Em encontro com Rubio, Vieira divide tarefas em negociações com EUA para reverter tarifaço de Trump; entenda

Na reunião realizada na quinta-feira, em Washington, com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ficou acertado que temas comerciais, como o próprio tarifaço e a investigação contra o Brasil aberta pela Seção 301 da legislação de comércio americana, passarão a ser conduzidos pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) e pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. Já questões políticas e diplomáticas, como as sanções impostas a cidadãos brasileiros e a situação envolvendo os Estados Unidos e a Venezuela, permanecerão sob responsabilidade de Vieira e Rubio. Em 9 de julho deste ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, que se somou à tarifa de 10% já aplicada a todos os países que fazem comércio com os americanos. Trump havia condicionado uma negociação comercial com o Brasil ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O governo brasileiro reagiu, afirmando que Trump interferia em assuntos internos e que os poderes no país são independentes. Vieira pediu a suspensão do tarifaço, enquanto durarem as negociações entre os dois países. Com isso, o chanceler reiterou o pedido feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa telefônica com Trump, há pouco mais de uma semana. Já a investigação com base na Seção 301 foi aberta por Washington, também em julho deste ano, sob o argumento de que o Brasil adota práticas comerciais “desleais”. O relatório preliminar inclui uma ampla gama de temas, que vão do desmatamento e da corrupção à regulação de meios de pagamento, como o Pix, passando pelo comércio de produtos falsificados na Rua 25 de Março, em São Paulo, e pelas políticas de biocombustíveis e etanol. Caso sejam comprovadas irregularidades, o processo pode resultar em novas sanções e restrições comerciais. O governo brasileiro afirma que não há concorrência desleal com empresas americanas. No caso do Pix, por exemplo, um dos argumentos é que esse meio é rápido, eficiente e não tem por objetivo concorrer com grupos de cartão de crédito originários dos EUA. As delegações também discutiram os preparativos para o primeiro encontro entre os presidentes Lula e Trump. Embora ainda sem data confirmada, os dois lados consideraram a possibilidade de que a reunião ocorra à margem da Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, no fim deste mês. Durante a conversa, nenhuma das partes mencionou Bolsonaro, condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. O foco foi dar início às negociações para um acordo comercial com os Estados Unidos. Para diplomatas brasileiros, a reunião em Washington representa um passo inicial, mas importante, na tentativa de reconstruir as pontes entre Brasília e Washington. Os próximos movimentos devem envolver encontros técnicos entre negociadores dos dois países, voltados para definir prazos e condições para a revisão das tarifas e o avanço de temas estruturais da relação bilateral. Nos bastidores, prevalece a avaliação de que o clima foi construtivo, ainda que cauteloso. O governo Lula aposta que a reaproximação poderá abrir caminho para medidas concretas nos próximos meses — e reduzir o peso de disputas políticas e comerciais que, nos últimos anos, prejudicaram a relação entre Brasil e Estados Unidos.