Protagonista de série sobre Ângela Diniz, Marjorie Estiano fala sobre machismo: 'Continuamos morrendo por feminicídio'

Protagonista de série sobre Ângela Diniz, Marjorie Estiano fala sobre machismo: 'Continuamos morrendo por feminicídio'

Terminada a série “Sob pressão”, da TV Globo, cuja última temporada foi lançada em 2022, Marjorie Estiano pensou sobre o quanto uma comédia seria bem-vinda como próximo trabalho. Uma espécie de alívio cômico para uma trajetória marcada por papéis imersos em dramas profundos, caso da médica Carolina, que vivenciava as angústias do sistema público de saúde brasileiro. “Lembro-me de pensar: ‘Não posso emburacar em outra coisa tão densa’”, conta a atriz, de 43 anos. Quis o destino que tais planos ficassem para depois. Ela interpretou Ruth, personagem com alta carga dramática na minissérie “Fim” (2023), do Globoplay, e volta ao ar no próximo dia 13 como protagonista de “Ângela Diniz: Assassinada e condenada”, da HBO Max, série inspirada no podcast “Praia dos Ossos”, da Rádio Novelo. Entrevista: Após superar câncer de mama raro, top Fernanda Motta diz que aprendeu a dizer 'não' e a fazer melhores escolhas Mankeeping: Entenda dinâmica em que mulheres se tornam 'terapeutas' dos companheiros IZA revela dores do puerpério: 'Não me sentia animal o suficiente para alimentar a minha cria' A obra de seis episódios tem direção de Andrucha Waddington e revive a história da socialite mineira assassinada em 1976, aos 32 anos. Ela foi morta com três tiros no rosto e um na nuca disparados pelo então companheiro, o empresário Doca Street (1934-2020), interpretado na série por Emilio Dantas. Além de ser uma história marcada pelo machismo e pela violência de gênero, a produção trouxe à atriz curitibana o desafio de mergulhar num universo radicalmente oposto ao seu. Conhecida como “Pantera de Minas”, Ângela vivenciou o glamour dos anos 1970 em meio à alta sociedade e às colunas sociais, algo muito diferente do estilo de vida de Marjorie, que mesmo explodindo como fenômeno adolescente em “Malhação”, no começo da carreira em 2004, manteve a discrição como condição inegociável. Um paradoxo que virou deleite. “Embora a Ângela tenha sido assassinada, pensei: ‘Finalmente, vou fazer uma mulher que transa, bebe e é dada ao prazer’”, afirma. “Foi uma trabalheira, tinha muito figurino, acessórios, maquiagem e cabelo, mas estava brincando de boneca com a caracterização.” Música: Céu celebra 20 anos de carreira com show no Rio Arte: Márcia Falcão leva pinturas inspiradas em corpos femininos à Bienal Ingrid Silva anuncia linha de meias-calças: 'Começo pela tonalidade da minha pele' A sensualidade aparece em evidência na série, numa construção muito além da aparência. Está na postura e no gestual da atriz, do rebolado à firmeza nas falas mais contundentes. “O Andrucha chegou a me perguntar se andava malhando com mais intensidade, mas não estava. Então, entendi que ele estava percebendo o meu corpo pela maneira como eu me portava em cena”, ela conta. A desenvoltura não foi necessariamente uma surpresa para o diretor, que diz ter pensado na escalação de Marjorie desde o início do projeto: “A Ângela precisava ser vivida por alguém capaz de incorporar a sua complexidade. Não haveria melhor pessoa para isso”. A despeito da alta dose de erotismo, tanto Marjorie quanto os idealizadores tomaram cuidados para não objetificar a personagem. Não há closes indiscretos nas cenas de sexo, que exploram mais as sensações do momento e foram todas acompanhadas por uma coordenadora de intimidade. Parte delas, inclusive, ficou de fora da série, após a montagem final. “Meu primeiro impulso foi construí-la sob a luz de um olhar masculino, no sentido de que ela despertava o desejo dos homens. Mas essa é a visão deles”, comenta a atriz. “Tivemos cuidado para não reduzi-la a este lugar. Era uma mulher livre e foi assassinada por não se submeter a nada, e não porque era bonita e provocava ciúmes ou fazia com que os homens perdessem a razão. Se não tivéssemos esse cuidado, esvaziaríamos o feminicídio, o estupro e a importunação.” ma Embora tenha sido brutalmente assassinada, Ângela teve a memória vilipendiada durante o julgamento de Doca, na década de 1970. Na ocasião, os advogados do réu usaram a tese de “legítima defesa da honra” — invalidada somente em 2023 pelo Supremo Tribunal Federal — para justificar o ato, e o autor recebeu uma pena de dois anos, que foi revogada. Com isso, acabou solto e, diante do resultado, movimentos feministas se mobilizaram em torno do caso. Um novo julgamento foi realizado na década de 1980, no qual o autor foi condenado a 15 anos de prisão. Um panorama que, segundo Marjorie, evidencia a urgência da série. “Continuamos morrendo por feminicídio”, diz. “O fato de ainda precisarmos nos preocupar sobre qual roupa usar, aonde e que horas ir ainda é um cerceamento. Isso sem falar nas cobranças sobre a aparência, na iniquidade salarial e nas questões ligadas ao aborto e ao não-direito ao próprio corpo.” Débora Falabella fala sobre maturidade: 'Mais tranquilidade do que aflição' Entrevista: Diagnosticada com esclerose múltipla, top Carol Ribeiro fala da convivência com a doença Entrevista: Marcelo Rubens Paiva fala sobre paternidade e sexualidade aos 66 anos Situações que a atriz consegue espelhar com a própria existência. Filha do meio de um comerciante e uma terapeuta, Marjorie se lembra de ser educada numa lógica em que os garotos deveriam ser vistos como ameaça, enquanto o irmão era incentivado a “pegar as menininhas”. “De alguma forma, isso influencia na maneira como você enxerga o outro”, reconhece. “O homem acredita que o corpo da mulher está acessível para ser tocado. Eu me lembro de, na escola, precisar proteger a bunda com a pasta, se não os meninos passavam a mão.” Resgatar essas memórias a faz pensar em como teria sido a própria vida, caso não fosse impactada pela cultura patriarcal. “É aquele clássico: o garoto pode, desde cedo, segurar o pinto, enquanto a menina não pode se tocar”, compara. “Eu abraçava os homens de lado, da maneira mais fraternal e debochada possível, para que não houvesse possibilidade de flerte. Esse é o tipo de comportamento que você vai assimilando de acordo com os tabus, os assédios e os olhares do outro.” Dos tempos de adolescente, Marjorie se recorda de não ficar à vontade nas festas nem sair para dançar. Por outro lado, estava preenchida pelo desejo de ser atriz, profissão que lembra ter escolhido ainda criança e perseguido com obstinação. Mudou-se para São Paulo aos 18 anos para correr atrás do sonho e, finalmente, pôde se soltar. O primeiro beijo, contudo, só veio aos 21. “Nunca pensei no amor da minha vida nem estava esperando a pessoa certa. Era zero romântica. Em vez de princesa, queria ser guerreira. Lembro-me de pensar: ‘Preciso saber como é beijar na boca’. Então, chamei um amigo para me auxiliar”, conta, em meio a risadas. Perfil: Cláudia Abreu rebate etarismo em comentários sobre aparência Cem anos de O GLOBO: Fernanda Montenegro, Laura Cardoso e Nathalia Timberg revisitam memórias Entrevista: Marisa Monte reflete sobre quase 40 anos de carreira e 58 de vida Decisão tomada pouco tempo antes de virar uma estrela nacional. Sua personagem Natasha, na novela “Malhação”, da TV Globo, era vocalista do grupo fictício Vagabanda, cujo hit “Você sempre será”, lançado também pela atriz em seu álbum de estreia como cantora, soma mais de 31 milhões de execuções no Spotify. Na época, Marjorie chegou a excursionar pelo Brasil com shows e lidava com fãs dormindo à sua espera na porta de hotéis e multidões de adolescentes sacolejando a van que a transportava para os shows. Tamanho sucesso, garante, jamais subiu à cabeça. “Meu desejo sempre foi ser atriz, construir personagens e contar histórias. Vivo um apaixonamento diário pela profissão”, diz. Postura testemunhada por Helena Varvaki, professora de atuação de Marjorie há quase 20 anos. “Ela me procurou porque estava com dificuldades em uma cena de ‘Duas Caras’’, conta Helena, sobre a novela que foi ao ar na TV Globo em 2007. “Estudaríamos por uma hora e meia e, já no primeiro dia, passamos desse tempo. Esse ser desejante de aprender cada vez mais já estava lá. O fato de ser hoje considerada uma das grandes atrizes de sua geração não faz com que estude menos. Pelo contrário. Para ‘Ângela’, começamos a nos ver um ano antes, cerca de quatro vezes por semana. Depois, quando começaram as gravações, ela seguiu estudando pelo menos três horas em dias de folga.” Além da série, Marjorie está nos filmes “Enterre seus mortos”, de Marco Dutra, que chega aos cinemas no próximo dia 30, e “Precisamos falar”, de Pedro Waddington e Rebeca Diniz, com estreia prevista para 2026. São, novamente, incursões em papéis diversos e complexos, que auxiliam a atriz a aprofundar a própria compreensão sobre o mundo e a elaborar suas questões, como a ideia de maternidade. “Sinto essa pressão tanto em relação a mim quanto às personagens, algo que sempre discuto com os roteiristas”, ilustra. “Nunca tive o sonho de me casar e ter filhos. Congelei óvulos, mas não pretendo usar, por enquanto. Só terei um filho se for um desejo insuportável.” Em um relacionamento com o médico Márcio Maranhão desde 2022, de quem mora próximo (“Assim está bom”, limita-se a comentar, soltando uma risada), a atriz aprecia a vida de um lugar mais confortável com a maturidade. “A adolescência foi a pior fase. Depois, quando entrei na TV, também foi difícil. Hoje, juntando análise, exercícios físicos e alimentação, descobri um ‘pool’ que me trouxe um prazer em estar viva. Estou sempre disposta a me desconstruir e reconstruir. Não é à toa que sou atriz. Eu me interesso por outros pensamentos, realidades. Até mesmo em relação ao sexo ainda há muita coisa que quero descobrir”, diz, antes de concluir: “Não estou na vida a passeio”.

Herdeiro do grupo Prada, Giulio Bertelli estreia como diretor de cinema e descarta assumir império da família: 'Não há espaço para isso'

Herdeiro do grupo Prada, Giulio Bertelli estreia como diretor de cinema e descarta assumir império da família: 'Não há espaço para isso'

As águas do Rio de Janeiro não são novidade para Giulio Bertelli. O italiano, de 35 anos, já havia cruzado as correntes marítimas da cidade como atleta de vela, esporte que pratica desde a infância. Mas, na última semana, encarou outro tipo de travessia: a estreia de seu primeiro filme como diretor, “Agon”, no Festival do Rio. “É a primeira vez que viajo com o longa e me conecto com um público diferente. E, sendo no Brasil, é especial”, diz ele, com uma moderação que subverte o estereótipo histriônico de seus compatriotas. Na entrevista, feita no hotel onde ficou hospedado, em Copacabana, mostrou intimidade com o solo carioca: depois da conversa, varou a noite num reduto de samba no Centro. Filho de Miuccia Prada — dona da grife italiana que leva o sobrenome do clã e uma das principais acionistas do Grupo Prada, que tem no portfólio etiquetas como Miu Miu e Versace — e do empresário Patrizio Bertelli, Giulio decidiu não se envolver nos negócios da família, diferentemente de seu irmão mais velho, Lorenzo, que atua como diretor executivo da marca desde 2021. “Apesar de eu ser muito próximo de todos eles, nunca pensei em trabalhar com moda. Não há espaço para isso na minha vida. Já faço muitas coisas na arquitetura, no esporte e, agora, no cinema, algo que já nutria o desejo desde pequeno, mas não sabia a hora de começar. Não sei se já estou velho ou ainda jovem para entrar na indústria, mas quero ver no que vai dar.” Seu primeiro filme, “Agon”, pré-produzido em 2023 e finalizado no ano passado, retrata a preparação de três mulheres atletas de esportes de combate — esgrima, tiro ao alvo e judô — para disputar uma vaga em Jogos Olímpicos fictícios. O longa é protagonizado pela lituana Sofija Zobina e pelas italianas Yile Yara Vianello e Alice Bellandi, judoca, que emprestou sua experiência à personagem. “O filme fala sobre a contradição entre esporte e violência. Acho que, vista pelos olhos de três jovens mulheres, esse paradoxo fica ainda mais forte”, explica o Giulio. Ilda Santiago, diretora executiva do Festival do Rio, destaca a “coragem” visual do longa: “É uma obra contemporânea, com fotografia exuberante, bem trabalhada. Vejo o filme como um respiro diferente para o cinema italiano”. Críticas positivas ao filme, inclusive, fazem-lhe retirar, em certa medida, o “peso” de ser herdeiro de um dos maiores impérios da moda. “Meus pais me apoiaram, assistiram e ficaram orgulhosos”, relata Giulio. “Sou consciente de que tenho privilégios. Por isso, ponho sobre mim muita pressão para fazer algo bom e evitar que o preconceito de algumas pessoas seja validado. Antes da minha origem, deixo que meu trabalho fale por mim.”

Paris Fashion Week: Estreias no comando das maisons e principais tendências do verão 2026

Paris Fashion Week: Estreias no comando das maisons e principais tendências do verão 2026

Big Bang, revolução solar, alinhamento cósmico. Em sintonia com os planetas que invadiram a passarela da Chanel no Grand Palais, não faltam metáforas espaciais para sintetizar a bem-sucedida estreia de Matthieu Blazy no comando da grife e a Semana de Moda de Paris como um todo. Encerrada no último dia 7, a temporada de desfiles internacionais (que começou em Nova York, um mês antes) foi marcada por 15 estreias importantes — algo nunca antes visto —, apostas que flertaram com um verão mais alegre e colorido e coleções tão comerciais quanto inspiradoras. “Após a frenética dança das cadeiras e as crises de identidade das grifes, ficou patente o empenho no resgate dos códigos e das narrativas históricas das maisons, ainda que em diferentes interpretações e intensidades”, destaca a analista de moda Paula Acioli. No caso de Blazy, muitos críticos disseram que o designer repetiu o que fazia na Bottega Veneta. O especialista em branding Fábio Monnerat discorda: “Ele fez uma nova Chanel com velhos códigos, capaz de dialogar com quem já é cliente da marca e criar desejo em quem não é”. As outras estreias mais elogiadas da temporada foram a de Pierpaolo Piccioli, na Balenciaga, e as de Jack McCollough e Lazaro Hernandez, substitutos de Jonathan Anderson, na Loewe. Anderson, agora na Dior, causou mais estranhamento do que suspiros. Primoroso ao atualizar clássicos da Balenciaga como o icônico vestido-saco, Piccioli trouxe às passarelas a silhueta com perfume de alta-costura que marcou os seus oito anos à frente da Valentino. Já a dupla Jack & Lorenzo acendeu a Loewe com hits da próxima estação, como colorbloking, vestidos atoalhados e comprimentos míni. Confira outras delas nas próximas páginas. Cintura anos 1920 Coleção de verão da Chanel e da Dior, respectivamente Getty Images A silhueta ampulheta, com ares de new look da Dior, não terá vez no próximo verão, nem mesmo na casa agora dirigida por Jonathan Anderson. O designer reconfigurou o tailleur bar de Mounsier Dior e jogou a cintura ora para cima, ora para baixo. Como nos anos loucos de Great Gatsby, a proporção drop-waist ganhou versões de Blazy para a Chanel e de Piccoli para a Balenciaga. Bolsa aberta Bolsas da coleção de verão da Chanel e Hermès, respectivamente Getty Images Difícil imaginar que essa moda pegue no Brasil, onde todo cuidado é pouco, mas... No que depender da Chanel, da Hermès e da Loewe, as bolsas de couro do próximo verão serão completamente abertas, em shapes e cores variados. Babado forte Coleção de verão da Saint Laurent e da Chloé Getty Images Brincadeiras, jogos e novas silhuetas prenunciam um verão 2026 mais alto-astral do que os anteriores. “Foi uma temporada de peças intercambiáveis, cheias de movimento ou volume, como peplum, drapeados e babados”, diz a analista de moda Paula Acioli. Na Saint Laurent, longos com ares de red carpet eram feitos de nylon, superleves. Color block Coleção de verão da Valentino Getty Images Depois de algumas temporadas de quiet luxury, com looks quase sem cor e sem volume, como lembra o especialista em branding Fabio Monnerat, a moda finalmente voltou a vibrar. “O colorblocking e os volumes mais exagerados resgatam uma alegria que há tempos não víamos nas passarelas. Essa temporada foi da volta do sonho, sem perder o olhar no mercado”, completa Monnerat. Míni, míni mesmo Coleção de verão da Cecile e Valentino, respectivamente Getty Images A míni, que desde a década de 1960 coloca as pernas e a autonomia feminina em foco, não se fez de rogada na semana de Paris. Na Valentino foi uma das estrelas do baile e, na Celine, flertou com o office look. Curtíssima, é radical e chique. Bandeira branca Coleção de verão da Balenciaga Getty Images Hit inconstestável do verão 2026, a camisa branca ganhou cauda longa no desfile da Balenciaga e saias multicoloridas no da Chanel. Para recontar a paixão de Gabrielle Chanel pelo guarda-roupa de Boy Capel, Blazy fez uma parceria entre a maison e a Charvet, tradicional camisaria situada na Place Vendôme. Balneário chique Coleção de verão de Isabel Marant Getty Images Hit inconstestável do verão 2026, a camisa branca ganhou cauda longa no desfile da Balenciaga e saias multicoloridas no da Chanel. Para recontar a paixão de Gabrielle Chanel pelo guarda-roupa de Boy Capel, Blazy fez uma parceria entre a maison e a Charvet, tradicional camisaria situada na Place Vendôme. Ilha das flores Coleção de verão da Chloé Getty Images O verão 2026 terá uma primavera particular. As flores foram cultivadas em aplicações, como se viu na Chanel, efeito 3D, saltando do vestido Balenciaga, e com ares de eternas férias na oitentista Chloé. Sempre um respiro em tempos cinzas. Verde ‘chartreuse’ Coleção de verão 2026 da Hermès e Balmain, respectivamente Getty Images O verde-oliva mudou de nome, em alusão ao Chartreuse, licor francês de tom esverdeado, à base de ervas, feito por monges cartuxos desde 1737. Na praia da Balmain de Rousteing, a cor tingiu do macramê de vestidos a parcas, jaquetas e calças estilo parachute. Já na Hermès de Nadède Vanhee veio em tops, mínis, coletes, botas e bolsas. Sofisticado, como sempre.

Por que homens não são julgados pela aparência tanto quanto mulheres?

Por que homens não são julgados pela aparência tanto quanto mulheres?

Acho que foi a saudosa Danuza Leão que escreveu, certa vez, que não deveríamos sair de casa sem batom nem mesmo para ir até o mercado da esquina comprar um quilo de arroz. Vá que justamente neste intervalo de tempo você cruze na calçada com um ex-namorado que ainda faça seu coração saltar. Fosse hoje, Danuza correria o risco de ser cancelada por esse tipo de conselho — não bastassem nossas preocupações, ainda precisamos estar bonitas para encontros hipotéticos com sujeitos que já nem fazem parte da nossa vida? Alguém poderia sugerir que os homens, dentro do mesmo princípio, também deveriam colocar uma camiseta limpa antes de ir ao açougue comprar carne para o churrasco, mas esta equiparidade costuma ser derrubada pelas nossas diferenças de expectativas. Eu, ao menos, tenho um fraco por desgrenhados. Uma camisa para fora das calças, uma bota ainda com a poeira de algum show, aquela barba eternamente por fazer. Não estou dizendo que banho não seja importante, mas deixar o cabelo secar ao deus-dará não é pecado, tem até quem consiga emprego na Globonews sem jamais ter visto um pente. Cancelada serei eu por celebrar a liberdade que os homens têm de não serem julgados pela aparência e ainda apreciar a descompostura deles (sem exagero, claro — prefiro estar acompanhada por um homem de terno numa festa de casamento). Porém, considere este texto parte da luta: reivindico a mesma liberdade para nós. Não estaria na hora de reduzirmos os excessos de artifício? Somos perfeitamente atraentes com nossos cílios de nascença, com unhas aparadas e com os lábios que nos coube. Se é para inflar a boca, que seja a boca das calças: as skinny deram lugar às pantalonas e tudo bem seguir tendências da moda, é divertido e menos radical do que mudar o próprio rosto. Algumas mulheres ficarão de bronca comigo, mas é clássico: quanto mais natural, mais elegante. Mesmo assim, reconheço que não é fácil se libertar da patrulha dos costumes. Outro dia, entrei num mercado de esquina para comprar tomates, era só um pulinho, então nem me importei por estar com o cabelo mal preso num rabo de cavalo, os trapos que uso para trabalhar em casa e, claro, sem nenhum vestígio de batom. Mas, ao ser interpelada por um moço educado (e, se não me falha a memória, bem-vestido, o que põe em dúvida a minha preferência por esculhambação), lembrei dos conselhos da Danuza. Que ideia foi aquela de eu sair de cara lavada e com um mocassim de 1997? Eu sei, mais antigo que o mocassim, só esse desejo de causar boa impressão. Resta confiar que a nossa autenticidade dá conta do recado a cada vez que somos flagradas quando menos se espera, com os lábios nus.

Como dar conta das nuances de escolhas a que as mulheres têm direito

Como dar conta das nuances de escolhas a que as mulheres têm direito

Em tempos de polarização crescente, é urgente redimensionar com mais nuances o que chamamos de sucesso, especialmente quando falamos de mulheres. Há quem defenda que sucesso é libertar-se das amarras de um mundo machista e misógino: romper com os papéis tradicionais, conquistar autonomia financeira, ocupar espaços de poder e multiplicar as conquistas profissionais. Por outro lado, cresce o coro de quem entende o sucesso como o direito de desacelerar, de ter tempo para cuidar exclusivamente da família, da casa, do corpo e da mente. Entre o “trabalhar até esgotar” e o “abrir mão de tudo para cuidar”, existe um território que pode ser melhor explorado: o das nuances. E aí que temos o desafio e a possibilidade de fortalecer narrativas que estão no meio do caminho. Durante muito tempo, o sucesso feminino foi contabilizado pelo tempo que passava em casa, cuidando do lar e da família. Mais recentemente, para muitas, ficou pautado pelo tempo que passavam fora de casa e por números como cargos, salários, viagens, diplomas. Nenhum dos extremos dá conta completamente da complexidade de ser mulher em um mundo que ainda insiste em nos colocar em caixinhas. Precisamos constantemente reconhecer que há diversos tons de opções entre o “trabalhar sem parar” e o “abrir mão do trabalho”. Mulheres que querem empreender sem abrir mão da maternidade. Mulheres que encontram propósito em cuidar. Mulheres que encontram cura no movimento. E tantas outras que vivem o dilema entre querer tudo e, às vezes, nada. E então entra o verbo mais difícil de praticar: acolher. Acolher as suas escolhas, mas também a das outras mulheres, mesmo quando não faríamos igual. Não significa concordar, mas respeitar. É permitir que a pluralidade de trajetórias femininas exista sem caber num rótulo. É mais trabalhoso do que julgar, porque exige escuta, contextualização, empatia e autocrítica. O acolhimento, diferentemente do julgamento, é expansivo. Quando uma mulher é acolhida em sua escolha, outras também se sentem mais livres para fazer as suas. É assim que o sucesso se torna um conceito coletivo, contextual, e não apenas individual e padronizado. Eu mesma tenho aprendido e reaprendido o significado de sucesso em diferentes fases da vida. Já o associei à visibilidade, à entrega e à pausa. E, entendo, com muita humildade para seguir aprendendo, que o verdadeiro sucesso é poder escolher e ser respeitada por isso. Nem toda mulher precisa ser CEO, nem toda mulher precisa ser mãe. Também não precisa querer o palco ou preferir o silêncio. O que precisamos é de liberdade real para transitar entre esses tons, de acordo com o momento, o desejo e as condições de cada uma. Que a próxima geração possa olhar para nós e ver menos polarização e mais nuances. Que vejam que o sucesso pode ser múltiplo, mutável e, sobretudo, humano. E que, entre tantos tons de cinza, a gente siga pintando a vida com todas as cores e nuances possíveis da escolha, sem tanta culpa, julgamento, e com muito acolhimento.

Dignidade: o direito de existir no próprio espaço, do próprio jeito

Dignidade: o direito de existir no próprio espaço, do próprio jeito

Uma tia. Mas não aquela tia clássica, que “ficou para tia”, a bordar as roupas de todos, rezar pelos parentes e viver para cuidar dos outros. Não. Essa era a tia que havia de ser cuidada. A tia da minha amiga morreu há um mês e deixou toda a família desolada. Era daquelas presenças que, quando se vão, parecem levar consigo uma parte do mundo. Nascida com deficiência neurossensorial — ou, como se diz hoje, neurodivergente; ou, como se dizia no passado, “especial” — ela tinha recebido ao nascer uma sentença de prazo curto: “Não passará dos 30 anos”. Viveu 80. Enterrou avós, pais, irmãos, alguns sobrinhos. Viveu mais do que todos que, de alguma forma, tinham sido educados para cuidar dela, caso a matriarca da família faltasse. A mãe a criou com devoção heroica, movida por aquele medo que só as mães de filhos excepcionais conhecem: não o de perder a criança, mas o de morrer antes dela. “Quem vai cuidar dela quando eu não estiver mais aqui?” Quando soube da morte da tia, revivi o dia em que minha irmã Emi, que tinha Síndrome de Down, nos deixou. Todos nós, parentes de pessoas excepcionais, nos reconhecemos de longe. Há uma espécie de irmandade silenciosa, feita de um mesmo amor desmedido, de uma alegria incomparável e, também, do desamparo da certeza de que o amor não basta, de que o mundo ainda não sabe acolher quem é diferente. Eu vivi isso de perto. Quando minha madrasta morreu, deixou Emi e a escola fundada por ela, com outros 80 alunos. Assumi a direção por muitos anos, amparado por profissionais sérios e amorosos. Vi a ansiedade das famílias, o medo que cresce à medida que os pais envelhecem e os filhos permanecem dependentes. Aqueles anos foram literalmente a maior escola da minha vida. Hoje se fala muito em independência, e é claro que precisamos ensinar, estimular e acreditar na autonomia. Mas nós, os parentes, sabemos o que há por trás do discurso bonito. Que existe um limite duro e cruel, chamado preconceito, que impõe a fronteira entre o mundo dos “normais” e o mundo dos que não se encaixam. Daí sempre nos perguntarmos quem seriam, de fato, os neurodivergentes dessa história. Depois de uma vida inteira morando de favor na casa dos outros, a tia da minha amiga finalmente ganhara a sua. A sobrinha montou tudo: móveis, flores, cores, uma rotina. É claro que sempre foi tratada com muito amor pelos outros parentes, mas sabe como é. Dividir o quarto, depender da boa vontade alheia, estar sempre sob a pergunta silenciosa de “com quem vai ficar agora?”. Quando, enfim, teve o seu próprio lar, ela se tornou, pela primeira vez, senhora da própria vida. Talvez não tivesse plena consciência do que isso significava, mas sabia, lá no fundo, em algum lugar do coração, que aquilo era diferente, e melhor. Vaidosa, divertida, rueira, que adorava se maquiar e ir ao cabeleireiro para passear, a tia descobriu, nos últimos anos, a alegria de receber visitas, de abrir a sua própria porta para alguém. Ligava para a terra inteira fazendo o convite: “Vem me visitar?” Parece pouco, mas é imenso servir um café, escolher a toalhinha, o bolo que vai oferecer. Coisas simples para muitos, mas que para ela eram o símbolo máximo de uma conquista chamada dignidade: o direito de existir no próprio espaço, do próprio jeito. Talvez a verdadeira independência não esteja em viver sem ninguém, mas em viver com liberdade e respeito. Diante da ilusão de que somos nós que cuidamos deles, fortalece-se em mim a certeza de que, na realidade, são eles que cuidam para que não descuidemos da nossa humanidade.

Do K-pop ao samba: como a dublagem carioca dá sotaque brasileiro as produções coreanas

Do K-pop ao samba: como a dublagem carioca dá sotaque brasileiro as produções coreanas

As produções audiovisuais sul-coreanas tomaram conta das plataformas de streaming disponíveis no Brasil e, com elas, uma nova vitrine se abriu para a dublagem carioca. “Miyeok-guk”, “Mió Guk” ou “sopa de algas marinhas”? Nos estúdios do Rio de Janeiro, tradutores, diretores e dubladores se debruçam sobre roteiros vindos do outro lado do mundo para fazer palavras, expressões e melodias distantes soarem naturais aos ouvidos brasileiros. Intérpretes da carioquice: influenciadores, humoristas, especialistas e acadêmicos tentam explicar o jeito único de ser do Rio Rio na cena: 226 gravações externas de 'Vale Tudo' transformaram a cidade em novela Referência nacional no setor ao lado de São Paulo, o Rio se tornou um polo de adaptação de filmes, realities e séries coreanas. Mas, para que essa moda chegue ao público com jeito brasileiro, é preciso um processo longo, técnico e cheio de criatividade dos profissionais da dublagem. — É comum pensar que a dublagem é uma tradução literal da obra original, mas não é. É adaptação. No coreano, por exemplo, a construção de uma frase é diferente da nossa. Você diz “eu coreano falo”, mas em português seria “eu falo coreano”. A dublagem é uma arte que começa na tradução — explica a tradutora Micaela Kim, conhecida como Mica. Filha de pais sul-coreanos, Mica foi alfabetizada nos dois idiomas e mantém laços estreitos com a Coreia do Sul. Ela conta que começou na área em 2020, por acaso. Hoje, é uma das principais responsáveis por tornar familiares os roteiros coreanos ao público brasileiro. — Um amigo produtor precisava de um tradutor de coreano e falou comigo, mas eu recusei. Queria fazer carreira em Tecnologia da Informação. Meses depois, com a pandemia, teve uma explosão nas demandas desse tipo de conteúdo. Ele voltou a falar comigo, mas dessa vez era para “apenas” revisar uma tradução. Não parei mais — relembra. Do “Annyeonghaseyo” ao “Bom dia, tudo bem?” Segundo Mica, o trabalho do tradutor de dublagem vai além de encontrar sinônimos. É preciso compreender ritmo, gestos, sons e cultura — e, acima de tudo —, ter criatividade para adaptar expressões que não possuem equivalência direta, algo comum na passagem do coreano para o português. Quem assiste a um k-drama, por exemplo, nem imagina que um “bom dia, tudo bem?” pode ser a saída para o “annyeonghaseyo” original. Embora o trabalho esteja ligado ao lip sync — a sincronização da fala com os movimentos da boca — realizado pelo dublador, é o tradutor quem sugere o texto. Tradutora Micaela Kim Acervo Pessoal — Se fosse pela tradução literal, essa expressão seria apenas um “oi”. Mas, para o lip sync, às vezes vira um “bom dia, tudo bem?” — explica Mica. Os termos de afeto “ôppá” e “nuná” também entram na lista de adaptações criativas, pois não possuem equivalentes diretos: Ôppá: usado por uma menina ou mulher para se referir a um irmão mais velho ou amigo próximo Nuná: usado por um menino ou homem para se referir a uma irmã mais velha ou amiga próxima Além desses, outra curiosidade é no sonido "RRR" — como se fosse a pessoa fosse arranhar a própria garganta. Os coreanos fazem este som quando querem dar ênfase ou exagerar. Segundo Mica, um bom exemplo para assimilar essa lógica é "essa comida tá muuuito gostosa". — A dublagem está bem feita quando você escuta com naturalidade uma personagem estrangeira falar português. É o que acontece hoje com as produções coreanas, que já têm muitos fãs associando uma voz a determinado ator ou atriz. Mas, para isso, há muito trabalho envolvido — destaca o diretor de dublagem Eduardo Drummond. Veja o antes e o depois de praias e lagoas que foram aterradas no Rio Hora da direção Se você imagina o diretor de dublagem como um mero espectador privilegiado, saiba que a realidade é bem diferente. O processo da dublagem passa por várias etapas: o estúdio recebe o pedido, o roteiro original é traduzido e revisado, um profissional divide a obra em loops — pequenos trechos com 20 segundos de fala — e, só então, o diretor entra em cena. Eduardo Drummond, Silvio Gonzales e Rafael Schubert, três dos principais nomes da direção carioca, explicam que muitas vezes “descobrem” a história quase junto com o público. O diretor de dublagem tem acesso ao material original cerca de um dia antes da gravação. Por isso, em séries com episódios semanais, ele descobre a história praticamente ao mesmo tempo que o público. Ainda assim, é tempo suficiente para orientar os dubladores. Rafael Schubert e Silvio Gonzales Alexandre Cassiano — Somos facilitadores. O dublador não tem acesso à obra com antecedência, então ele grava em cima do que aparece na hora — explica Rafael Schubert. — Precisamos passar o máximo de informações possíveis sobre o personagem e a história, além de ajudar no encaixe do lip sync — completa Silvio Gonzales. Com mais de uma década de experiência, a dupla, que costuma assinar seus trabalhos em conjunto, explica também a diferença entre dirigir uma obra americana e uma sul-coreana — as duas maiores demandas do mercado de dublagem no Brasil. — Nas produções coreanas, nos dedicamos mais às adaptações. Mesmo com as sugestões dos tradutores, há detalhes que só surgem durante a gravação — diz Rafael. — Os coreanos possuem o fim de fala mais alongado que o nosso, por exemplo, então nem sempre é fácil para o dublador encontrar o tempo ou o modo certo para a abertura e o fechamento da boca — conclui Silvio. Roda a Saia, cultura indígena, moda e circo: Zona Sul terá sábado cheio de eventos; veja a programação Eduardo Drummond lembra ainda que faz parte da direção a escala de personagens. Cada obra tem um critério, e em seu último trabalho, Guerreiras do K-pop, ele contou com um profissional essencial: o diretor musical. — Na Coreia do Sul, eles usam um dublador para a fala e outro para a música. Mas o Dudu queria uma pessoa para as duas funções, porque é mais natural para nossos ouvidos. Então, consideramos características vocais e musicais, além de adaptarmos letras — conta Marcus Eni, diretor musical do projeto. As vozes Após traduções, observações e adaptações, chega o momento de oferecer uma voz brasileira ao personagem estrangeiro. Para essa tarefa, são convocados os dubladores. Diferente dos atores de teatro ou cinema, eles não têm tempo de preparação: são chamados ao estúdio para gravar e descobrem o que vão dublar instantes antes de entrarem na cabine. — Você precisa juntar as informações e encontrar sua interpretação quase que de forma instantânea. É diferente do teatro ou do cinema. Na dublagem, o personagem já existe e temos que nos adaptar a ele — conta Analu Pimenta, a voz de Rumi em Guerreiras do K-pop. As guerreiras do K-pop brasileiro: Vic Brown (a Mira), Analu (a Rumi) e Taís Feijó (a Zoey) Alexandre Cassiano No mercado desde 2013, Taís Feijó, que dá voz à Zoey, explica que, embora as produções sul-coreanas estejam cada vez mais populares, elas ainda representam desafios para os dubladores. — As produções coreanas têm mais minimalismo e naturalidade. Então, aos poucos, fomos aprendendo a trabalhar nesse lugar, diferente da intensidade à qual estamos acostumados — afirma. Junto com Vic Brow, Analu e Taís formam as Huntrix brasileiras, protagonistas do filme da Netflix mais assistido no mundo. Contam que, no Brasil, o aumento das obras coreanas fez crescer também o número de fãs da dublagem — e com isso, surgem histórias curiosas. — Uma vez, uma fã me perguntou o que eu pensava de um personagem de um k-drama do qual participei. Só que eu nem sabia que personagem era esse, porque ainda não tinha conseguido assistir à obra e meu boneco não tinha relação com ele — relembra Vic Brow. Muito estudo Marcos Cavalcanti (responsável pela escola de dublagem dublemix), Cid Fernandes, Jeane Marie e Filipe Gimenez Leo Martins Para dublar no Rio, é preciso primeiro se formar em atuação. Depois, com o certificado de ator ou atriz profissional em mãos, o aspirante deve procurar uma escola de dublagem e passar por uma nova formação. O processo não é rápido: pode levar de quatro a seis anos. Ainda assim, muitos dubladores continuam estudando mesmo depois de formados. Esse é o caso de Filipe Gimenez, Jeane Marie e Cid Fernandes, que, mesmo experientes, seguem frequentando as salas de aula. — A escola ensina a técnica do lip sync, a adaptação a outras culturas e a busca pela naturalidade — explica Cid Fernandes. — Ela também mostra como entrar no mercado de trabalho, que não é simples, especialmente em relação ao pagamento do dublador — complementa Jeane. Profissionais autônomos, os dubladores são contratados por obra e recebem pela hora de trabalho, calculada com base nos loops — trechos de até 20 segundos de fala. É também nas escolas que aprendem essa metodologia de cobrança. — De um a vinte loops, você recebe o equivalente a uma hora de dublagem. Mas isso não significa que vá trabalhar por uma hora, porque o tempo de gravação varia. É curioso, mas as escolas ajudam a entender isso — conclui Filipe. Assim, entre loops e adaptações, lip sync e interpretações, a dublagem carioca reafirma seu papel histórico como um dos principais polos de dublagem no país — agora também com as produções coreanas.