Presa por suspeita de envolvimento na participação de quatro assassinatos, a universitária Ana Paula Veloso Fernandes teria usado, em todos esses casos, veneno para matar as vítimas. Descrita pela polícia como serial killer, inteligente e manipuladora, ela procurava a polícia paulista com frequência, desde que mudou de Duque de Caxias para Guarulhos, no dia 15 de janeiro, para registrar ocorrências. Em uma delas, alegou que estava sendo vítima de uma ameaça. Morte após feijoada: suspeita é 'serial killer', 'manipuladora' e já forjou bolo envenenado para dificultar investigações, diz polícia 'Realidade superou a ficção': crimes de 'serial killer' brasileira repercutem na imprensa internacional 'Serial killer': defesa alega que 'não há elementos robustos' sobre a participação de universitária, que confessou dois assassinatos Marcelo Hari Ana Paula alugava um imóvel nos fundos da casa de Marcelo, de 51 anos, no bairro Vila Renata, em Guarulhos. O corpo foi encontrado em 31 de janeiro deste ano, por volta das 18h, já em adiantado estado de decomposição. Quem chamou a PM para o local foi a própria Ana Paula, que permaneceu em frente à casa de Marcelo acompanhando o trabalho dos policiais. A investigação inicial não apontou a causa da morte do homem, que foi considerada indeterminada. Marcelo Hari foi sua primeira vítima. Na delegacia, Ana Paula confessa o crime e explica que a motivação foi uma suposta ameaça de Marcelo ao seu filho e uma discussão após ele ter invadido o espaço que seria destinado a ela na casa. A universitária contou que, enquanto ele estava sentado no sofá, de braços abertos, insultando-a, ela foi à cozinha e buscou uma faca grande. Depois, desferiu um único golpe na região abaixo da axila. Os peritos, no entanto, não encontraram sinais de violência no corpo da vítima. Maria Aparecida Rodrigues A Polícia Civil de São Paulo descobriu que Ana Paula tentou ligar um policial militar (com quem ela teve um breve relacionamento) a uma de suas vítimas de envenenamento: Maria Aparecida Rodrigues, morta em 10 de abril. A investigação detalha que Ana Paula tentou induzir a polícia acreditar que o policial militar matara a mulher. Ana Paula também teria tido um caso amoroso com sua vítima, para quem se apresentou como Carla. As duas passearam juntas naquele dia. Ana Paula foi a última a ver Maria Aparecida com vida após oferecer café com bolo. Neil Corrêa da Silva Neil Corrêa da Silva, de 65 anos, morreu após comer uma feijoada que estaria envenenada com chumbinho — nome popular do pesticida agrícola terbufós, extremamente tóxico — em Caxias. Por este crime, também foi presa Michelle Paiva da Silva, de 43 anos, filha do idoso. As duas estavam na casa da vítima no momento em que ele passou mal. Hayder Mhazres A última vítima atribuída até agora a Ana Paula é o tunisiano, de 21 anos. Também desta vez, a estudante de Direito estava ao lado da vítima: o acompanhou na ambulância até o hospital e, depois que o rapaz morreu, foi à delegacia comunicar a morte. Morte por feijoada: suspeita responde no Rio por atear fogo na casa do ex-marido e vender um imóvel dele sem autorização 'Serial killer': suspeita de mortes em série, Ana Paula fez concurso para auxiliar de necropsia da polícia do Rio Menos de um mês após a primeira troca de mensagens entre ela e Mhazres, o jovem morreu no saguão do prédio que morava em São Paulo após passear com Ana Paula e tomar um milk-shake. Naquela noite de 23 de maio, um funcionário do prédio chama o Samu para tentar socorrer a vítima, mas é a universitária que vai à delegacia comunicar a morte. O caso Denunciada por um total de quatro homicídios, três deles ocorridos em São Paulo, Ana Paula procurava a polícia paulista com frequência, desde que mudou de Duque de Caxias para Guarulhos, no dia 15 de janeiro, para registrar ocorrências. Numa delas, alegou que estava sendo vítima de uma ameaça. Na ocasião, ela mencionou a existência de um bolo, supostamente envenenado, que havia sido deixado na universidade onde estudava, na cidade paulista. Investigadores do 1º Distrito Policial de Guarulhos descobriram, no entanto, que ela mesmo havia preparado a sobremesa. O objetivo seria tentar forjar a autoria de um homicídio, em que ela estaria envolvida, direcionando as investigações sobre o crime para outra pessoa. — Ela tentou imputar um dos homicídios a uma terceira pessoa. Esse bolo supostamente envenenado, em tese, seria para ameaçá-la. Por isso, ela foi como vítima à delegacia. De vítima, saiu para acusada de quatro homicídios qualificados. E efetivamente se comprovou que ela é uma serial killer. É uma pessoa inteligente e manipuladora. Uma pessoa que sabia o que estava fazendo. Agia sempre pensando numa futura investigação, no sentido de dificultar a investigação. Gostava muito de ir à delegacia e de estar sempre perto da polícia. De monitorar aquilo que estava sendo feito — explicou o delegado Halisson Leite Hideão, do 1º Distrito Policial de Guarulhos, responsável pela investigação dos quatro casos. Michelle e Ana se conheceram numa universidade, na Zona Norte do Rio. Ambas eram moradoras de Duque de Caxias e cursavam Direito numa mesma sala. Em janeiro, a segunda foi para São Paulo, onde passou a estudar. Mas, a amizade entre as duas mulheres continuou. Segundo uma investigação, a motorista de ônibus não tinha uma boa relação com o pai. A suspeita Ana Paula Veloso Fernandes Reprodução Por isso, teria contratado a amiga, que contou com o apoio de uma irmã gêmea, para executar a vítima. Segundo a polícia, foi Ana Paula quem trouxe a feijoada servida para o aposentado. Antes, disso, Michele passou a comida num liquidificador, já que seu pai tinha dificuldades para engolir alimentos. O crime teria custado R$ 4 mil. Mas, como Ana Paula Veloso Fernandes havia feito um empréstimo com a contratante, o valor da dívida foi abatido. Assim, a filha do aposentado teria pagado efetivamente R$ 1,4 mil pelo assassinato, segundo o delegado Alisson Leite. Ana foi presa no dia 9 de julho último em São Paulo. A irmã gêmea, identificada como Roberta Cristina Veloso, foi detida em agosto. A primeira estava com a prisão preventiva decretada. A segunda foi capturada por conta de um mandado de prisão temporária. Já Michelle Paiva da Silva foi presa na última terça-feira, quando chegava a uma universidade, no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio. Nesta quinta-feira, policiais paulistas e agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, que também já investigavam a morte do aposentado Neil Correa da Silva, realizaram a exumação do corpo da vítima. O cadáver que estava sepultado no Cemitério Memorial Rio, em Cordovil, foi levado para o Instituto Médico-Legal, no Centro do Rio. Um exame pericial vai tentar confirmar se o idoso foi ou não envenenado. Além disto, os legistas também tentarão identificar que substância teria sido usada para matar o aposentado. A certidão de óbito do aposentado aponta apenas como causa da morte insuficiência respiratória aguda, cetoacidose diabética, parada cardiorrespiratória e crise convulsiva.