A rejeição de um requerimento para o depoimento de José Ferreira da Silva na CPI do INSS, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marcou a vitória de uma articulação da bancada governista no colegiado. O esforço político bem sucedido representa ainda uma nova fase de aliados do Palácio do Planalto que atuam na comissão. CPI do INSS: assessor da Conafer admite ter ficado 'com um troco' ao operar dinheiro de descontos de aposentados Convocação de irmão de Lula é rejeitada: veja como votaram os parlamentares da CPI do INSS O cenário é diferente do vivenciado no início dos trabalhos, marcado por reveses. Após a instalação da CPI, o governo perdeu o controle de postos-chave do grupo devido às ausências na sessão que elegeu o presidente e o relator, em setembro. Agora, o Planalto passou a ter êxito em votações que blindam nomes próximos à base. A conhecida "lista de chamada" dos presentes tem sido o principal trunfo para evitar desgastes. Às segundas e quintas-feiras, dias de sessões, o gabinete do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), designado líder da bancada governista na CPI, entra em contato com os demais parlamentares da base para assegurar o quórum necessário para as sessões e não permitir que suplentes ligados à oposição se tornem votantes nas reuniões. Em um grupo de Whatsapp, os deputados e senadores governistas são abastecidos com resumos sobre as atividades dos interrogados e com orientações para as votações dos requerimentos. Em votações recentes, os governistas evitaram, além da convocação de Frei Chico, a quebra de sigilo da publicitária Danielle Miranda Fonteles e da sua empresa. Ela recebeu R$ 5 milhões do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "careca do INSS", entre novembro de 2023 e março de 2025. A rejeição foi importante justamente para consolidar o entedimento que preservou Frei Chico — Danielle não é formalmente investigada. A quebra do sigilo bancário do advogado Eli Cohen, autor das primeiras denúncias sobre as fraudes no INSS, também foi celebrada como uma vitória governista. Segundo parlamentares da CPI, o alvo pode ser importante para apontar desvios durante o governo Jair Bolsonaro. Na semana passada, os votos do governo impediram a quebra do sigilo bancário de Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tem sido fiador dos interesses do Executivo no Legislativo Pimenta diz que as vitórias não representem uma tentativa de "blindar" aliados. — Não queremos blindar ninguém. Mas, temos como diretriz a rejeição dos requerimentos que não tenham vínculo direto com o escopo da CPI. O Frei Chico, por exemplo, não era investigado. Não podemos fazer deste colegiado um mero palanque político; não podemos deixar que o tempo seja gasto com o desgaste de pessoas que nada têm a ver com isso — afirma. Além da estratégia para não perder votações, os governistas contam com uma espécie de "tropa de choque" que tem protagonizado embates com a oposição e se posicionado de forma mais técnica durante as sessões. Os deputados Rogério Correa (PT-MG), Dorinaldo Malafaia (PDT-AP), Orlando Silva (PCdoB-BA), além dos senadores Soraya Thronicke (Podemos-MS), Eliziane Gama (PSD-MA), Leila Barros (PDT-DF) e Randolfe Rodrigues (PT-AP), têm se colocado como responsáveis pela leitura de documentos e argumentações sobre a linha do tempo dos desvios. Para além da estratégia, governistas têm recorrido a acordos, como o firmado nesta quinta, quando base e oposição firmaram um entendimento para retirar os requerimentos de quebras de sigilo fiscal e telemático do ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi. Os pedidos incluíam o e-mail institucional do INSS e celular pessoal de Lupi, mas não foram levados à votação.