Máquina de propaganda: Maduro tenta mascarar vulnerabilidades militares da Venezuela com mobilização anti-EUA

Em meio ao maior reforço militar dos Estados Unidos no Caribe desde a década de 1980, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tenta projetar força dentro e fora do país. Nas últimas semanas, o chavista tem dado as caras cercado por militares, enquanto exalta o “povo pronto para o combate” e mobiliza civis a se alistarem à Milícia Nacional Bolivariana que, segundo ele, conta com milhões de integrantes. O discuso e a imagem vendidos pelo regime, porém, são vistos por analistas como parte de uma ampla máquina de propaganda destinada a mascarar as fragilidades das Forças Armadas Revolucionárias Bolivarianas frente o Exército dos EUA — o mais poderoso do mundo. 'Guerra psicológica': Trump tenta fraturar regime Maduro ao confirmar missão secreta da CIA e ameaçar ataques dentro da Venezuela Hostilidades intensas: Helicópteros de elite dos EUA sobrevoam o Caribe a menos de 150 km da Venezuela, diz jornal Segundo o Wall Street Journal (WSJ), a mídia estatal venezuelana diz ao povo que “os EUA são vorazes, semelhante aos nazistas”, e que querem “cravar suas garras na riqueza petrolífera do país”. Ao mesmo tempo, informa que as tropas já estão sendo posicionadas para “repelir qualquer tipo de invasão”, em vídeos de treinamentos e marchas militares. O material mostra homens e mulheres, por vezes idosos e um pouco acima do peso, correndo em pistas de obstáculos, rastejando sob arame farpado e disparando rifles. Ontem, o ministro do Interior da Venezuela, o militar Diosdado Cabello, compartilhou nas suas redes sociais uma série de registros de pessoas empunhando facões. Initial plugin text Nesta sexta-feira, no entanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que Maduro ofereceu “de tudo” para evitar um conflito aberto, logo após anunciar um novo ataque na costa caribenha, desta vez contra um submarino que, segundo Washington, transportava drogas. Até agora, os EUA realizaram ao menos seis ataques, matando 27 pessoas. A Casa Branca sustenta que está tratando os supostos traficantes como combatentes ilegais, terroristas que devem ser enfrentados com aparato militar. — Ele ofereceu tudo. Sabe por quê? Porque não querem f**** com os Estados Unidos — avaliou o republicano quando questionado sobre a possibilidade de Caracas ter proposto planos de distensão. Na quarta-feira, o americano autorizou operações da CIA na Venezuela, além de considerar ataques em terra contra cartéis do tráfico de drogas locais. O anúncio fez com que, pouco depois, Maduro pedisse repúdio aos "golpes de Estado da CIA" e à "guerra no Caribe". Leia também: em meio a tensão com Venezuela, chefe militar dos EUA na América Latina deixará o cargo Ainda de acordo com o jornal americano, as forças da Venezuela, que segundo especialistas militares contam com 125 mil soldados, são mostradas nos vídeos marchando em formação, com tropas montando veículos blindados e transportando caixas de munições. Os caças a jato de fabricação russa do país também aparecem sobrevoando. — O povo está pronto para o combate, pronto para a batalha — disse o chavista a uma multidão de apoiadores no início desta semana. ‘Cortina de fumaça’ A tentativa de demonstrar poder, contudo, não se traduziu em ações concretas diante da escalada dos EUA. Após a aproximação de aviões venezuelanos de embarcações americanas, os EUA enviaram caças americanos F-35 para Porto Rico. Mas Caracas não reagiu e não foram realizados movimentos provocativos ou de dissuasão. A resposta de Maduro à ostensiva no Caribe, além da convocação da população às armas e de se cercar de militares, centrou-se em ordenar o recrutamento de indígenas e civis para reforçar as milícias, apresentadas como a linha de defesa contra um eventual desembarque dos EUA. — Se querem paz, preparem-se para conquistá-la — disse num discurso transmitido pela TV estatal. As imagens de autoridades próximas a Maduro, como Cabello e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, mostram a cúpula chavista supervisionando defesas em várias regiões. O governo também contaria com o apoio de grupos armados da Colômbia, como o Exército de Libertação Nacional (ELN), que, segundo o ex-oficial de inteligência colombiano Alberto Romero, opera há anos no país. Mas, apesar da retórica de resistência, a Venezuela enfrenta sérias limitações militares e econômicas. Para os ex-oficiais e especialistas ouvidos pelo WSJ, as Forças Armadas estão enfraquecidas por falta de recursos, má alimentação e baixíssimo moral. Edward Rodriguez, ex-coronel exilado nos EUA, define a mobilização de Maduro como uma “cortina de fumaça” para ganhar tempo.