Uma semana abalada, transtornada e perdendo noites de sono. Este é o quadro enfrentado pela mulher de 48 anos que acusa um policial de estupro durante uma blitz, em Pernambuco. A vítima afirma que foi violentada na noite da última sexta-feira quando viajava de carro com uma amiga e as duas filhas, de 14 e 16 anos. Conforme o relato, um dos policiais a levou para o posto do Batalhão da Polícia Militar Rodoviária (BPRv) e cometeu o ato criminoso. O suspeito identificado como Luciano Valério de Moura está preso desde quarta-feira, mas nega ter cometido o crime. Cachoeira Seca: Povo Arara sofre com invasões e desmatamento no Médio Xingu (PA), alertam entidades Metanol: Família de mulher que chefiava fábrica clandestina é alvo de nova operação da Polícia Civil A advogada Maria Júlia Leonel, que representa a vítima, afirmou ao GLOBO que sua cliente "Está extremamente abalada" e de uma série de procedimentos pelos quais precisou passar durante o processo de denúncia e investigação. O caso aconteceu por volta das 22 horas na cidade de Cabo de Santo Agostinho. A vítima, detalha a advogada, seguia em direção a uma casa na Praia de Gaibu após buscar a amiga no Aeroporto do Recife. — Ela está passando por uma série de transtornos e está sem conseguir dormir desde o dia do fato. Também foi muito ruim a forma como o caso foi conduzido logo que tomou repercussão pública. Inicialmente, a investigação estava com a Polícia Civil, mas depois foi para a Polícia Militar e, nessa ida para o Departamento de Polícia Jurídica Militar (DPJM), houve muita revitimização — relata a advogada. Maria explica que o espaço não possuía infraestrutura apropriada para receber a mulher: — Entramos em um batalhão em que tinham vários policiais e todo mundo olhava para ela, foi extremamente constrangedor. Eles não tinham estrutura para recebê-la, quando ela precisava ir para um lugar, os policiais envolvidos na ocorrência passavam para outro, para não se cruzarem. Foi todo um procedimento que demonstrou uma falta de sensibilidade e de estrutura técnica para conduzir o processo da melhor forma. Na quarta-feira (15), o subtenente Luciano Valério de Moura foi preso por suspeita de ter abusado da mulher. A ordem judicial foi expedida pela Justiça Militar, após representação da DPJM. Desde então, o agente está detido no Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), no município de Abreu e Lima. Nesta sexta-feira (17), ele fará um novo depoimento. O advogado dele, Teófilo Carvalho, disse ao g1 que o policial negou a autoria do crime e que seu cliente apenas conversou com a mulher após ela pedir água. Com a repercussão do caso, a governadora e a vice-governadora de Pernambuco se manifestaram. Em uma publicação no X, a governadora Raquel Lyra (PSD) comentou que acompanha as investigações: “Estamos trabalhando para garantir o acolhimento à vítima e na investigação severa desse caso”, afirmou, acrescentando que “não toleramos violência contra mulher” no estado. Initial plugin text A vice Priscila Krause (PSD) declarou na mesma rede social que o governo “trabalha para que nenhuma mulher tenha medo de denunciar agressões e buscar justiça”. Na mesma rede, Initial plugin text Abordagem em blitz Ao GLOBO, a advogada contou que um dos policiais que fizeram a abordagem alegou que o veículo da vítima estava com atraso no pagamento de uma multa e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). A mulher explicou que havia comprado o carro recentemente. Como não sabia dos débitos, ela chegou a ligar para o vendedor do automóvel, que informou que só poderia resolver o problema na segunda-feira (13). Com o fim da ligação, a vítima escutou do policial que o seu carro precisaria ser apreendido. — Nesse momento, ele olha para os outros dois policiais que estavam na ocorrência, sentados conversando, e diz “ela vai beber água”. Ela estranha, porque não pediu para beber água, mas ele olha para ela e diz: “você vai precisar me acompanhar até lá dentro” — disse Maria. A mulher, acreditando que aquilo fazia parte do procedimento, acompanhou o agente, ainda segundo o relato da advogada. Mas, conforme a vítima, no interior do posto policial havia um quarto com beliches onde sofreu uma série de violências sexuais. — Ela tentava tirá-lo, ficava implorando, chorando, abaixando o vestido, mas nada dele parar — continua Maria. À polícia, a vítima afirmou ter sido forçada a praticar sexo oral e que o agressor a obrigou a beber água para limpar os resíduos após o ato: — Ela sai bebendo o copo d’água, pega o carro e não fala com ninguém, seguindo viagem para Gaibu. Só no outro dia, ela entra em contato com pessoas para contar o ocorrido e tomar providências sobre o caso. No sábado (11), a mulher registrou denúncia na Delegacia da Mulher do Cabo e reconheceu o suspeito por foto. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado pela polícia, que afastou o subtenente e toda a equipe que estava de serviço no dia da agressão das atividades operacionais. Em nota conjunta com a Secretaria de Defesa Social (SDS), a instituição informou que o policial apresentou-se voluntariamente, acompanhado pelo advogado, na sede da DPJM na quarta-feira. “A Secretaria de Defesa Social (SDS) e a Polícia Militar de Pernambuco reforçam que repudiam veementemente qualquer forma de violência, especialmente aquela praticada por agentes públicos contra a integridade, a dignidade e a vida das mulheres. Desde o primeiro momento, as instituições atuaram com firmeza na apuração do caso, seguindo determinação expressa da governadora Raquel Lyra”, escreveram os órgãos. Conforme o comunicado, como o crime aconteceu em uma unidade militar e envolve um servidor militar, a investigação foi conduzida pela Delegacia de Polícia Judiciária Militar, como uma oficial feminina à frente do inquérito. A unidade informou que também acolheu a vítima e conduziu todas as oitivas necessárias. “A punição pode chegar à exclusão dos quadros da Polícia Militar de Pernambuco”, afirmou o comandante-geral da PMPE, coronel Ivanildo Torres. O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, repudiou o crime: “a nossa prestigiosa Polícia Militar é formada por milhares de homens e mulheres que, diariamente, se dedicam com coragem à proteção da sociedade. Infelizmente, um servidor que não honrou a farda cometeu um crime bárbaro e deve ser punido exemplarmente. É absolutamente inadmissível que uma violência dessa natureza seja praticada por um agente do Estado, dentro de uma repartição pública. Por isso, agimos com agilidade e rigor para esclarecer o caso e garantir a responsabilização do autor”. Na terça-feira (14), os outros dois policiais que estavam no posto, o sargento William Francisco da Silva e o soldado Ariel Lins da Silva, segundo o inquérito ao qual o GLOBO teve acesso, já haviam prestado depoimento e confirmaram que viram a mulher saindo do posto policial acompanhada do subtenente. Luciano, entretanto, negou o ocorrido durante audiência de custódia, que aconteceu na quinta-feira (16). Ao portal g1, o advogado Teófilo Carvalho, que representa o militar, afirmou que o subtenente não cometeu o crime e apenas conversou com a vítima após ela pedir água. De acordo com o advogado, ao contrário do relato feito pela mulher, ela estava “nervosa” por conta dos atrasos no pagamento da multa e do imposto ligados ao seu veículo e pediu para beber água depois que foi liberada. * Estagiária sob supervisão de Alfredo Mergulhão