Corinthians e Deportivo Cali decidem final da Libertadores feminina em novo capítulo da rivalidade entre Brasil e Colômbia

Um mês depois de vencer o Brasileirão pela sétima vez, sexta consecutiva, o Corinthians pode ampliar seus triunfos em sequência em outra competição. Hoje, às 16h30 no Estádio Florencio Sola, o time paulista encara o colombiano Deportivo Cali na decisão da Libertadores feminina. À primeira vista, o caminho das equipes até a final é bastante similar: duas vitórias e um empate na primeira fase, um triunfo nas quartas sem grandes emoções, e a classificação à final através de disputa de pênaltis. Mas, olhando mais de perto, as Brabas acumularam duas goleadas (11 a 0 no Always Ready-BOL e 4 a 0 sobre o Boca Juniors), enquanto o Deportivo Cali precisou suar mais a camisa para vencer seus duelos. Esta será a segunda final continental disputada por Brasil e Colômbia no ano: em agosto, a seleção brasileira venceu as adversárias na final da Copa América. Izabela Baeta, repórter do No Ataque, analisa o domínio dos dois países no cenário do futebol de mulheres na América do Sul. — Brasil e Colômbia têm uma larga vantagem, devido aos investimentos e à força das ligas. No ano passado, a final foi entre Corinthians e Santa Fe, outro clube colombiano. É um padrão que se repete e demonstra o crescimento dessas ligas, que estão mais à frente no futebol feminino e, consequentemente, têm um desempenho melhor em campo. Os números corroboram a afirmação: esta é a 17ª edição da Libertadores feminina, e 13 dos 16 títulos foram conquistados por clubes brasileiro. Além dos cinco do Corinthians (o primeiro, em 2017, foi durante a parceria com o Audax), outros cinco clubes têm a taça guardada em sua sala de troféus. Os multicampeões incluem Santos (3 vezes); São José e Ferroviária (os dois são bicampeões); e Palmeiras e Internacional completam a lista. As exceções foram o Colo-Colo, do Chile (2012); Sportivo Limpeño-PAR (2016) e Atlético Huila-COL (2018). De 2018 para cá, no entanto, a Colômbia emplacou suas equipes em quatro finais: além do título do Atético Huila, em 2020, o América de Cali perdeu para a Ferroviária na decisão; e o Santa Fe foi vice-campeão duas vezes diante do Corinthians, em 2021 e 2024. Rafael Alves, editor-chefe do Planeta Futebol Feminino e comentarista do Canal GOAT, avalia a diferença do nível de competitividade dos clubes de cada país, mas ressalta que, nos últimos anos, a tendência é de uma competição mais parelha. — O Brasil tem uma vantagem sobre a Colômbia, que evem diminuindo. E, por sua vez, a Colômbia já abriu uma frente em relação aos demais países, especialmente sobre os clubes, que vem ganhando notoriedade — analisa. — A competitividade não está só nas semifinais, mas na competição como um todo: se tirarmos algumas goleadas, a maioria das partidas foi vencida por um ou dois gols de diferença. Para além disso, mostrou como equipes fora do eixo Brasil-Colômbia fizeram frente, como o Independiente Del Valle-EQU, Alianza Lima-PER e o próprio Colo-Colo. Saí com uma impressão muito melhor desta Libertadores do que da passada, gostei do que vi. De olho no hexa Apesar do desenvolvimento do futebol praticado pelas mulheres nos últimos anos, uma coisa permaneceu na útima década: o Corinthians é o time a ser batido na América do Sul. É verdade que a equipe cometeu alguns deslizes do ano passado para cá, mas os 21 títulos desde 2016 e uma equipe experiente e acostumada a levantar troféus dão uma confiança extra que estabelece as Brabas como as favoritas absolutas para a decisão. — Por mais que a gente veja o crescimento de outras equipes, às vezes algumas delas dão passos para trás. Temos o Flamengo como exemplo, que teve notícias de corte de investimentos — conta Izabela. Na última semana, a treinadora deixou o rubro-negro após seis meses de trabalho, e o clube alegou o motivo da demissão como "readequação financeira". — O Corinthians, por outro lado, segue como um exemplo, demonstrando que o investimento não para. É um clube que coloca o futebol feminino como prioridade. Se outras equipes cortarem ou reduzirem o investimento, nunca conseguirão manter o nível e sempre verão o Corinthians na frente — conclui Izabela. A falta de priorização do futebol feminino está longe de ser um problema apenas dos clubes. A própria Conmebol, que organiza todos os torneios continentais, também é alvo constante de críticas. Em relação à Libertadores, a principal é a do formato. São duas semanas de competição em uma única cidade — neste ano, foram só dois estádios, com capacidades entre 32 e 35 mil torcededores. A nível de comparação, nas últimas três finais do Brasileirão, o público passou das 40 mil pessoas. Para Rafael, o número de 16 equipes participantes é o ideal, mas a competição perde por não ser mais exensa. Ele acredita que uma final disputada em ida e volta, ao contrário do modelo de jogo único adotado atualmente, poderia contribuir para o aumento do interesse dos torcedores. — Talvez fosse interessante ter uma fase qualificatória para selecionar melhor as equipes, mas, honestamente, acredito que não temos mais do que 16 equipes em alto nível na América do Sul. Uma mudança seria esticar o calendário, fazendo com que todos pudessem jogar dentro e fora. Isso tem um grande potencial de atrair público, basta olhar as finais das competições na Colômbia ou no Peru — opina. O uso de dois estádios para as 32 partidas da competição representa ainda um novo desafio: o desgaste do gramado. A preocupação com a segurança física das atletas também foi uma questão para Arthur Elias, treinador da seleção brasileira, durante a Copa América. — A competição poderia ser mais bem-sucedida se fosse mais longa, o formato atual tem falhas que prejudicam o desempenho das atletas e o crescimento do torneio. Sair do Brasil para assistir a uma Libertadores feminina em um curtíssimo período de tempo, com jogos tão longe, limita muito a maioria dos torcedores. Falta um cuidado da CONMEBOL e da CBF, considerando não só as jogadoras, mas também os torcedores e o próprio crescimento do futebol feminino — afirma Izabela. A programação do último dia de Libertadores começa às 11h. No mesmo palco da final, no estádio Florencio Sola, Colo-Colo e Ferroviária disputam o terceiro lugar. Apesar da eliminação, o time chileno manteve uma impressionante sequência de 37 jogos de invencibilidade com 36 vitórias e um empate: a última partida contra o Cali, que levou o duelo para os pênaltis. A responsável pelo feito é a treinadora Tatiele Silveira, que reencontrará as Guerreiras Grenás. Em 2019, ela venceu o Brasileirão A1 no comando da Ferroviária e se tornou a primeira e única treinadora a levantar a taça do torneio.