Universidade na Inglaterra quer ‘decolonizar’ O Senhor dos Anéis

Um curso de história da Universidade de Nottingham , na Inglaterra, se propõe a analisar O Senhor dos Anéis sob a ótica da "decolonialidade". Intitulado "Decolonising Tolkien et al", o módulo se baseia em uma teoria de que os orcs e outros personagens de pele escura nos livros de J.R.R. Tolkien são vítimas de "chauvinismo étnico", segundo apuração do jornal Daily Mail . O historiador Onyeka Nubia, responsável pelo curso, afirma que os povos do leste no universo de Tolkien costumam ser mostrados como vilões, enquanto os habitantes do oeste, de pele mais clara, são associados à virtude. Segundo o texto-base do curso, grupos como os Easterlings, os Haradrim e homens de Harad são apresentados de maneira desfavorável, o que reforçaria visões negativas sobre populações não europeias. + Leia mais notícias de Cultura em Oeste Os estudos em "decolonialidade" se propõem a afastar uma alegada "visão de mundo branca" e centrada no Ocidente . O conceito se popularizou também nas universidades brasileiras. Sauron corrompeu a Floresta das Trevas, originalmente chamada de Grande Floresta Verde | Foto: Reprodução A própria palavra "decolonialidade", entretanto, é um anglicismo, uma importação direta do inglês. O termo original do português seria algo como "descolonialidade" ou "descolonização". Comumente, promotores de "estudos decoloniais" baseiam-se em teóricos europeus como Karl Marx, da Alemanha, e Michel Foucault, da França. O material do curso destaca que os orcs, criaturas de pele escura e associadas ao mal, servem a Sauron, conhecido como "Senhor do Escuro". O texto argumenta que O Senhor dos Anéis perpetua uma tradição de "antipatia anti-africana", na qual populações africanas seriam vistas como inimigas naturais dos europeus. Tolkien era católico e imprimiu conceitos da teologia em sua obra. Uma dessas aplicações é a dualidade entre luz e trevas, cuja presença é constante no texto bíblico. Em O Silmarillion , o autor revela que Sauron foi um ser angelical se tornou o principal antagonista na Terra-Média. Originalmente chamado de Mairon, ou "o Admirável", na língua dos elfos, seu nome foi alterado para Sauron, ou "o Abominável", como Lúcifer se tornou Satanás. C. S. Lewis, Tolkien e Chesterton foram todos inspirados por um escritor. Suas obras moldaram O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia e inúmeros outros contos. Aqui está o escritor por trás dos escritores. E seus livros que inspiraram os maiores pensadores do século XX... ? pic.twitter.com/IQU9Bzx5FT — Bruxão petersoniano (@aassibarreto) July 23, 2025 Além de O Senhor dos Anéis , Nárnia entra na mira O curso amplia o debate para outras obras, como As Crônicas de Nárnia , de C.S. Lewis, especialmente O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa , primeiro livro da série na ordem de publicação. Na obra de Lewis, o povo da Calormânia, ao sul de Nárnia, é caracterizado por traços considerados estereotipados, por serem descritos como um povo “cruel”, com “longas barbas” e “turbantes alaranjados". A retratação mais extensa de Lewis sobre os calormanos se dá em O Cavalo e Seu Menino , que tem uma princesa calormana entre os protagonistas. Ilustração original, de Pauline Baynes, do tisroc, título dado ao rei da Calormânia | Foto: Reprodução Os alunos do curso em Nottingham também aprenderão a “repovoar” o cânone literário do folclore britânico, segundo o jornal The Telegraph . O professor Nubia forneceu artigos que afirmam que a Inglaterra medieval tinha populações diversas, mas que o chauvinismo étnico era evidente na literatura — incluindo em Paraíso Perdido , de John Milton — e que o tema persistiu nas obras de Tolkien e Lewis. O historiador afirma ainda que Shakespeare colaborou para criar a ideia de um "passado inglês fictício e monoétnico", já que suas peças não fazem referências claras a africanos vivendo na Inglaterra, o que contribuiria para a "ilusão" de homogeneidade racial no país. Segundo os argumentos do módulo, esse padrão de exclusão se manteve em diferentes períodos da literatura britânica. I didn't take a "Decolonising Tolkien" course, but I was also told during a MANDATORY Critical Theory module (at UCD) that Tolkien's portrayal of orcs was racist, as was the connection between 'darkness' and evil. People have no idea of the rot at third level institutions. https://t.co/TBldr2Wifu — Jason Osborne (@JasonOsborne_GM) October 17, 2025 Repercussão e críticas a abordagens acadêmicas Nottingham não é a única universidade inglesa a promover conteúdo abertamente woke . Recentemente, uma aula na Universidade de Leicester equiparou o estilo de liderança de Margaret Thatcher ao de Adolf Hitler em uma aula de administração de empresas, realizada na última segunda-feira, 13. Slides mostravam ainda Donald T rump como um líder empresarial "terrorista", ao lado figuras como Osama Bin Ladenr. De acordo com um estudante ouvido pelo jornal The Sun , "Ninguém entende por que estão indo tão longe para fazer essas comparações." A Universidade de Leicester justificou a abordagem, dizendo que o objetivo era explorar "como os quadros teóricos se relacionam com uma série de pessoas conhecidas". O ex-secretário da Educação, o conservador Gavin Williamson, criticou fortemente a aula. "É completamente inadequado e uma comparação chocante", afirmou em entrevista. "Margaret Thatcher foi uma de nossas maiores líderes e é chocante que esse professor tenha feito isso, devendo imediatamente retirar as declarações e pedir desculpas." 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