Lula elogia Chávez, faz crítica à atuação da esquerda e diz que 'extrema direita está voltando'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que a eleição de figuras da extrema direita como Jair Bolsonaro no Brasil e no mundo deve ser compreendida também a partir dos erros da esquerda. Em discurso na abertura do congresso do PCdoB, Lula elogiou os ex-presidentes de esquerda da América do Sul com os quais conviveu e citou o líder venezuelano Hugo Chávez, morto em 2012 e sucedido pelo autoritário Nicolás Maduro, que permanece no poder até hoje. — Muitas vezes, a gente costuma jogar culpa nos outros e não pensa se a gente errou. Como é que isso explica uma figura politicamente chucra como Bolsonaro virar presidente da República desse país? (...) Tive o prazer de viver na presidência do Brasil entre 2003 e 2010, no melhor momento político, ideológico e social da América do Sul, a minha convivência com Cristina (Kirchner, da Argentina), a minha convivência com Michele Bachelet, do Chile, com Tabaré (Vázquez) no Uruguai, com (Fernando) Lugo no Paraguai, com tanta gente, com Chávez na Venezuela, com Evo Morales na Bíblia, isso tudo acabou — disse Lula. Lula lembrou a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) como símbolo da cooperação regional durante seu primeiro governo e disse que as eleições mais recentes mostram que "a direita está voltando". — Nós tínhamos criado a Unasul, que era o melhor momento político da América do Sul em 500 anos de história. E não é fácil reconstruir, porque a eleição está mostrando que a extrema direita tá voltando — disse. Lula repetiu que deve ser candidato à reeleição e pediu à militância de esquerda que adequasse seu discurso ao grande público. A fala foi feita diante de ministros e de uma plateia composta por militantes e dirigentes do PCdoB, partido da base do governo e tradicional aliado de esquerda do PT. — A gente tem que calibrar o discurso para falar com a sociedade brasileira. A gente não tem que dar muita importância à Faria Lima, não. O nosso discurso é para o povo brasileiro, para aqueles que trabalham — afirmou Lula, em alusão à avenida paulistana que é sede de bancos e corretoras de investimento. O presidente, que tem feito movimentos de aproximação aos evangélicos, público majoritariamente conservador, disse que é preciso saber como falar com o segmento. — Qual é o projeto que vamos apresentar a esse país? Quando é que vamos deixar de dizer que os evangélicos são contra nós? Evangélicos não são contra nós nada. Nós é que não sabemos falar com eles. O erro está na gente, o erro não está neles — criticou Lula, que recebeu nesta quinta-feira o bispo Samuel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus. Ferreira apoiou Bolsonaro na eleição de 2022.