O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está considerando uma reforma radical do sistema de refugiados dos EUA que reduziria o programa ao mínimo necessário, dando preferência a falantes de inglês, sul-africanos brancos e europeus que se opõem à migração, de acordo com documentos obtidos pelo The New York Times. As propostas, algumas das quais já entraram em vigor, transformariam um programa de décadas que visava ajudar as pessoas mais desesperadas do mundo em um programa que se conforma à visão de imigração de Trump — que é ajudar principalmente pessoas brancas que dizem estar sendo perseguidas, ao mesmo tempo em que mantém a grande maioria das outras pessoas de fora. Desejo presidencial: Trump planeja arco do triunfo em Washington para comemorar o 250º aniversário de independência dos EUA Veja também: Bandeira americana com suástica é encontrada no escritório de congressista republicano Os planos foram apresentados à Casa Branca em abril e julho por autoridades dos Departamentos de Estado e de Segurança Interna dos EUA, depois que o presidente americano ordenou que agências federais estudassem se o reassentamento de refugiados era do interesse dos Estados Unidos. Trump havia suspendido as admissões de refugiados em seu primeiro dia no cargo e solicitou propostas sobre como e se o governo deveria continuar com o programa. Autoridades do governo Trump não descartaram nenhuma das ideias, de acordo com pessoas familiarizadas com o planejamento, embora não haja um cronograma definido para aprovação ou rejeição das ideias. As autoridades falaram sob condição de anonimato para discutir os planos confidenciais. As mudanças propostas dariam nova ênfase à capacidade dos candidatos de se assimilarem aos Estados Unidos, orientando-os a fazer aulas sobre “história e valores americanos” e “respeito às normas culturais”. As propostas também aconselham Trump a priorizar os europeus que foram “alvos de expressão pacífica de opiniões online, como oposição à migração em massa ou apoio a partidos políticos 'populistas'”. Este item parece ser uma referência ao partido político europeu de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), cujos líderes já banalizaram o Holocausto, reviveram slogans nazistas e humilharam estrangeiros. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, criticou a Alemanha por tentar suprimir as opiniões do grupo. Um alto funcionário disse que o governo Trump estava monitorando a situação na Europa para determinar se alguém seria elegível para o status de refugiado. O funcionário falou sob condição de anonimato porque o plano ainda não havia sido finalizado. Initial plugin text Trump promulgou algumas das propostas nos documentos antes mesmo que os planos fossem submetidos a ele, incluindo a redução de admissões de refugiados e a oferta de status prioritário aos africâneres, a minoria branca que antes comandava o brutal sistema de apartheid da África do Sul. O republicano afirmou que os africâneres enfrentam "perseguição racial" em seu país de origem, uma afirmação vigorosamente contestada por autoridades governamentais locais. As estatísticas policiais não mostram que os brancos sejam mais vulneráveis a crimes violentos do que outras pessoas na África do Sul. Juntas, as propostas dão uma ideia das intenções de Trump para um programa que passou a simbolizar o papel dos Estados Unidos como um santuário. O presidente dos EUA e muitos eleitores americanos rejeitaram essa função após anos de travessias ilegais recordes na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Embora o programa de refugiados, com seus meticulosos processos de triagem e esperas de anos, seja considerado o "jeito certo" de buscar proteção nos Estados Unidos, Trump deixou claro que quer reprimir a imigração em geral — tanto legal quanto ilegal. De acordo com a justificativa apresentada nos documentos enviados ao presidente americano, a aceitação de refugiados pelos Estados Unidos tornou o país muito diverso. “O aumento acentuado da diversidade reduziu o nível de confiança social essencial para o funcionamento de uma política democrática”, segundo um dos documentos. O governo deve acolher apenas “refugiados que possam ser assimilados plena e adequadamente e que estejam alinhados com os objetivos do presidente”. Para isso, dizem os documentos, Trump deve cancelar os pedidos de centenas de milhares de pessoas que já estão na fila para ir aos Estados Unidos como refugiados, muitas das quais passaram por extensas verificações de segurança e encaminhamentos. Além disso, as agências federais do governo Trump propuseram impor limites ao número de refugiados que podem se reinstalar em comunidades que já têm uma grande população de imigrantes, com base no fato de que os Estados Unidos devem evitar “a concentração de cidadãos não nativos” para promover a assimilação. Thomas Pigott, porta-voz do Departamento de Estado, não quis comentar detalhes específicos dos documentos, mas disse: — Não deveria ser surpresa que o Departamento de Estado esteja implementando as prioridades do presidente devidamente eleito dos Estados Unidos. — Este governo prioriza, sem remorso, os interesses do povo americano. O governo abriu algumas exceções à proibição de refugiados. De acordo com os documentos, agências federais trabalharam para reassentar um número limitado de afegãos que ajudaram soldados americanos durante a guerra. Críticos dizem que os planos expõem a visão do presidente sobre como os Estados Unidos deveriam ser. — Isso reflete uma noção preexistente entre alguns no governo Trump sobre quem são os verdadeiros americanos — disse Barbara L. Strack, ex-chefe da divisão de assuntos de refugiados do Serviço de Cidadania e Imigração durante os governos Bush, Obama e Trump. — E eles acham que são os brancos e os cristãos. Initial plugin text Outras mudanças incluem uma verificação de segurança mais intensiva para refugiados, incluindo testes de DNA expandidos para crianças para garantir que elas sejam parentes dos adultos com quem estão viajando. Trump também planeja reduzir o número de refugiados permitidos nos Estados Unidos para 7,5 mil no próximo ano, uma redução drástica em relação ao limite de 125 mil estabelecido pelo governo Biden no ano passado. Trump é obrigado por lei a consultar o Congresso sobre a imposição de um limite de refugiados, mas autoridades da Casa Branca dizem que a paralisação do governo atrasou isso. Autoridades do governo ainda não terminaram de enviar propostas à Casa Branca. De acordo com um rascunho de um terceiro relatório, obtido pelo The New York Times, a proposta mais recente prevê que as embaixadas americanas encaminhem quem deve ser considerado para o status de refugiado, em vez das Nações Unidas, como é prática há muito tempo. A mudança permitiria maior controle americano sobre quem é encaminhado para o fluxo de refugiados. Na cúpula da Assembleia Geral das Nações Unidas no mês passado, Christopher Landau, vice-secretário de Estado americano, defendeu a abordagem do governo Trump durante um painel sobre políticas de refugiados. — Dizer que o processo é suscetível a abusos não é ser xenófobo, não é ser uma pessoa má ou ruim — afirmou Landau. O governo argumentou que permitir que milhares de refugiados de todo o mundo entrassem no país sobrecarregaria as comunidades americanas que já pediram recursos adicionais para ajudar o número recorde de migrantes que cruzaram a fronteira com o México durante o governo Biden. No entanto, os migrantes na fronteira buscam proteção por meio de um programa separado do dos refugiados, que muitas vezes esperam anos no exterior antes de serem avaliados para viajar aos Estados Unidos. O programa de refugiados historicamente recebeu apoio bipartidário tanto de republicanos quanto de democratas. Initial plugin text O presidente americano e o arquiteto de suas restrições à imigração, Stephen Miller, há anos buscam limitar o número de refugiados que entram nos Estados Unidos, especialmente da África ou de países de maioria muçulmana. Durante seu primeiro mandato, Trump exigiu saber em uma reunião na Casa Branca por que ele aceitaria imigrantes do Haiti e de países africanos, que ele descreveu como "países de merda", em vez da Europa. Sua administração agora parece preparada para transformar esses sentimentos em políticas. No relatório, autoridades do governo também propuseram proibir refugiados de se reinstalarem em comunidades dos EUA que solicitaram ajuda federal para auxiliar migrantes nos últimos anos. Mas muitos líderes locais e defensores dos refugiados argumentam que os refugiados não só podem se adaptar à vida nos Estados Unidos de forma eficaz, como também beneficiam as economias locais. Marian Abernathy, líder da sinagoga Judea Reform Congregation em Durham, Carolina do Norte, ajudou refugiados que se estabeleceram em sua comunidade desde 2016, incluindo uma dúzia de famílias nos últimos quatro anos de Afeganistão, Ucrânia, Haiti, Venezuela e Síria. Os refugiados trabalharam como auxiliares de enfermagem, engenheiros, motoristas de aplicativo, técnicos médicos e coordenadores de merenda em escolas locais, disse ela. — Eles vêm jantar na nossa casa — disse ela. — Nós jantamos na casa deles. Vamos a eventos juntos, frequentamos o museu. Não sinto que eles não estejam integrados. Raramente vi um grupo de pessoas que trabalha mais e quer menos esmolas.