Bolívia Reprodução/GloboNews No Brasil, Tuta é alvo de duas ordens de prisão e foi um dos principais nomes da Operação Sharks (2020), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que mirava a cúpula do PCC, a chamada “Sintonia Final da Rua”. Na época de sua fuga, o MP-SP apontou que ele havia assumido o comando da facção após a transferência de Marcola para um presídio federal em 2019. Também foi revelado pelas investigações que Tuta teria ocupado o cargo de adido comercial no Consulado de Moçambique em Belo Horizonte (MG) entre 2018 e 2019. O cargo designa um agente diplomático não-carreira para intercâmbio econômico entre países. Quem é Tuta Assim que Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi transferido para um presídio federal em Brasília, em 2019, um vácuo de poder se instalou no PCC. Isolado no sistema mais rigoroso, o líder máximo da facção teve sua rede de comparsas que o conectava com o mundo externo abalada, e parou de cuidar do dia a dia da organização. Foi então que Tuta assumiu um protagonismo na organização criminosa. Com a autorização de Marcola, Tuta ocupou a posição de principal liderança da facção na rua. No submundo do crime, Tuta é conhecido também pelos codinomes Angola, Africano, Marquinhos, Tá bem, Boy e Gringo. Durante um bom tempo, Tuta ficou responsável por tomar as decisões estratégicas do PCC — desde controlar o fluxo de caixa até levantar informações de autoridades e policiais alvos de possíveis atentados da facção, segundo o Ministério Público de São Paulo. A decisão de colocá-lo como o novo chefe foi tomada por toda a cúpula, sem divergência. Um dos mais recentes planos de resgate de Marcola, em dezembro de 2019, ficou sob responsabilidade de Tuta. A facção já teria mapeado os arredores da penitenciária de Brasília com drones e arregimentado integrantes com conhecimentos militares. A intenção era libertar Marcola enquanto ele se deslocava para consultas e exames médicos — para conter o plano, militares do Exército reforçaram a segurança do presídio. Em 2020, Tuta fugiu do Brasil após vazar a informação de que era alvo do MP na Operação Sharks, que tentava desarticular um esquema de lavagem de dinheiro do PCC. Um ano depois, na tentativa de confundir as forças de segurança, o PCC tentou plantar informação falsa de que ele foi morto pelo tribunal do crime. Em 2021, o Ministério Público de São Paulo chegou a anunciar que Tuta foi excluído e morto pelo tribunal do crime da facção após ordenar a morte de Nadim Georges Hanna Awad Neto e Gilberto Flares Lopes Pontes, o Tobé, tesoureiro do PCC, sem aprovação formal da cúpula da facção. Mais tarde, a Promotoria descobriu que se tratava de uma contrainformação. Era a facção tentando despistar as autoridades.