Fãs de Liam Payne mantém memoriais em Buenos Aires um ano após morte do cantor

Os fãs de Liam Payne corriam em círculos por Buenos Aires em outubro passado, na esperança de ver o ex-astro do One Direction, mas sem saber exatamente onde ele estava hospedado. Tudo mudou quando surgiu a notícia de que Payne havia morrido após cair da sacada do terceiro andar de um hotel em uma área badalada da capital argentina. Em poucos minutos, eles se aglomeraram no local. O que antes era uma busca pelo ídolo rapidamente se transformou em uma missão diferente: criar um lugar onde os fãs pudessem homenagear sua vida. A tristeza repentina tomou forma em velas e flores do lado de fora do Hotel CasaSur Palermo, logo se tornando um esforço coordenado para manter um altar. Por um ano inteiro, fotos de Payne perduraram, junto com cartas escritas à mão e balões com números contando os meses desde sua morte. — Somos como as fadas do Liam — diz Valeria Riosa, de 46 anos, cabeleireira que lidera uma comunidade de centenas de fãs, a maioria mulheres e principalmente da América Latina. A espécie de vigília começou como um grupo de WhatsApp e se transformou em uma conta no TikTok e uma página no Instagram. Riosa e outros visitam várias vezes por semana o memorial, que fica em volta de uma árvore alta perto do hotel. Às vezes, viajam por horas em transporte público. — Algumas pessoas vêm para os eventos de aniversários mensais, mas nós estamos sempre aqui — diz ela enquanto outros fãs cuidadosamente tiram o pó de fotos plastificadas, arranjam flores e limpam amuletos. Fãs mantém memorial para Liam Payne, em frente ao Hotel CasaSur Palermo, em Buenos Aires, Argentina Sarah Pabst/The New York Times Luana Soledad Bustamante, de 26 anos, lidera outro grupo de fãs que montou um memorial no cemitério de Buenos Aires, onde o corpo de Payne foi preparado antes de ser repatriado para a Inglaterra. O santuário fica nos fundos de um grande cemitério a cerca de 3 km do hotel. Há um banco verde cercado por flores e cata-ventos, com uma placa dourada com uma citação do One Direction. Uma caixa de correio próxima está repleta de dezenas de cartas de fãs. Bustamante e um amigo arrecadaram doações do mundo todo para juntar os US$ 400 necessários para o memorial. Quando foi inaugurado este ano, fãs da Turquia e do Japão participaram da transmissão ao vivo para ouvir as palavras de um padre e um discurso dos organizadores. — Todos nós choramos — ela lembra. — Foi muito íntimo. Sucesso e vício Em 2010, Payne participou do reality show "The X Factor" e saiu como parte da boy band de cinco integrantes One Direction. O grupo vendeu dezenas de milhões de discos antes de se separar em 2016, quando Payne e seus companheiros de banda seguiram carreira solo. "Strip That Down", seu primeiro single, subiu nas paradas. "Sabe, eu costumava estar no 1D, agora estou fora, livre", cantou Payne. "Eu só quero me divertir e ficar agitado com Coca-Cola e Bacardi." Payne, que tem um filho de 8 anos, falava abertamente sobre sua luta contra o vício. Embora tenha passado alguns meses em reabilitação nos Estados Unidos em 2023, ele teve uma recaída no ano passado em uma viagem à Argentina, onde ele estava em parte para ver seu ex-colega de banda Niall Horan se apresentar. Morte e investigação Na tarde de 16 de outubro de 2024, Payne foi visto embriagado no saguão do hotel. Funcionários o levaram para o andar de cima e, pouco depois, ele caiu de uma janela em um pátio interno. Um laudo toxicológico revelou altos níveis de álcool e cocaína, além de antidepressivos prescritos. Cinco pessoas foram inicialmente indiciadas no caso, mas três foram inocentadas das acusações de negligência em maio. Um funcionário do hotel e um garçom local ainda são acusados ​​de fornecerem repetidamente narcóticos a Payne, de 31 anos, durante sua estadia de quatro dias no hotel. Se condenados, eles podem pegar penas de quatro a 15 anos de prisão. O advogado do garçom, Braian Paiz, disse que seu cliente foi vítima de uma "caça às bruxas", descrevendo-o como bode expiatório por ser de baixa renda. "Os mais poderosos continuam em liberdade", disse o advogado, Fernando Madeo Facente. Andrés Madrea, promotor que liderou o caso em seus estágios iniciais, credita aos fãs a ajuda na reconstrução dos eventos que levaram à morte de Payne. Além dos métodos tradicionais de investigação, as autoridades se basearam nas informações que os fãs obtiveram monitorando o paradeiro de Payne na cidade. "Dois universos se fundiram", disse ele. Cartas para a família Bustamante, uma das fãs que entrou em contato com Madrea, também organizou eventos para homenagear Payne durante os primeiros dias de choque. Ela ajudou a montar um álbum de cartas para a família Payne e o entregou pessoalmente ao pai do cantor quando ele a visitou para preencher a papelada e prestar depoimento aos investigadores. Fãs mantém memorial para Liam Payne, em frente ao Hotel CasaSur Palermo, em Buenos Aires, Argentina Sarah Pabst/The New York Times Fãs que moravam longe de Buenos Aires enviavam suas mensagens para a família via WhatsApp, e Bustamante e sua amiga as escreviam meticulosamente à mão. — Para muitos fãs, ir aos memoriais ainda é muito doloroso — diz Bustamante. — Mas me proporcionou essa amizade e momentos coletivos. Além de manter o memorial do cemitério limpo e organizado, Bustamante agora gerencia as cartas colocadas na caixa de correio. Ela espera enviá-las à família Payne em breve com a ajuda da Embaixada Britânica local. Bustamante também coordena uma rede de fãs ao redor do mundo. Muitos deles arrecadaram doações para crianças com câncer e presentes de Natal para comunidades de baixa renda, seguindo a generosidade que disseram ter aprendido com Payne. No memorial do hotel, Patricia Bogataj, de 62 anos, disse a música de Payne e suas transmissões ao vivo no Instagram durante a pandemia do coronavírus animavam seu espírito, num período em que ela trabalhava duro como profissional de saúde. — Encontrei um grupo de apoio, eles entendem como me sinto — diz Bogataj sobre a equipe do memorial. Ser uma fã mais velha do One Direction não foi um problema. Ela se lembra com orgulho de ter assistido a um show de Harry Styles com os netos de uma amiga, todos na casa dos 20 anos. Ali perto, a integrante mais jovem da equipe, Rufina Gómez, de 10 anos, ajuda sua mãe a segurar uma grande capa de plástico para proteger o memorial das chuvas de primavera que se aproximavam. Romina Gómez, de 49 anos, diz que encontra conforto simplesmente por estar perto do local onde Payne foi visto vivo pela última vez. — Vou ficar aqui para sempre, enquanto puder — diz ela. — Pode parecer loucura, mas eu sei que ele está aqui.