O cientista político Igor Sabino afirmou que o cessar-fogo firmado entre Israel e o Hamas “é apenas a primeira fase do plano de paz”. Em entrevista ao Arena Oeste desta quinta-feira, 16, ele disse que o acordo mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, representa uma mudança significativa na geopolítica do Oriente Médio e pode abrir caminho para “a criação de um Estado Palestino”. Segundo Sabino, o entendimento entre as partes foi possível depois de “uma série de derrotas infligidas ao Hamas e ao regime iraniano”, como o enfraquecimento do Hezbollah e a queda do ditador sírio Bashar al-Assad. Ele destacou que “a maior dificuldade continua sendo o Hamas”, que ainda não devolveu todos os corpos de reféns israelenses nem aceitou se desarmar. “É necessário que o grupo terrorista devolva todos os corpos”, afirmou. + Leia mais notícias do Mundo em Oeste O diretor da StandWithUs Brasil, organização dedicada ao combate ao antissemitismo, explicou que o cessar-fogo depende do cumprimento dessas condições para avançar à segunda etapa. “A Arábia Saudita e os Emirados Árabes estão pressionando Trump, preocupados de que o Hamas não estaria disposto a se desarmar, principalmente por conta do apoio do Catar”, observou. Sabino descreveu o conflito atual como parte da luta de Israel contra o “ eixo xiita ” liderado pelo Irã. “O Irã adota como objetivo de política externa a destruição de Israel e dos EUA", afirmou. "Ele financia grupos como Hamas, Hezbollah e os Houthis.” Segundo ele, o regime iraniano “investe em repressão interna em vez de infraestrutura e energia”. O pesquisador ressaltou que o Hamas “representa o principal obstáculo à criação de um Estado palestino”. Para ele, não há como o grupo participar de qualquer solução política. “Não tem como haver um Estado palestino com o Hamas”, declarou. https://www.youtube.com/watch?v=TJNA8uER-yk Sabino classificou o ataque de 7 de outubro de 2023 como “o maior ato antissemita desde o Holocausto” e relatou que o episódio mudou o equilíbrio regional. “Os países árabes, que antes eram hostis a Israel, estavam começando a fazer paz com Israel, entendendo que o Irã era a grande ameaça”, disse. Para o cientista político, o Hamas tentou interromper o processo que começou com os Acordos de Abraão, assinados em 2020, e evitar que a Arábia Saudita se juntasse a esse movimento. “Agora vemos o Irã enfraquecido e os países árabes se aproximando de Israel”, avaliou. Sabino avalia postura do governo Lula Ao ser perguntado sobre as críticas do governo brasileiro a Israel, Sabino afirmou que há “um viés ideológico” na atual política externa. “Hoje quem manda na política externa brasileira é Celso Amorim”, disse. “Ele escreveu o endosso de um livro favorável ao Hamas, a condenação contra Israel é muito mais forte do que contra o Hamas.” Segundo Sabino, a percepção em Tel Aviv é de que a crise é “entre o governo brasileiro e o governo israelense, não entre os povos”. Ele recordou que tensões semelhantes ocorreram em gestões petistas anteriores, como em 2014. “Hoje o Brasil não tem embaixador em Tel Aviv e Israel não tem embaixador no Brasil”, afirmou. Para ele, o atual distanciamento decorre de uma visão ideológica inspirada na noção de “ sul global ”. “O Brasil se aproxima do Irã, da Rússia e da China, mas evita condenar a invasão da Ucrânia", disse. "Há um padrão duplo muito grande.” Sobre a comparação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre Gaza e o Holocausto, Sabino foi enfático: “Isso é uma grande distorção", criticou. "O que está acontecendo em Gaza é uma guerra em que Israel tenta se defender de um grupo terrorista que usa civis como escudos humanos.” Antissemitismo crescente Sabino também alertou para o crescimento do antissemitismo no mundo, acentuado depois do conflito. “Sempre é fácil encontrar um bode expiatório: os judeus”, declarou. Ele citou episódios recentes de ataques contra sinagogas e museus judaicos e afirmou que “tanto a extrema esquerda quanto grupos da direita norte-americana têm reproduzido teorias conspiratórias”. O pesquisador afirmou que há “uma grande incoerência” na aproximação entre movimentos progressistas e grupos islâmicos radicais. “Israel é o único país do Oriente Médio onde há direitos para a comunidade LGBT", afirmou. "É uma incoerência quando essa comunidade luta por grupos que iriam matá-los.” Ao final, Sabino reafirmou que o cessar-fogo depende de um passo decisivo: “O Hamas precisa se render, devolver os corpos dos reféns e abrir mão das armas", encerrou. "Só assim poderemos falar em paz.” Leia também: “O Brasil não está longe da fronteira da Faixa de Gaza” , artigo de Alexandre Garcia publicado na Edição 186 da Revista Oeste O post Cessar-fogo é ‘apenas a 1ª fase do plano de paz’, diz Igor Sabino apareceu primeiro em Revista Oeste .