Mais de 1 bilhão de mulheres estarão na menopausa até 2030, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o número já ultrapassa os 30 milhões — mulheres que estão, juntas, escrevendo uma nova história sobre envelhecimento, autocuidado e poder feminino. Se até pouco tempo atrás a menopausa era vista como um fim, hoje, com a ajuda de vozes potentes, passou a representar um novo começo. O que antes era um tema cercado por silêncio e tabus, agora ganha espaço em consultórios, mídias, conversas e pesquisas. Estudos recentes, como o SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation) e o levantamento global The Menopause Impact Report 2024, revelam que mais de 80% das mulheres relatam algum sintoma físico ou emocional durante o climatério, e 60% delas afirmam que a falta de informação ainda é o maior obstáculo para lidar bem com essa fase. Para o Dia Mundial da Menopausa, reunimos um abecedário essencial, prático e direto, com os principais temas, sintomas, descobertas e transformações que definem esse momento — de A a Z. A ideia é dar informação para quem vai entrar ou já está nessa caminhada. Caminhada essa, aliás, que pode representar mais de um terço da vida. A Articulações Dores articulares, rigidez e sensação de travamento são sintomas percebidos por mais de 40% das mulheres durante o climatério, segundo estudo da North American Menopause Society (NAMS). Com a queda do estrogênio, a produção de colágeno diminui e o corpo perde lubrificação nas articulações. Exercícios de baixo impacto, musculação e reposição orientada por especialistas ajudam a resgatar a mobilidade e diminuir dores e desconforto. B Batimentos cardíacos irregulares A queda no estrogênio durante essa fase pode levar a alterações na frequência cardíaca, provocando palpitações ou flutuações no ritmo cardíaco. De acordo com a American Heart Association, o risco de doenças cardíacas cresce até 30% na menopausa. Acompanhar a saúde cardiovascular durante esse período, o que inclui monitorar a pressão e o colesterol, e manter uma rotina ativa, é fundamental para viver bem. C Climatério É o período que engloba toda a transição hormonal: perimenopausa, menopausa e pós-menopausa. É nele que ocorrem as oscilações hormonais responsáveis por boa parte dos sintomas. Compreender o climatério é entender que o corpo está em mudança — e buscar acompanhamento médico faz toda a diferença para que essa jornada seja a mais tranquila possível. D Densidade óssea O estrogênio protege os ossos e, quando ele cai, a massa óssea pode diminuir até 20% nos primeiros 5 anos após a menopausa. Dados da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF) mostram que 1 em cada 3 mulheres acima dos 50 anos sofrerá algum tipo de fratura por causa do enfraquecimento dos ossos. Alimentação rica em cálcio, vitamina D e atividade física são escudos de prevenção. E Estrogênio A queda do estrogênio é o gatilho central para os principais sintomas da menopausa. E não é por acaso. Hormônio-chave da vida reprodutiva, o estrogênio influencia muito mais do que o ciclo menstrual: ele atua no cérebro, nos ossos, no coração, na pele e no humor. A vida sem ele, como da para ver, é severamente impactada. Hoje, terapias hormonais personalizadas — com segurança e acompanhamento — são consideradas uma ferramenta eficaz para alívio dos sintomas e proteção de longo prazo. F Fogachos As famosas ondas de calor atingem cerca de 70% das mulheres que estão no climatério, segundo a Harvard Health Publishing. Elas são resultado direto da instabilidade hormonal que afeta o centro de controle térmico no cérebro. Podem durar segundos, mas interferir profundamente no sono e na qualidade de vida. Quando indicado, o tratamento hormonal ajuda a reduzir a frequência dos calorões. G Ganho de peso Durante o climatério, o metabolismo desacelera e há uma redistribuição da gordura corporal — especialmente na região abdominal. Pesquisas da Clinica Mayo indicam que, mesmo com alimentação equilibrada, é comum um aumento de 2 a 5 kg nesse período. O segredo está em ajustar a dieta, dormir bem e fazer musculação: mais músculo, menos gordura. H Humor Irritabilidade, ansiedade e até quadros depressivos podem aparecer ou se intensificar durante a menopausa. O estrogênio (sim, ele de novo) atua na regulação da serotonina e dopamina — neurotransmissores ligados ao bem-estar. Segundo a Associação Brasileira de Climatério, até 40% das mulheres relatam alterações de humor significativas nessa fase. Terapia, atividade física e apoio médico são ótimos aliados. I Idade média No Brasil, a idade média para a menopausa é 48 anos, segundo o Ministério da Saúde. Mas cada mulher tem seu tempo: fatores genéticos, tabagismo, histórico reprodutivo e estilo de vida influenciam no início do período. O importante é ficar atenta aos sintomas e procurar ajuda de especialistas a qualquer sinal. Sofrer, nesse período, não é necessário. J Julgamento Ainda há muito julgamento — da sociedade, de médicos despreparados e até das próprias mulheres. A menopausa, para algumas pessoas, ainda carrega um estigma de “fim” que não combina mais com a realidade. Quebrar o tabu é um ato de saúde pública. Falar sobre menopausa é falar de longevidade ativa. L Libido A queda hormonal pode reduzir o desejo sexual, mas não precisa significar o fim da vida sexual. Reposição hormonal, vibradores, lubrificantes e terapia sexual podem reavivar o prazer. “A libido não morre, ela muda”, dizem especialistas da Cleveland Clinic. Redescobrir o corpo faz parte da nova maturidade. M Musculação É o melhor remédio contra a perda de massa muscular, óssea e o ganho de gordura abdominal, sintomas que acompanham a menopausa. A Organização Mundial da Saúde recomenda o treino de força ao menos duas vezes por semana para mulheres nessa fase. O exercício é um potente modulador hormonal natural. N Névoa mental Dificuldade de concentração, lapsos de memória e sensação de mente nublada são sintomas comuns desse período. Pesquisas da University of Rochester Medical Center, no estado de Nova York, apontam que até 60% das mulheres relatam algum grau de brain fog. Dormir bem, manter o cérebro ativo e os níveis de ferro no sangue adequados ajudam a reduzir os efeitos. O Ovários Eles são o ponto de partida de toda a transição hormonal. Durante a perimenopausa, os ovários diminuem gradualmente a produção de estrogênio e progesterona, até cessarem completamente a ovulação. Esse processo é natural, mas seus efeitos se refletem em todo o corpo — do metabolismo ao humor. Pesquisas do National Institute on Aging, nos Estados Unidos, mostram que a função ovariana começa a declinar cerca de 10 anos antes da última menstruação, o que explica a intensidade dos sintomas nesse período. P Perimenopausa / Progesterona A perimenopausa é o início da transição para a menopausa, quando os ciclos ficam irregulares e os sintomas costumam ser mais severos. É, nesse período que a progesterona, assim como o estrogênio, também começa a cair. O desequilíbrio dois hormônios está por trás de muitos sintomas, como insônia e irritabilidade. Fazer um diagnóstico correto para seguir com um tratamento individualizado é fundamental para combater os sinais. Q Qualidade de vida Apesar dos sintomas severos, que podem, sim, impactar a qualidade de vida da mulher, é possível viver bem nessa fase. O fundamental é procurar ajuda profissional para encontrar soluções individualizadas e acompanhamento frequente. Menopausa bem cuidada é sinônimo de longevidade saudável. R Reposição hormonal Esse é um dos temas mais debatidos — e cercados de desinformação — quando se fala em menopausa. Hoje, a ciência mostra que, quando bem indicada e acompanhada, a Terapia Hormonal da Menopausa (THM) é segura e eficaz, e pode até, dependendo do caso, ser recomendada para pacientes com histórico de câncer de mama na família, sempre com acompanhamento. Segundo a North American Menopausa Society, os riscos são baixos e os benefícios incluem melhora do sono, libido, humor e prevenção óssea, cardiovascular e cerebral. O tratamento deve ser prescrito e seguido de perto por um especialista. S Sono A insônia é um dos sintomas mais relatados do climatério não por acaso: quedas de estrogênio e progesterona interferem na regulação do sono. Dados do Sleep Foundation mostram que até 60% das mulheres na menopausa têm distúrbios do sono. Além de manter uma rotina regular para o sono, é preciso investigar as reais causas da insônia, sejam elas de origem hormonal ou por outros gatilhos, para então adotar o tratamento adequado. T Tabu Menopausa ainda é tabu em muitos espaços. Falar sobre ela é, sobretudo, reconhecer a importância da saúde feminina e abrir espaço para políticas sociais. No Reino Unido, desde 2024 empregadores podem ser processados por capacitismo se não fizerem adaptações para melhorar a qualidade de vida das mulheres na menopausa. No Brasil, o debate vem ganhando força em diversas esferas e, no começo deste, foi apresentado na Câmara dos Deputados um projeto de lei para garantir atenção integral, exames, medicamentos e suporte psicossocial para a mulher na menopausa. U Urinário (Trato) Com o declínio do estrogênio na peri e menopausa, há uma mudança no pH vaginal, o que pode tornar a região mais vulnerável a infecções recorrentes, além de incontinência e urgência urinária. Conversar com o médico é fundamental para evitar o surgimento e agravamento dos quadros. V Vibradores Segundo estudo publicado no International Urogynecology Journal, em 2024, o uso regular de vibradores é uma das estratégias não hormonais mais eficazes para o bem-estar sexual na menopausa. Eles estimulam a circulação e mantêm a lubrificação vaginal. X Gen X chegou à menopausa As mulheres nascidas entre 1965 e 1980 estão atravessando a menopausa de forma inédita: informadas, conectadas e ativas. É a geração que está quebrando o tabu e mudando o mercado. Z Zen Apesar das sucessivas tentativas de roubar a paz de espírito, a menopausa pode ser, no final das contas, o nirvana que tanto a gente busca. Em meio ao turbilhão hormonal que provoca mudanças físicas e emocionais, muitas mulheres relatam ter encontrado uma liberdade extremamente poderosa. Um sentimento de tranquilidade e confiança para tomar as próprias decisões. Um desejo de cuidar mais de si mesma, de priorizar as próprias necessidades — sem culpa. É a calmaria que chega depois da tempestade.