O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta quinta-feira, 16, a reabertura do Inquérito 4.831, que apura uma suposta interferência do ex-presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF). A decisão atende a pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Em março de 2022, durante o governo de Bolsonaro, a PF havia concluído não haver indícios suficientes e pediu o arquivamento do caso. O procedimento teve origem em abril de 2020, depois da demissão do então ministro da Justiça, Sergio Moro, que alegou ingerência política na corporação ao citar a troca do diretor-geral Maurício Valeixo. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), declarações de Moro e diálogos de WhatsApp com Bolsonaro mostram a necessidade de novas diligências para esclarecer se houve tentativa de influenciar investigações sigilosas que envolviam o então presidente, familiares e aliados. + Leia mais notícias de Política em Oeste De acordo com a PGR, mensagens de 22 e 23 de abril de 2020 mostram que Bolsonaro comunicou a Moro a decisão de substituir o comando da PF e associou a mudança a apurações em curso. Nos registros, o ex-presidente teria escrito: “Moro, o Valeixo sai essa semana”, “isto está decidido”, “você pode dizer apenas a forma” e “a pedido ou ex ofício ”. Em seguida, compartilhou notícia intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas” e, no dia seguinte, afirmou: “Mais um motivo para a troca”. A PF, contudo, concluiu em 2022 pela inexistência de elementos para prosseguir. No relatório enviado a Moraes, a corporação registrou: “No decorrer dos quase dois anos de investigação, dezoito pessoas foram ouvidas, perícias foram realizadas, análises de dados e afastamentos de sigilos telemáticos implementados, e nenhuma prova consistente para a subsunção penal foi encontrada”. A então vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, recomendou o arquivamento. Moraes acata pedido da PGR Nesta quarta-feira, a PGR sustentou que o conjunto de autos exige apuração adicional e mais ampla dos fatos. Para Gonet, é “imprescindível, portanto, que se verifique com maior amplitude se efetivamente houve interferências ou tentativas de interferências nas investigações descritas nos diálogos e no depoimento do ex-Ministro, mediante o uso da estrutura do Estado e a obtenção clandestina de dados sensíveis”. O despacho de Moraes reabre o inquérito e determina que a PF realize as diligências solicitadas. Depois da chegada das informações, os autos serão remetidos novamente à PGR , para manifestação no prazo de 15 dias. A medida retoma a fase investigativa, etapa preliminar que visa a reunir indícios por meio de oitivas, perícias e requisições de dados, sem implicar, por si, em denúncia ou reconhecimento de culpa. Segundo os documentos, o escopo inclui a análise de suposta interferência relacionada a alterações na direção-geral da PF e a pedidos de mudança em superintendências no Rio de Janeiro e em Pernambuco. A PGR também sugere como linhas de apuração o possível uso de estruturas estatais com o objetivo de acessar informações sigilosas e a eventual conexão com outras frentes investigativas, como a chamada “Abin paralela”, a propagação de desinformação e o uso do Gabinete de Segurança Institucional em investigações sobre tentativa de golpe. O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro | Foto: CAROLINA ANTUNES/PR/FLICKR O inquérito abrange, em tese, fatos que poderiam se enquadrar em crimes como falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça e corrupção passiva privilegiada. Bolsonaro negou interferência à época e afirmou que a exoneração de Valeixo, ato de competência do presidente, se deu por falta de diálogo com o diretor-geral. Moro, por sua vez, sustentou que a mudança tinha relação com o acesso a informações e a condução de investigações, o que motivou sua saída do governo e a publicização das suspeitas. Com a reabertura, a PF deverá realizar diligências complementares para esclarecer se houve, de fato, tentativas de interferir em investigações e se estruturas governamentais foram empregadas para acessar dados sigilosos. Concluída essa etapa, o material retornará à PGR, que decidirá se mantém o arquivamento, se formula denúncia ou se pede novas medidas. Leia também: “A anistia inevitável” , artigo de Augusto Nunes e Branca Nunes publicado na Edição 255 da Revista Oeste O post Moraes reabre inquérito sobre suposta interferência de Bolsonaro na PF apareceu primeiro em Revista Oeste .