Vice-presidente da Venezuela oferece aos EUA transição de governo sem Maduro, diz jornal

Delcy Rodriguez, ao lado de Nicolás Maduro, durante protestos a favor do regime chavista na Venezuela em janeiro de 2019 Luis Robayo/AFP A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, ofereceu aos Estados Unidos dois planos que preveem uma transição de governo no país sem a presença de Nicolás Maduro. As informações foram reveladas pelo jornal Miami Herald nesta quinta-feira (16). As propostas foram apresentadas no contexto da escalada de tensões entre os EUA e a Venezuela. Na quarta-feira (15), o presidente Donald Trump afirmou ter autorizado operações secretas da CIA em território venezuelano e disse estar estudando ataques terrestres contra cartéis do país. Segundo o Miami Herald, as propostas de transição de governo foram encabeçadas pela vice-presidente e pelo irmão dela, Jorge Rodríguez, atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela. As tratativas foram feitas com a Casa Branca por intermédio do Catar, com o aval de Maduro, de acordo com o jornal. A primeira proposta foi apresentada em abril deste ano, quatro meses antes de os EUA enviarem navios militares para perto da costa da Venezuela. Conforme a reportagem, o plano previa a renúncia de Maduro e o acesso do governo americano ao setor de petróleo e mineração venezuelano. Ainda segundo a proposta, Maduro poderia permanecer na Venezuela e receberia garantias de segurança. Delcy assumiria o poder e manteria o “madurismo”, ao mesmo tempo que organizaria uma transição política pacífica. Enquanto isso, os EUA retirariam as acusações criminais contra o líder venezuelano. O plano de abril foi rejeitado pela Casa Branca, segundo o jornal. À época, o secretário de Estado, Marco Rubio, teria indicado que um acordo que não previsse a mudança total de regime seria inviável. Em setembro, Delcy apresentou a segunda proposta. Desta vez, ela ofereceu um governo de transição liderado por ela e Miguel Rodríguez Torres — chavista crítico a Maduro que está exilado na Espanha. Nesse cenário, o atual presidente buscaria exílio no Catar ou na Turquia. Segundo o Miami Herald, o plano também inclui nomes de membros da oposição venezuelana na transição de governo. María Corina Machado, principal liderança opositora e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, foi excluída da proposta. Fontes ouvidas pelo jornal afirmaram que a segunda proposta também foi rejeitada. Uma autoridade da Casa Branca disse à reportagem que os EUA desconfiam que o plano manteria estruturas criminosas do governo Maduro “sob um novo disfarce”. Vale lembrar que o governo Trump acusa Maduro de liderar o Cartel de los Soles, organização que, segundo pesquisadores, não existe oficialmente como grupo estruturado. Especialistas afirmam que o chamado Cartel de los Soles é, na verdade, uma “rede de redes” que facilita e lucra com o tráfico internacional de drogas. Há indícios de que Maduro seja um dos principais beneficiários do esquema, que também contaria com a participação de militares e autoridades do governo venezuelano. Neste mês, o “New York Times” reportou que Maduro também ofereceu a Trump petróleo e minerais venezuelanos para tentar reverter a crise. A oferta foi rejeitada, e os Estados Unidos fecharam a porta diplomática para a Venezuela. Operações da CIA Donald Trump autoriza a CIA a fazer operações 'letais' na Venezuela Na quarta-feira, o presidente Donald Trump disse ter autorizado operações da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) na Venezuela. No mesmo dia, mais cedo, o jornal The New York Times afirmou que as ações autorizadas pela CIA podem incluir “operações letais” e outras iniciativas da inteligência americana no Caribe. Com isso, os alvos poderiam ser Nicolás Maduro e integrantes do governo venezuelano. Trump disse que autorizou operações secretas da CIA na Venezuela porque o país tem enviado drogas e criminosos para os Estados Unidos. Ao ser perguntado se agentes de inteligência teriam autoridade para eliminar o presidente venezuelano, ele preferiu não responder. Maduro rebateu Trump horas depois e criticou o que chamou de “golpes de Estado da CIA”. O presidente venezuelano afirmou que a população rejeita qualquer tentativa de intervenção no país. “Chega de golpe da CIA. Não à mudança de regime, que tanto nos lembra das guerras eternas e fracassadas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e assim por diante”, afirmou. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela classificou como "belicistas" as falas de Trump sobre o país. O governo afirmou ainda que os norte-americanos estão adotando políticas de "agressão, ameaça e assédio". "É evidente que tais manobras buscam legitimar uma operação de 'mudança de regime' com o objetivo final de se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos", diz a nota.