Um grupo internacional de astrônomos, sob a liderança do brasileiro Chrystian Luciano Pereira, do Observatório Nacional (ON/MCTI), observou pela primeira vez a formação de anéis em tempo real ao redor de um pequeno corpo do Sistema Solar: o (2060) Chiron, também conhecido como Quíron. Planeta Y: Astrônomos podem ter encontrado novo planeta no Sistema Solar após 170 anos Caçadores do céu: Morcegos europeus surpreendem cientistas ao caçar pássaros a 1.200 metros de altitude A descoberta, publicada na revista The Astrophysical Journal Letters, desafia a visão tradicional de que apenas planetas gigantes como Júpiter e Saturno poderiam possuir sistemas de anéis. Chiron, uma mistura entre asteroide e cometa que orbita entre Saturno e Urano, agora entra para o seleto grupo de corpos menores com esse tipo de estrutura, junto de Chariklo, Haumea e Quaoar. Os dados principais foram coletados no Observatório do Pico dos Dias (LNA/MCTI), em Minas Gerais, com um telescópio de 1,6 metro, dentro do projeto internacional “Lucky Star”. O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e de dezenas de instituições estrangeiras. Técnica de observação e descoberta Os cientistas utilizaram a técnica de ocultação estelar, que consiste em analisar a variação da luz de uma estrela distante quando um objeto do Sistema Solar passa diante dela. No evento observado em 10 de setembro de 2023, Chiron bloqueou parcialmente a luz estelar, mas de forma complexa, com várias quedas de brilho antes e depois do bloqueio principal, um indicativo claro da presença de estruturas ao redor do corpo. — Quando Chiron passou em frente a uma estrela distante, a luz dela foi atenuada não apenas devido ao corpo principal, mas também por múltiplas estruturas ao seu redor. Então, conseguimos mapear esse sistema com um detalhe sem precedentes — explica o doutor Chrystian Pereira, líder do estudo, à agência Gov. Três anéis e um disco de poeira A equipe identificou três anéis bem definidos e um disco difuso de material, além de uma estrutura mais tênue e distante. Os anéis ficam a 273 km, 325 km e 438 km do centro de Chiron, enquanto o disco se estende por centenas de quilômetros. Ao comparar os dados com observações antigas (de 2011, 2018 e 2022), os pesquisadores notaram que o disco parece ter se formado recentemente, provavelmente após uma ejeção de material ocorrida em 2021, quando Chiron liberou poeira e gelo no espaço. “Estamos vendo o resultado de um evento recente. O material ejetado por Chiron parece estar gradualmente se assentando no plano equatorial do objeto, sendo moldado por ressonâncias gravitacionais e colisões, formando os anéis que vemos hoje”, afirmam os autores. “É como se tivéssemos encontrado o elo perdido, observando uma etapa intermediária da formação de um sistema de anéis”. Essa é a primeira vez que astrônomos observam o processo de formação de anéis em curso. Até agora, as descobertas anteriores mostravam apenas sistemas já estabelecidos, sem registro direto de sua evolução. O achado não apenas amplia o entendimento sobre os centauros — classe de corpos gelados que orbitam entre Júpiter e Netuno —, como também fornece pistas sobre a origem e a dinâmica dos anéis planetários, incluindo os de Saturno. A observação de Chiron reforça a ideia de que a formação de anéis é um processo contínuo e dinâmico, que pode ocorrer em diferentes escalas e contextos do Sistema Solar.