Quem é a figura histórica no quadro atrás de Vieira e Rubio em foto da reunião de hoje?

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, tiveram hoje uma aguardada reunião de quase uma hora para preparar um encontro bilateral entre os presidentes Lula e Donald Trump, em data e local ainda a serrem definidos. Foi divulgada uma foto com os dois conversando, numa imagem há muito aguardada pelo governo brasileiro após meses de desencontros entre as diplomacias brasileira e americana, com Rubio proferindo visões ideológicas contra o atual governo brasileiro, sob influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para justificar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA. Vieira e Rubio evitam falar sobre Bolsonaro e focam em comércio: veja bastidores da reunião em Washington Nota do CNU: Calculadora do GLOBO mostra seu desempenho para cada cargo A foto chamou a atenção por ter os dois principais auxiliares de Lula e Trump para assuntos internacionais diante de um quadro com uma figura histórica atrás. Quem é a pessoa retratada em uma das paredes do Departamento de Estado? A conversa privada entre Mauro Vieira e Marco Rubio ocorreu sob o olhar atento de Abraham Lincoln Itamaraty Trata-se de John Milton Hay (1838–1905), que foi um dos diplomatas e estadistas mais influentes dos Estados Unidos entre o fim do século XIX e início do XX. Ele iniciou sua carreira como secretário particular de ninguém menos que o ex-presidente Abraham Lincoln na Casa Branca, o que o levou a ver de dentro do governo um dos períodos mais importantes da História dos EUA: a guerra civil americana. Após o assassinato de Lincoln, até hoje o presidente americano mais icônico, Hay seguiu carreira diplomática e atuou também como jornalista. Ele assumiu o Departamento de Estado — que funciona como a chancelaria dos EUA — em 1898, no governo de William McKinley e permaneceu no cargo no governo do sucessor Theodore Roosevelt até a sua morte, em 1905. John Hay, diplomata icônico dos EUA retratado no quadro que serviu de cenário para o registro do encontro entre Vieira e Rubio no Departamento de Estado, em em Washington Reprodução com IA Ele é considerado o secretário que modernizou e profissionalizou a diplomacia americana, com uma visão realista da geopolítica e uma defesa do internacionalismo, que influenciaria o Departamento de Estado por décadas adiante. Os livros apontam Hay como um diplomata que exerceu papel decisivo na consolidação dos Estados Unidos como potência global. Curiosamente, em contraste com o motivo da reunião entre Vieira e Rubio, Hay foi um defensor do livre comércio, fez gestões para abrir mercados na China e participou das negociações que levaram à construção do Canal do Panamá. Como foi a reunião Após a reunião com Rubio, Vieira afirmou que o encontro foi bastante produtivo e cordial. De acordo com o chanceler brasileiro, ficou mantida a intenção de um encontro bilateral entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o americano Donald Trump em breve, em data e local a serem definidos. Questionado se a reunião entre os presidentes deve ocorrer já na próxima semana durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), Vieira não disse nem que sim e nem que não. De acordo com o ministro, está mantida a intenção de que os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Donald Trump, se encontrem em breve. Na próxima semana: Silveira diz que vai discutir com governo Trump atração de capital americano para exploração de minerais críticos no Brasil “Está mantido o objetivo de que os presidentes Lula e Trump se reúnam. Mas isso, obviamente, ainda vai ser definido pelas partes e, de acordo com a agenda dos presidentes, para um momento e local que sejam convenientes para ambos os lados”, declarou Vieira ao fazer declaração oficial à imprensa depois do encontro com o secretário Rubio. Vieira destacou que o encontro foi “muito produtivo, num clima excelente de descontração e de troca de ideias e de posições de uma forma muito clara, muito objetiva”, disse. Em sua declaração, Mauro Vieira disse que reiterou a posição do Brasil de necessidade de reversão das medidas impostas pela administração de Donald Trump. Entrevista: ‘Trump sacrifica Bolsonaro se tiver ganhos com Lula’, diz Matias Spektor, professor da FGV “Reiterei a posição brasileira, transmitida diretamente pelo presidente Lula ao presidente Trump, na semana passada, sobre a necessidade de reversão das medidas adotadas pelo governo americano a partir de julho, o que vai demandar, evidentemente, um processo de negociação a ser iniciado nos próximos dias”, declarou o ministro de Relações Exteriores. Segundo o chanceler brasileiro, representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos já estão trabalhando na montagem de uma agenda de reuniões e Vieira disse que deve manter contatos diretos com o secretário Rubio nos próximos dias “para monitorar o avanço e estabelecer prazos para novos encontros”. Vieira disse que esse foi um primeiro passo “auspicioso de um processo negociador, no qual trabalharemos para normalizar e abrir novos caminhos para as relações bilaterais”, declarou. A declaração de Vieira foi feita na Embaixada do Brasil em Washington depois do encontro com o secretário Marco Rubio. Ao todo foi uma hora de conversa - sendo 20 minutos a portas fechadas e sem assessores. O principal item da pauta foi o fim das tarifas de até 50% aos produtos brasileiros e também às restrições impostas pelo governo americano a autoridades brasileiras. Aproximação diplomática: veja fotos do encontro entre chanceler brasileiro e secretário de Trump Apesar de declarações prévias amistosas dos dois presidentes - Lula disse que não houve apenas “química” entre ele e seu colega americano, mas sim “uma indústria petroquímica”, enquanto Trump, ao lado do presidente argentino, Javier Milei voltou a lembrar da sua relação com o petista. Participaram do encontro ampliado, que durou cerca de 40 minutos, pelo lado brasileiro, a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti; os embaixadores Mauricio Carvalho Lyrio, que é Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do Brasil no BRICS; Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros; e Joel Sampaio, chefe da Assessoria Especial de Comunicação Social. Do lado americano, participaram o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, o secretário de Defesa Assistente , Michael Jensen, e assessores do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Relembre a crise Em 9 de julho, Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva informando que o Brasil seria taxado em 50%. Nela, ele relacionou as tarifas a questões políticas e cita apenas no fim do texto que é preciso "estabelecer condições justas de concorrência com seu país". Na carta, Trump critica o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e afirma que há "uma caça às bruxas" no país que deve "acabar imediatamente". A medida foi recebida com críticas pelo governo brasileiro, que passou a enfatizar princípios de soberania e reciprocidade. Trump passou a condicionar uma negociação comercial com o Brasil ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sanções foram aplicadas contra cidadãos brasileiros, entre os quais o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e sua mulher, a advogada Viviane Barci de Moraes. No começo de agosto entrou em vigor a tarifa extra de 40%, somando-se aos 10% anunciados em abril e elevando o total da tarifa para 50%. No entanto, o decreto estabelece uma longa lista de quase 700 exceções — entre os 4 mil itens que o Brasil exporta para os EUA — a essa tarifa adicional de 40%, entre elas aviões da Embraer, peças aeronáuticas (como turbinas, pneus e motores), suco de laranja, castanhas, vários insumos de madeira, celulose, ferro-gusa, minério de ferro, equipamentos elétricos e petróleo, que já vinha sendo retirado das listas de tarifas dos EUA para os países. Por outro lado, café, cacau, carne e frutas, alguns dos principais itens da pauta de exportação brasileira, não estão na lista de exceções e devem ser tarifados. Dessa forma, o tarifaço de Trump, apesar do impacto menor que o esperado devido às exceções, tem ainda potencial de afetar substancialmente as exportações brasileiras. Entretanto, após intensa negociação diplomática entre os dois países e pressão de empresas e setores que dependem da relação comercial entre ambos, Trump e Lula, em uma conversa de menos de um minuto na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, anunciaram que criaram uma iniciativa de diálogo para tratar do comércio entre as duas nações. Após alegar “uma ótima química” no encontro de Nova York, Trump ligou para Lula no dia 6 de outubro. Em pouco mais de 30 minutos de conversa não trataram do caso judicial do ex-presidente Bolsonaro e acordaram um novo encontro presidencial, em breve, sem estabelecer data ou local. Os dois presidentes ainda indicaram que seus chanceleres - Mauro Vieira e Marco Rubio - estariam à frente nas negociações. (*) Especial para O Globo