
Marcelo D2 encerra ciclo do Planet Hemp com coragem, fé e gratidão
Três décadas depois de desafiar as regras da indústria e transformar a contracultura em força popular, o Planet Hemp chega ao último capítulo de uma história que se confunde com a do próprio rap e rock brasileiros. A turnê A Última Ponta , que desembarca em Brasília neste sábado (18), na Arena BRB, é mais do que uma despedida: é um rito de passagem. Uma celebração da ousadia, da irreverência e da consciência que sempre moveram a banda desde os primeiros acordes. Em conversa exclusiva com o Jornal de Brasília , Marcelo D2 fala sobre esse encerramento como quem entende que certos ciclos se fecham apenas para dar início a outros. Com a serenidade de quem aprendeu a transformar dor em arte e caos em propósito, ele explica que o fim do Planet Hemp não representa o fim do movimento que ele ajudou a construir. “A gente vai continuar. Todo mundo vai lançar disco, continuar trabalhando junto. O que para é o Planet Hemp, não a energia que a gente criou”, disse, entre risadas e o aroma de café fresco no ar. O tom de D2 é de maturidade, não de melancolia. “Foi uma decisão difícil, claro. É raro uma banda ganhar dois Grammys e decidir parar. Mas o Planet sempre foi movido por propósito, e a gente queria encerrar com esse mesmo espírito. Não é uma despedida pra chorar, é pra agradecer.” No lugar de um adeus silencioso, o grupo preparou uma despedida vibrante — feita de palco, suor, barulho e memória. Foto: Divulgação/@youknowmyface O show de Brasília integra uma jornada que vem atravessando o país com uma mistura de celebração e reflexão. A turnê reúne clássicos que marcaram gerações e faixas recentes do álbum Jardineiros (2022), vencedor de dois Grammys Latinos. Mais do que revisitar o passado, D2 enxerga nessa série de apresentações um manifesto. “A gente quis fazer um fechamento à altura da nossa história. Pensar o que ainda tínhamos pra dizer. Essa turnê é isso: um manifesto final, uma festa pela história que a gente construiu juntos.” E que história. Desde os anos 1990, quando a legalização da maconha ainda era tabu e a mistura de rap com guitarras soava como provocação, o Planet Hemp se impôs com coragem e coerência. Letras combativas e humor ácido transformaram o grupo em símbolo de liberdade de expressão e resistência cultural. D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia, Nobru e Daniel Ganjaman fizeram da banda um espaço de questionamento e pertencimento, onde música e política se cruzaram com naturalidade. Ao revisitar os marcos dessa trajetória, Marcelo se emociona ao lembrar de Skunk, cofundador da banda, falecido em 1994. “Foi muito difícil, mas também foi o que nos deu força pra seguir sem dar brecha pro sistema. O Skunk acreditava muito nesse sonho. Quando ele morreu, a gente transformou isso em fé.” Essa fé, segundo ele, foi o alicerce do grupo. “Para fazer o Planet Hemp com 22 anos, eu tive que acreditar muito. Eu era camelô, cheio de incertezas, e banquei um sonho. E valeu a pena.” Essa crença também se reflete na forma como D2 observa o momento político e social do país. “O Brasil vive uma onda de medo, de isolamento. É a política do medo, muito alimentada pelas redes sociais. E o medo é o contrário da fé. A gente veio de um lugar de combate, de acreditar que fazer o bem é revolucionário. Jardineiros fala disso: sobre plantar junto, compartilhar, sonhar um mundo melhor.” O discurso é firme, mas sereno — de quem já entendeu que o gesto mais radical é permanecer acreditando. Foto: Divulgação/@youknowmyface O artista também reflete sobre o impacto de ter atravessado gerações. “Os filhos da gente cresceram com o Planet. A música manteve a cabeça jovem. Essa é uma das maiores dádivas que a banda me deu: o pensamento jovem. Morra com a cabeça jovem, sabe? É isso.” A frase, dita com leveza, sintetiza o espírito que acompanha o grupo desde o início — rebelde, inquieto e esperançoso. O fim da banda abre espaço para novos caminhos. Além da turnê, estão em andamento um documentário e um livro que prometem contar, com liberdade e profundidade, os bastidores dessa história coletiva. “A gente quer deixar um registro bonito, não só do que foi a banda, mas do que ela representou. O Planet Hemp é mais do que a soma dos integrantes, é um movimento. Cada pessoa que cantou com a gente fez parte dessa história.” Ao se despedir, Marcelo D2 fala com gratidão e plenitude. O Planet Hemp pode encerrar sua trajetória nos palcos, mas sua mensagem segue viva — no som, nas ruas, nas ideias e em cada um que um dia se sentiu representado por ela. “O público é parte essencial de tudo. Eles são o Planet também. E é com eles que a gente vai continuar queimando tudo até a última ponta.” Serviço Planet Hemp - Turnê de despedida Data: 18 de outubro de 2025 (sábado) Local: Arena BRB - Eixo Monumental - SRPN - Asa Norte, Brasília - DF Horário de Abertura da casa: 19h Horário do Show: 23h Ingressos: eventim.com.br/planethemp