Fafá de Belém, Fat Family e atrações internacionais: por que a Maré vai sediar o Festival Mulheres do Mundo

Entre sexta-feira e domingo da semana que vem, a Maré vai despertar ao som de passos de dança, de acordes de música e do ritmo coletivo de centenas de mulheres celebrando sua força, sua criatividade e seu protagonismo. Pela primeira vez, o Festival Mulheres do Mundo — WOW Rio 2025 ocupa a comunidade, com realização e curadoria da ONG Redes da Maré, oferecendo uma programação intensa, gratuita e diversa, que integra cultura, esporte, intercâmbio internacional e debates sobre direitos e justiça social. Mais do que apresentações artísticas, o evento se propõe a provocar reflexão, fortalecer vínculos e criar um sentido de pertencimento, em que cada gesto e cada voz contam. 'Chaves': Filho do criador do personagem não descarta novos episódios da série; megaexposição estreia no Rio Novo centro cultural: Casarão centenário em Botafogo foi reformado; confira as primeiras atrações Durante três dias, o WOW Rio 2025 se estenderá por 12 espaços da Maré: Areninha Cultural Municipal Herbert Vianna, Biblioteca Popular Jorge Amado, Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto, Casa das Mulheres da Maré, Casa Preta da Maré, Centro de Artes da Maré, Espaço Normal, Galpão Ritma (Rede de Inovação Tecnológica da Maré), Galpão Saúde, prédio central da Redes da Maré na Nova Holanda, sede do Luta pela Paz e Vila Olímpica da Maré. A programação também inclui atividades voltadas para crianças. Entre as atrações mais aguardadas estão nomes consagrados e novas vozes femininas. A cantora Fafá de Belém, o grupo Fat Family, a pernambucana Priscila Senna, MC Luanna e a DJ Laís Conti integram a programação musical. No palco da dança, o espetáculo “A terra que piso é Maré”, do projeto Mulheres ao Vento, celebra a força e a ancestralidade femininas. Já a oficina “Deixa as garotas brincar — A história do funk dançada e contada por mulheres”, com Taísa Machado, Mariluz, Aline Maia e Idayá Oliver, propõe um mergulho nas origens e na potência feminina do ritmo. Público acompanha apresentação no palco do WOW Rio, na edição anterior Divulgação A programação internacional também marca presença com a iniciativa Regards Créoles, Féminins Croisés, parte da Temporada França-Brasil 2025. Reconhecido por situar as mulheres no centro das criações, o festival valoriza o protagonismo feminino na arte, na música, no esporte e nas reflexões sobre território e diversidade. Imagine: MP pede paralisação imediata das obras no Parque Olímpico O WOW Rio é a edição brasileira do Women of the World, festival criado no Reino Unido que desde 2010 já foi realizado mais de 150 vezes em 71 cidades de seis continentes, reunindo mais de 5,3 milhões de pessoas. O Rio é a única cidade da América Latina a sediar o evento. Depois das edições de 2018 e 2023 na Praça Mauá, esta terceira edição chega à Maré, reunindo 150 mulheres convidadas em 90 mesas de debate, 50 oficinas, apresentações artísticas, feira de empreendedoras, campeonato de futsal e corrida, com público esperado de 50 mil pessoas. Eliana é diretora da ONG Redes da Maré e curadora do WOW Rio Divulgação O tema central da edição carioca é “Justiças”, desdobrado em “Justiça reprodutiva e bem viver”, “Desafios climáticos: campo, cidade, território e floresta” e “Enfrentamento às desigualdades econômicas, sociais e de poder”. Entre os nomes confirmados estão as escritoras Conceição Evaristo e Sueli Carneiro, a pajé Japira Pataxó, ativistas como Jurema Batista e Jurema Werneck, a artista indígena We’e’ena Tikuna, Yá Bernadete de Oxossi, as ministras Anielle Franco e Macaé Evaristo, a educadora Dandara Suburbana, a pedagoga Benilda Brito, a ativista chilena Pabla San Martín e a ex-ministra francesa da Justiça Christiane Taubira. Revitalização: Marechal Hermes é o primeiro bairro a receber mutirão com arte e serviços na Zona Norte; saiba quais serão os próximos A programação da Temporada França-Brasil 2025 traz os “Olhares crioulos femininos cruzados”, com artistas e ativistas de Guiana Francesa, Martinica e Guadalupe, integrando o intercâmbio cultural internacional ao festival. Paralelamente, uma frente dedicada às masculinidades promove reflexões sobre equidade de gênero, direitos reprodutivos e corresponsabilidade masculina na transformação social. O grupo Fat Family se apresenta no sábado, às 23h30, no Centro de Artes da Maré, logo após o show de Fafá de Belém Divulgação Eliana Sousa Silva, diretora fundadora da ONG Redes da Maré e curadora do WOW Rio, reforça a importância de levar um festival internacional a uma comunidade periférica, destacando que a iniciativa coloca o território no centro do debate sobre cultura e protagonismo feminino. Rio terá lavanderias comunitárias: Primeira será no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo — Um festival desse porte em um conjunto de favelas é a oportunidade de mostrar que estamos aqui e que há uma vida vibrante e pulsante na Maré — afirma Eliana. Onde se ouviu o primeiro samba do Brasil e até carro subiu escadaria: festa que celebra Santuário de Nossa Senhora da Penha completa 390 anos Para a diretora da Fundação WOW, Colette Bailey, sediar o festival na Maré tem um significado simbólico: trata-se de celebrar a cultura local e, ao mesmo tempo, reconhecer a força social da comunidade. Sábado, às 16h, na Vila Olímpica da Maré, Aline Maia participa da oficina “Deixa as garota brincar”, que conta e dança a história do funk Divulgação — Realizar o evento na Maré é, ao mesmo tempo, uma celebração e um retorno ao lar, reconhecendo a poderosa e vibrante energia cultural e social que a comunidade traz para as discussões sobre justiça social — diz Colette. Arte e tradição em Madureira: Coletivo volta a oferecer atividades culturais e de empreendedorismo A programação do WOW Rio se organiza em quatro segmentos, que contemplam debates, cultura, ativismo e empreendedorismo: Mulheres em Diálogos, Mulheres das Artes e Cultura, Mulheres Ativistas em Rede e Negócios Delas, com destaque para a feira do empreendedorismo feminino em parceria com o Sebrae. Eliana ressalta que o público terá uma grande diversidade de opções na programação: — São muitas atividades simultâneas, em formatos distintos. Quem estiver na Maré poderá participar de debates aprofundados com especialistas, rodas de conversa, oficinas práticas e encontros inspiradores nos quais as convidadas compartilham suas trajetórias. Além disso, há experiências artísticas envolvendo dança, música e design. A proposta do festival é promover um grande encontro de temas e agendas relevantes para mulheres, contemplando diferentes perspectivas e opiniões. Casa de Milton Nascimento vira locação: Série de diretor de "Lady night" fala sobre relação de pai e filha Ela acrescenta que a escolha das participantes prioriza representatividade e diversidade. — Buscamos convidar mulheres que sejam lideranças em seus territórios e em suas áreas de atuação, exemplos de conquistas e trajetórias representativas. Priorizamos a diversidade, promovendo espaços de trocas, escuta e vivências múltiplas, garantindo que vozes variadas sejam ouvidas — diz. Eliana enfatiza ainda que o WOW Rio é um espaço para construir redes e fortalecer conexões: — O festival propicia que mulheres com diferentes perfis, iniciativas e projetos se encontrem, compartilhem experiências e construam possibilidades de atuação conjunta mesmo após o evento. É um espaço de conexão, aprendizado e ação coletiva. Caçador de tesouros por acaso: Mergulhador resgata celulares, alianças e objetos perdidos no fundo do mar Entre essas vozes está a de Carolina Rocha, conhecida como Dandara Suburbana, uma das convidadas do festival. Militante das questões raciais e religiosas, ela participa de uma mesa sobre as espiritualidades de matriz africana, destacando o simbolismo de ocupar esse espaço como mulher negra de favela. — Sempre acompanhei o festival e me inspirei nas vozes que passavam por ali. Estar agora como convidada é muito significativo. Esse é um espaço que conecta mulheres de territórios e formações diversas para debater temas fundamentais — afirma. Para Dandara, realizar o evento na Maré amplia o sentido de pertencimento e afirmação: — A Maré é território de lideranças femininas negras e de potência criativa. Trazer um festival internacional para cá é reconhecer essa força e descentralizar a cultura, rompendo com a lógica de exclusão. As favelas são lugares legítimos de encontro, criação e circulação cultural. Óculos de realidade virtual, games e IA: a revolução tecnológica que chegou a comunidades da Zona Norte Entre os debates mais aguardados estão mesas que abordam justiça social e protagonismo feminino em favelas. Na sexta-feira, a mesa “Mulheres de favela: força e continuidade” será conduzida por Eliana e Jurema Batista, com mediação da pesquisadora Andreza Jorge. Outra mesa de destaque, “Raízes da resistência: germinando futuros na luta por justiça climática”, reúne Sarah Marques, Thuane Thux e Jurema Werneck, com mediação da deputada Talíria Petrone. No sábado, “Decidir é viver — Justiça reprodutiva e violência de gênero como direito coletivo” recebe Ana Barreto, Emanuelle Góes e Rita Segato, enquanto a mesa “Confabular futuros a favor da democracia” reunirá Sueli Carneiro, Christiane Taubira e Tatiana Roque, com mediação da jornalista Flávia Oliveira. Entre as oficinas práticas, destacam-se “Deixa as garotas brincar”, que explora a história do funk contada por mulheres; e a oficina de culinária “Vatapá paraense”, comandada pela chef Adriana Veloso. No campo musical, o festival combina tradição e inovação com apresentações de Fafá de Belém, Fat Family, Priscila Senna, MC Luanna, Kaê Guajajara, BIAB e DJ Laís Conti, contemplando estilos que vão do funk ao house, do R&B à MPB. O espetáculo de dança “A terra que piso é Maré”, do projeto Mulheres ao Vento, conecta movimento, ancestralidade e resistência comunitária. O esporte também ocupa espaço central na programação. No sábado, o FutWOW promove um campeonato de futsal; e no domingo, a corrida Destemidas, organizada pela jornalista Carol Barcellos em parceria com o Luta Pela Paz, percorre quatro quilômetros pelas ruas da Maré, com concentração e aquecimento às 7h em frente à sede da organização. Carol Barcellos explica a proposta da corrida: — A Destemidas nasceu há oito anos como um espaço de ocupação, celebração da autonomia feminina e incentivo a ir sempre mais longe. Cada corrida simboliza não apenas o movimento físico, mas a força, a conquista e o crescimento do projeto ao longo dos anos. É um momento de festa, de celebração das mulheres e também do aniversário do Luta Pela Paz. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos pelo Sympla. A programação completa pode ser consultada em www.festivalmulheresdomundo.com.br/br/programacao. Informações: www.redesdamare.org.br. Initial plugin text