Durante uma expedição arqueológica no sul da Turquia, na província de Karaman, especialistas desenterraram cinco pães carbonizados relacionados ao ritual da comunhão cristã. Para surpresa da equipe, um deles trazia a imagem de Jesus como semeador, um achado que pode lançar nova luz sobre a vida religiosa dos camponeses da época. Leia também: Criança encontra ossos humanos enquanto brincava na areia em praia do Reino Unido O que é a ‘maldição’ do Homo sapiens? Biólogo explica como a mente humana gera sofrimento e nunca nos deixa satisfeitos O Oriente Médio é reconhecido como o berço da fé cristã, e símbolos que remetem às origens da religião aparecem com frequência na região. Alguns vestígios estão concentrados em Israel, mas também há áreas fora desse território que evocam aspectos antigos do catolicismo moderno. Alguns sítios turcos funcionam como sentinelas da história ocidental, incluindo as fundações da antiga cidade bizantina de Irenópolis. Foi nesse contexto que os arqueólogos encontraram cinco pães da comunhão completamente carbonizados. Um deles trazia a imagem de Jesus, o Semeador, enquanto os outros quatro estavam marcados com a cruz de Malta — símbolo típico da época para identificar cristãos — e a frase em grego: "Com gratidão ao bendito Jesus". Segundo comunicado à imprensa, os pesquisadores acreditam que esses pães podem ter sido uma forma de transmitir os valores de Jesus Cristo à comunidade rural. Os alimentos datam dos séculos VII e VIII d.C., e a figura de Cristo, para os católicos, aparece representada na imagem de Jesus Pantocrator. Mistério da preservação Como esses pães sobreviveram por cerca de 1.300 anos? Pesquisas indicam que uma série de eventos permitiu a preservação da massa e até de seus desenhos. Inicialmente, um incêndio no local religioso teria carbonizado os pães. Em seguida, um sepultamento em condições de baixo oxigênio, protegido das variações de temperatura, contribuiu para sua preservação quase intacta. Os especialistas planejam analisar os pães com microscópios e tomografia para determinar a composição da massa, o que permitirá entender melhor a dieta das populações da Anatólia Bizantina Média. A descoberta é particularmente relevante, já que muitas das primeiras comunidades cristãs se estabeleceram na Turquia. O episódio mais notável ocorreu em Antioquia, região onde os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos pela primeira vez. A impressão do rosto de Jesus num pão eucarístico com temática camponesa reflete uma dimensão pastoral e evangelizadora, buscando aproximar a mensagem divina do cotidiano e do trabalho dos fiéis. "Isso é considerado um indicador da importância simbólica da abundância e do esforço na compreensão religiosa da época. A sobrevivência dos pães eucarísticos dos séculos VII e VIII é extremamente rara, tornando os pães de Topraktepe uma janela única para o culto cristão primitivo", destacou o comunicado oficial. À medida que a pesquisa avança, arqueólogos esperam identificar os tipos de grãos usados nos pães e compreender a tecnologia dos fornos onde eram assados, aprofundando o conhecimento sobre práticas alimentares e religiosas da época.