
Brasil condena novo ataque de Israel a Gaza e defende investigação internacional: 'Crimes de guerra'
O Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota, nesta terça-feira, em que afirma que os bombardeios de forças israelenses contra o hospital Nasser, em Khan Younis, Sul da Faixa de Gaza, podem configurar "crimes de guerra". Os ataques, realizados na segunda-feira, causaram a morte de ao menos 20 palestinos — incluindo jornalistas e trabalhadores humanitários — e o ferimento de outras dezenas de pessoas. "Hospitais e unidades médicas gozam de proteção especial pelo Direito Internacional Humanitário, e ataques a tais instalações podem configurar crimes de guerra, conforme as Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos Adicionais", destaca o comunicado. No texto divulgado hoje, o Itamaraty conclama a comunidade internacional e os mecanismos competentes das Nações Unidas a assegurar a realização de investigação independente, imparcial e transparente, de forma a garantir a devida responsabilização pelos atos. "O bombardeio contra o hospital Nasser soma-se a um padrão reiterado de violações perpetradas pelo governo de Israel contra a população palestina. A responsabilização por tais atos é condição essencial para evitar sua repetição e assegurar justiça às vítimas". Resposta A nota foi divulgada em um cenário de escalada da crise diplomática entre Brasil e Israel. Segundo interlocutores do governo brasileiro, existe a possibilidade de Brasília responder, ainda nesta terça-feira, aos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ministro da Defesa israelense, Israel Katz. Lula foi acusado por Katz de antissemitismo e chamado de "apoiador do Hamas", em uma referência ao grupo terrorista palestino. Na segunda-feira, Israel informou ter rebaixado o nível de suas relações diplomáticas com o Brasil. Tel Aviv informou ter desistido da indicação de um novo embaixador em Brasília. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu interpretou como recusa a ausência de resposta do Itamaraty ao nome de Gali Dagan, apresentada em janeiro deste ano. "Quando o presidente do Brasil, Lula, desrespeitou a memória do Holocausto durante meu mandato como ministro das Relações Exteriores, declarei-o persona non grata em Israel até que pedisse desculpas. Agora ele revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas ao retirar o Brasil da IHRA – o organismo internacional criado para combater o antissemitismo e o ódio contra Israel – colocando o país ao lado de regimes como o Irã, que nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel", escreveu o ministro israelense, hoje, em uma rede social. O silêncio brasileiro à indicação do novo embaixador por Tel Aviv foi entendido como gesto político. Por trás dessa atitude, há uma crise que começou ainda em 2023, após o Hamas atacar Israel e sequestrar dezenas de pessoas. Com mortes de civis palestinos em Gaza, Lula afirmou que a matança se assemelhava ao que aconteceu no Holocausto, quando milhões de judeu foram mortos pela Alemanha nazista. Lula foi declarado persona non grata pelo governo de Israel e o diplomata brasileiro Frederico Meyer, então chefe da embaixada em Tel Aviv, foi convocado para uma reprimenda pública no Museu do Holocausto, gesto considerado humilhante pelo Itamaraty. Desde então, o Brasil deslocou Meyer para Genebra (Suíça) e não enviou substituto para a representação israelense.