
Nosso quintal cósmico: Astrônomos descobrem sistema estelar quádruplo raro na Via Láctea
Zenghua Zhang, astrônomo da Universidade de Nanquim, na China, e sua equipe vasculhavam catálogos de estrelas em busca de anãs marrons frias — objetos interestelares que ficam entre planetas e estrelas. Eles encontraram algo estranho e raro na Via Láctea. Termômetro do planeta: novo estudo revela mudanças abruptas e irreversíveis na Antártida Entenda: cirurgia na Índia remove 526 dentes da boca de um menino de sete anos Inicialmente, os astrônomos identificaram o que acreditavam ser uma anã marrom solitária orbitando uma estrela brilhante. Investigações posteriores revelaram que a anã marrom era, na verdade, composta por duas estrelas. Ao submeterem um artigo sobre a descoberta, perceberam que a companheira brilhante também era formada por duas estrelas. "Gosto de chamar isso de duplo-duplo", disse Adam Burgasser, astrofísico da Universidade da Califórnia, em San Diego, envolvido na descoberta. O estudo, publicado no Monthly Notices of Royal Astronomical Society, descreve o sistema quádruplo: uma anã marrom dançando ao redor de outra, enquanto duas estrelas mais brilhantes orbitam entre si. A descoberta ajuda os cientistas a entender melhor as anãs marrons, que se formam como estrelas, mas têm massa insuficiente para fundir hidrogênio de forma contínua — processo que aquece e faz uma estrela brilhar. Com atmosferas semelhantes às de planetas gigantes gasosos, como Júpiter e Saturno, elas são frias e tênues, tornando-se difíceis de estudar. Por isso, astrônomos buscam anãs marrons próximas a estrelas companheiras, mais fáceis de medir. Um laboratório natural para estudar o universo Segundo Burgasser, binários de anãs marrons e estrelas mais brilhantes costumam se formar do mesmo material, no mesmo local e tempo. Medir as estrelas mais luminosas permite estimar propriedades das anãs marrons, como idade, temperatura e composição. "Encontrar duas anãs marrons ao redor de duas estrelas mais brilhantes ajuda o dobro. Torna-se uma espécie de superreferência", afirmou o cientista. Para localizar o sistema, Zhang e sua equipe escanearam bancos de dados do Wide-field Infrared Survey Explorer da NASA e do telescópio Gaia, da Agência Espacial Europeia. Eles identificaram uma anã marrom e uma estrela mais brilhante a cerca de 82 anos-luz da Terra, em órbita mais de 1.600 vezes maior que a distância entre o Sol e a Terra. Medições espectrais feitas com o telescópio Southern Astrophysical Research, no Chile, confirmaram que tanto a anã marrrom quanto a estrela eram pares. O par mais luminoso é formado por duas anãs vermelhas — tipo mais comum de estrela na Via Láctea — com cerca de 17% da massa do Sol e brilho combinado 100 mil vezes menor que o da Estrela Polar em luz visível. As anãs marrons, quase invisíveis na luz visível, têm tamanho semelhante ao de Júpiter e apresentam metano em suas atmosferas. Burgasser estima que bilhões de anãs marrons semelhantes existam na galáxia, embora apenas cerca de 30 tenham sido detectadas orbitando estrelas mais brilhantes. Observações futuras, possivelmente com o Telescópio Espacial James Webb, devem permitir imagens mais nítidas das anãs marrons e medições precisas de suas massas, criando referência para objetos semelhantes em outros pontos da Via Láctea. Novos levantamentos estelares, incluindo os realizados com o telescópio espacial Euclid e o Observatório Vera C. Rubin, baseado na Terra, permitirão investigar ainda mais profundamente essas anãs marrons fracas. Sistemas quádruplos não são inéditos — astrônomos já encontraram arranjos com até sete objetos estelares. Sua existência indica que tais sistemas sobrevivem aos processos iniciais de formação estelar. Estrelas formadas muito próximas podem se afastar em velocidades hiper-rápidas pela galáxia. "Esses sistemas são sinais da formação de múltiplas estrelas", disse Burgasser. "Mas ainda queremos entender como chegaram a esse ponto."