Ministro do Interior da Venezuela, o militar Diosdado Cabello compartilhou, nas suas redes sociais, uma série de registros nas últimas horas, nos quais mostra diversas pessoas "pegando em armas" (muitos com facões), no que seria uma resposta a Donald Trump. Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos autorizou operações da CIA contra o país, além de considerar realizar ataques em terra contra cartéis do tráfico de drogas locais — anúncio que fez com que, pouco depois, o presidente Nicolás Maduro pedisse repúdio aos "golpes de Estado da CIA" e à "guerra no Caribe". 'Guerra psicológica': Trump tenta fraturar regime Maduro ao confirmar missão secreta da CIA e ameaçar ataques dentro da Venezuela Leia também: em meio a tensão com Venezuela, chefe militar dos EUA na América Latina deixará o cargo "Imagina que valioso que é estar na retaguarda cuidando da logística. É extraordinário, porque todos os demais confiam em você. Agora, cada combatente tem que formar nessa área porque não sabe quando é a sua vez. Todos devemos receber cursos de primeiros socorros para cuidar dos feridos [...] Saber como se faz para atender os companheiros", diz o militar em um dos vídeos, que mostra uma série de pessoas (aparentemente civis) realizando treinamentos militares e de prestação de socorro. "Porque será a nossa vez se o inimigo decidir avançar. Mas se o inimigo decidir avançar, não é uma tarefa em que terá chance de vitória. Porque quem acredita que esta é uma situação que pode ser resolvida lançando duas bombas e depois nos rendendo, não nos conhece", completa Cabello. Initial plugin text Ofensiva americana Até o momento, já ocorreram pelo menos cinco ataques contra pequenas embarcações de supostos "narcoterroristas", com saldo de 27 mortos. Desde agosto, Washington tem mobilizado navios e aviões de guerra no Caribe, em frente às águas venezuelanas, com o objetivo de combater o narcotráfico. Caracas denuncia um "assédio" e uma "ameaça" para uma "mudança de regime". Durante uma coletiva de imprensa no Salão Oval da Casa Branca, Trump foi questionado sobre uma reportagem do New York Times que afirmava que ele tinha aprovado em sigilo que a CIA realizasse ações encobertas na Venezuela contra Maduro. Ele não quis comentar em detalhe. "Mas o autorizei por duas razões, realmente", disse, antes de acusar Maduro de liderar um regime "narcoterrorista" e de libertar criminosos das prisões e mandá-los aos Estados Unidos. Quando questionado se havia dado à CIA autoridade para "eliminar" Maduro, Trump disse: "É ridículo me fazer essa pergunta. Na verdade, não é uma pergunta ridícula, mas não seria ridículo se eu a respondesse?" Leia mais: Trump diz que Maduro ofereceu 'de tudo' para diminuir tensão entre os EUA e a Venezuela Impulsionado pelo petróleo: Venezuela registra crescimento econômico de quase 9% Trump acrescentou que estava considerando realizar ataques em terra contra cartéis da Venezuela, após as ações letais contra supostas embarcações de drogas. "Estamos certamente olhando para a terra agora, porque temos o mar muito bem controlado", declarou Trump. Após o ataque mais recente no mar, a polícia de Trinidad e Tobago anunciou que investigava a possível morte de dois cidadãos do país após receber relatos de moradores sobre a presença dos dois homens na embarcação bombardeada. Especialistas questionam a legalidade deste tipo de ataques com uso de força letal em águas internacionais contra suspeitos que não foram detidos nem interrogados. O governo republicano também enfrenta a oposição democrata no Legislativo, que exige explicações por esses ataques. "Não aos golpes de Estado" Pouco depois, Maduro pediu repúdio a um eventual "golpe de Estado da CIA". "Não à guerra no Caribe, não à guerra na América do Sul, sim à paz. Não à mudança de regime que tanto nos lembram as guerras eternas fracassadas de Afeganistão, Irã, Iraque, Líbia [...] Não aos golpes de Estado dados pela CIA", disse Maduro, sem mencionar explicitamente a informação do New York Times. "Até quando golpes de Estado da CIA? A América Latina não os quer, não os necessita e os repudia", acrescentou em um ato transmitido de forma obrigatória por cadeia de rádio e televisão. Galerias Relacionadas O Ministério das Relações Exteriores venezuelano classificou de "belicistas e extravagantes" as declarações de Trump e insistiu em que as manobras dos Estados Unidos buscam "legitimar" uma operação para uma "mudança de regime". "Observamos com extremo alarde o uso da CIA, bem como os destacamentos militares anunciados no Caribe, que configuram uma política de agressão, ameaça e assédio contra a Venezuela", indicou a pasta em comunicado. A Venezuela nega as acusações de narcotráfico e apresentará nesta quinta-feira uma denúncia ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e o Conselho de Segurança. A mobilização militar dos Estados Unidos começou poucos dias depois de a Justiça americana aumentar para 50 milhões de dólares (R$ 272 milhões) a recompensa por informações que levem à captura de Maduro. Exercícios militares Como resposta, o presidente venezuelano ordenou exercícios militares nas zonas fronteiriças e nos estados costeiros, que têm sido realizados semana após semana. Na quarta, houve manobras nas maiores comunidades populares da Venezuela, Catia e Petare, situadas em Caracas. "Hoje amanheceu com forte chuva e tempestade elétrica em toda esta região de Caracas e Miranda, e nada impediu o exercício. Nossos militares saíram com máximo moral para defender a pátria e nosso povo", declarou Maduro, ao informar sobre as manobras pela manhã. A emissora estatal mostrou imagens da mobilização de veículos blindados desde a madrugada em Petare.