Quase 80% das pessoas mais pobres do mundo — cerca de 900 milhões — estão diretamente expostas a perigos climáticos agravados pelo aquecimento global, suportando uma “carga dupla e profundamente desigual”, advertiu nesta sexta-feira a Organização das Nações Unidas. “Ninguém está imune aos efeitos das mudanças climáticas, cada vez mais frequentes e severas, como secas, inundações, ondas de calor e poluição do ar. Mas são os mais pobres entre nós que enfrentam o impacto mais duro”, afirmou, em comunicado, Haoliang Xu, administrador interino do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Níveis de CO₂ disparam: ONU alerta para o maior aumento da história e risco de 'círculo vicioso climático' A menos de um mês da COP 30, países só entregaram 31% das promessas de corte de emissões A COP30, a cúpula climática da ONU que será realizada no Brasil em novembro, “é o momento para que os líderes mundiais vejam a ação climática como uma ação contra a pobreza”, acrescentou. De acordo com um estudo anual publicado pelo PNUD em parceria com a Iniciativa de Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford, 1,1 bilhão de pessoas — ou 18% dos 6,3 bilhões de habitantes de 109 países analisados — vivem em situação de “pobreza multidimensional aguda”, que abrange fatores como mortalidade infantil, acesso à moradia, saneamento, energia elétrica e educação. Metade dessas pessoas são menores de idade. 'Especialmente suscetíveis' A África Subsaariana e o sul da Ásia são particularmente afetados por esse tipo de pobreza e altamente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. ‘Grande entrega da COP é o casamento da economia com o combate à crise do clima’, diz diretora-executiva da conferência O relatório destaca a conexão entre pobreza e exposição a quatro riscos ambientais: calor extremo, secas, inundações e poluição do ar. “Os lares empobrecidos são especialmente suscetíveis a choques climáticos, já que muitos dependem de setores altamente vulneráveis, como a agricultura e o trabalho informal”, assinala o documento. “Quando os perigos se sobrepõem ou ocorrem repetidamente, agravam as privações existentes”, acrescenta. Como resultado, 887 milhões de pessoas — quase 79% dessas populações pobres — estão diretamente expostas a pelo menos uma dessas ameaças, sendo 608 milhões afetadas pelo calor extremo, 577 milhões pela poluição, 465 milhões por inundações e 207 milhões por secas. Inundações deixam 60 mortos na Índia; buscas por desaparecidos continuam Aproximadamente 651 milhões de pessoas estão expostas a pelo menos dois desses riscos, 309 milhões a três ou quatro, e 11 milhões de pessoas pobres já experimentaram os quatro em um único ano. “A pobreza concomitante e os perigos climáticos são claramente um problema global”, afirma o relatório. Com o aquecimento global, é provável que a situação piore ainda mais, e especialistas alertam que os países mais pobres de hoje serão os mais afetados pelo aumento das temperaturas.