Congelamento de óvulos: especialista comenta decisão da ex-BBB Isabelle Nogueira e explica prós e contras

Congelamento de óvulos: especialista comenta decisão da ex-BBB Isabelle Nogueira e explica prós e contras

Em uma recente publicação nas redes sociais, a ex-BBB amazonense Isabelle Nogueira, conhecida como a cunhã-poranga do Boi Garantido, compartilhou com seus seguidores que cogita congelar seus óvulos. Aos 32 anos, ela descobriu que sua reserva ovariana está ligeiramente abaixo do esperado para sua idade, o que a fez refletir sobre essa possibilidade. Mas afinal, quais são os reais benefícios e limitações desse procedimento? Congelamento de óvulos: entenda o procedimento escolhido pela influenciadora Mari Gonzalez Entenda o arrependimento de Ana Hickmann sobre congelamento de óvulos e a fertilidade feminina De acordo com Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo, o congelamento de óvulos, conhecido tecnicamente como criopreservação, consiste no armazenamento dessas células em nitrogênio líquido a -196°C. Essa técnica pode ser indicada por razões médicas, como antes de tratamentos oncológicos que possam prejudicar os ovários, ou diante de doenças que causam falência ovariana precoce. Além disso, muitas mulheres optam por preservar sua fertilidade por motivos pessoais, como o foco na carreira, a falta de condições para ter filhos no momento ou ainda a espera por um parceiro ideal. — O congelamento é uma estratégia importante para quem deseja postergar a gravidez, mas não quer abrir mão da possibilidade de ter filhos no futuro. Isso porque, com o passar dos anos, ocorre uma redução na quantidade e na qualidade dos óvulos, com aumento dos riscos de alterações genéticas, o que pode dificultar a gestação e elevar a chance de abortos espontâneos — explica o médico. No entanto, Dr. Rodrigo ressalta que a técnica não garante uma gravidez futura com 100% de certeza e não deve ser encarada como um seguro definitivo. — Existem vários fatores que podem afetar a viabilidade dos óvulos durante todo o processo. Alguns podem não sobreviver ao descongelamento, enquanto outros podem não ser fertilizados com sucesso. Além disso, mesmo que os óvulos estejam congelados, a mulher continua a envelhecer, enfrentando as questões naturais da gravidez em idades mais avançadas — destaca. Ele acrescenta, porém, que a medicina avançou bastante, e atualmente se espera uma taxa de sucesso no descongelamento e fertilização de cerca de 75% em mulheres com até 38 anos. O procedimento completo para o congelamento dos óvulos dura aproximadamente três semanas. Inicialmente, a paciente passa por exames para avaliar a qualidade dos óvulos e faz uso de pílulas anticoncepcionais por uma ou duas semanas, com o objetivo de suspender temporariamente os hormônios naturais. Depois, são aplicadas injeções hormonais por cerca de 10 dias para estimular os ovários, fazendo com que vários óvulos amadureçam simultaneamente. A coleta acontece sob sedação, com uma agulha guiada por ultrassom que aspira os óvulos diretamente dos ovários, para que sejam imediatamente congelados, detalha o especialista. Embora o procedimento seja considerado seguro, alguns efeitos colaterais são comuns em decorrência da estimulação hormonal. — É esperado que a mulher sinta sintomas como dor de cabeça, instabilidade emocional, inchaço, náuseas e dores musculares, muito semelhantes aos sintomas da TPM. Felizmente, esses efeitos desaparecem com o fim da medicação e podem ser aliviados com acompanhamento médico adequado — esclarece o Dr. Rodrigo. Sobre a faixa etária indicada para a preservação dos óvulos, o médico diz que não há uma contraindicação absoluta, mas o ideal é que seja realizado até os 35 anos, já que quanto mais jovem a paciente, maiores as chances de obter óvulos de boa qualidade capazes de gerar um bebê saudável. Outro ponto importante abordado pelo especialista é o custo do procedimento, que pode variar bastante entre clínicas. — É fundamental que a mulher planeje financeiramente todo o processo, considerando não apenas a coleta e o armazenamento dos óvulos, mas também as medicações envolvidas e, futuramente, a fertilização in vitro, quando ela estiver pronta para engravidar — pontua. Por fim, Dr. Rodrigo afirma que o sucesso do congelamento depende muito do planejamento prévio: — Desde a escolha de um médico especializado até a definição da quantidade de filhos que a mulher deseja ter, tudo isso influencia o número de óvulos a serem coletados e quantos ciclos podem ser necessários. Geralmente, recomenda-se armazenar cerca de 10 óvulos para cada tentativa de gravidez. Para mulheres com até 38 anos, é comum conseguir coletar entre 10 e 20 óvulos por ciclo. Portanto, o planejamento é essencial para aumentar as chances de sucesso.

Corrida prejudica os joelhos? Especialista esclarece por que isso é um mito

Corrida prejudica os joelhos? Especialista esclarece por que isso é um mito

Você provavelmente já ouviu dizer que correr é prejudicial para os joelhos – e até mesmo que pode causar danos a longo prazo. Mas isso é verdade? Confiança em si mesmo: oito formas de fortalecer a autoconfiança, segundo a ciência Vegetal crucífero: O alimento que reduz em 20% o risco de câncer de intestino, segundo novo estudo Correr é uma atividade de impacto relativamente alto. Cada vez que seu pé toca o chão durante a corrida, seu corpo absorve uma força equivalente a cerca de duas a três vezes o seu peso corporal. É fácil imaginar essa carga indo direto para os joelhos – e, de certo modo, vai. Seus joelhos absorvem três vezes mais carga durante a corrida do que durante a caminhada. Mas isso não é algo ruim. Na verdade, correr pode ajudar a manter seus joelhos fortes e saudáveis – aqui está o que as evidências mostram. Feitos para se movimentar Seu corpo não é simplesmente um amontoado de ossos e cartilagem que se desgasta a cada passo. Ele é um sistema vivo e dinâmico, que cresce e se adapta em resposta às cargas que lhe são impostas. E precisa dessas cargas para continuar funcionando. Sua articulação do joelho é incrivelmente forte e feita para se mover. A cartilagem é um tecido conjuntivo forte e flexível, que amortece e protege os ossos da articulação. Há boas evidências mostrando que, quando a carga é retirada – por exemplo, durante repouso prolongado no leito ou imobilização – os ossos e a cartilagem começam a se deteriorar. O impacto da corrida Sabemos que correr reduz temporariamente a espessura da cartilagem do joelho. Essa espessura retorna ao normal algumas horas após o término da corrida. Pesquisadores sugerem que isso pode ser um processo importante que facilita a entrada de nutrientes na cartilagem, ajudando-a a se adaptar e se tornar mais forte. Apoiando essa ideia, evidências mostram que corredores tendem a ter cartilagem mais espessa do que não corredores – especialmente nos joelhos. Corredores também costumam ter melhor densidade mineral óssea do que não corredores. Já foi até sugerido que quanto mais você corre, mais protegido está contra o desenvolvimento de osteoartrite (embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar isso). Tudo isso indica que correr faz bem para a saúde e longevidade dos seus joelhos – mesmo antes de considerarmos os muitos benefícios já conhecidos para o coração e para a saúde metabólica. Estou velho demais para começar a correr? Infelizmente (até onde sei) não há evidências sólidas examinando o que acontece quando alguém começa a correr mais tarde na vida. No entanto, outras linhas de pesquisa sugerem que provavelmente é seguro e eficaz. Um estudo de 2020 demonstrou que adultos mais velhos (65 anos ou mais) que começaram a praticar treino de saltos de alta intensidade (conhecido como treinamento “pliométrico”) não apenas tiveram melhorias na força e na função, como também consideraram a prática segura e agradável. E considerando que esse tipo de treino gera cargas articulares muito maiores do que a corrida, temos uma boa indicação de que começar a correr mais tarde na vida também será seguro e eficaz. Ainda assim, você deve começar devagar. Como em qualquer tipo de exercício, seus músculos e articulações precisam de tempo para se adaptar à nova carga que está sendo imposta. Com isso em mente, o ideal é começar com intervalos em que você caminha por um curto período e depois corre. Assim, você pode aumentar gradualmente a distância de corrida ao longo do tempo, dando ao seu corpo tempo para se adaptar. A má reputação da corrida Acredito que esse mito ainda persiste porque, apesar de todos os benefícios à saúde, quase metade dos corredores sofre algum tipo de lesão a cada ano – e as lesões no joelho estão entre as mais comuns. No entanto, a grande maioria delas é conhecida como lesão por “uso excessivo”, causada por problemas de gerenciamento da carga, e não pela corrida em si. Isso significa que elas surgem porque as pessoas correm demais, muito rápido, sem dar tempo para o corpo se adaptar e se fortalecer. *Hunter Bennett é professor de Ciências do Exercício na Universidade da Austrália Meridional. *Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o original.

Testes genéticos em embriões podem ajudar mulheres acima de 35 anos a conceber mais rápido

Testes genéticos em embriões podem ajudar mulheres acima de 35 anos a conceber mais rápido

Testes genéticos de embriões criados por fertilização in vitro podem ajudar mais mulheres com mais de 35 anos a ter um bebê em menos tempo. A descoberta é de um ensaio clínico realizado por pesquisadores do King's College London, do King's College Hospital e do King's Fertility, todos na Inglaterra. Autismo: governo nacional prepara novo plano para tratamento no SUS Câimbras: por que elas aparecem e como evitar esse susto muscular Publicado no Journal of Clinical Medicine, este é o primeiro ensaio clínico randomizado controlado em todo o mundo a se concentrar exclusivamente em mulheres de 35 a 42 anos, um grupo com maior risco de produzir embriões com anormalidades cromossômicas. Isso pode levar a dificuldades na concepção e aumentar o risco de aborto espontâneo. O ensaio analisou o uso do teste genético pré-implantação para aneuploidia (PGT-A) para verificar a presença de anormalidades cromossômicas em embriões antes da transferência. O estudo também inovou ao incluir embriões em mosaico, aqueles que contêm células normais e anormais, frequentemente encontrados em fertilização in vitro, mas raramente incluídos em pesquisas. "Ao focar exclusivamente em mulheres de 35 a 42 anos e incluir embriões mosaico, abordamos questões que estudos anteriores não exploraram adequadamente. Embora sejam necessários ensaios multicêntricos maiores para confirmar essas descobertas, melhorar a eficiência do tratamento com um tempo menor para alcançar a gravidez e o nascimento de bebês vivos pode reduzir o impacto físico e emocional da fertilização in vitro para mulheres em idade reprodutiva avançada", diz a autora principal, Sesh Sunkara, do King's College London e da King's Fertility, em comunicado. O estudo não cego foi conduzido de junho de 2021 a junho de 2023. Havia 50 pacientes no grupo PGT-A e 50 pacientes no grupo controle. Os resultados mostraram que o teste PGT-A apresentou uma taxa cumulativa de nascidos vivos maior após até três transferências de embriões, com 72% no grupo PGT-A versus 52% no grupo controle. Mulheres cujos embriões passaram por análise genética engravidaram em menos transferências, reduzindo o tempo até a concepção, um fator importante para mulheres em idade reprodutiva avançada. "O número de mulheres que começam a constituir família acima dos 35 anos está aumentando, e mulheres nessa faixa etária têm maior probabilidade de gerar embriões com o número errado de cromossomos. Isso aumenta o risco de implantação malsucedida e abortos espontâneos", diz o médico Yusuf Beebeejaun, primeiro autor do artigo no King's College London e na King's Fertility, em comunicado. "Nossas descobertas sugerem que o uso direcionado de PGT-A nessa faixa etária pode ajudar mais mulheres a ter filhos mais cedo, além de reduzir o impacto emocional de ciclos repetidos sem sucesso." Embora este seja um estudo piloto e a diferença não tenha alcançado significância estatística devido ao pequeno tamanho da amostra, a tendência sugere um benefício potencial que justifica a investigação em um estudo multicêntrico maior.

'Tivemos sorte com os cantores desta geração', diz diretor do San Carlo de Nápoles

'Tivemos sorte com os cantores desta geração', diz diretor do San Carlo de Nápoles

Ílias Tzempetonidis é sinônimo de qualidade da ópera mundial. Ex-diretor de elenco de casas como o Scala de Milão e a Opéra de Paris, o grego é o atual diretor artístico do Teatro San Carlo de Nápoles, erguido em 1737 e o mais antigo teatro lírico do mundo, além de chefiar festivais em Palma de Mallorca e no Tirol. Em 2026, deverá atuar como consultor de um projeto operístico liderado pelo venezuelano Gustavo Dudamel, atual diretor da Filarmônica de Nova York. Tudo isso já torna o concerto da noite desta terça (26) da série O GLOBO/Dellarte numa luxuosa exibição de belcanto. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Lapa deve ganhar edifício residencial em frente à Escadaria Selaron

Lapa deve ganhar edifício residencial em frente à Escadaria Selaron

Localizado em frente à Escadaria Selarón, um dos cartões postais mais visitados do Rio, um terreno com 3,3 mil metros quadrados, usado como estacionamento na Rua Teotônio Regadas pode se transformar no primeiro prédio residencial no coração da Lapa nos últimos anos. Essa é proposta de um decreto editado na semana passada pelo prefeito Eduardo Paes que prevê a venda em hasta pública do imóvel. A previsão do secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento, Gustavo Guerrante, é que o edital com as regras para os interessados em arrematar o imóvel sejam divulgadas em 30 dias. Máquinas de jogos: Paes e Castro ainda não se reuniram para tratar sobre a videoloteria Polêmica: Especialistas explicam que prefeitura pode barrar alvarás de vídeo loterias no Rio Uma das exigências será que, além de unidades residenciais, sejam previstas lojas na frente do imóvel. O número de unidades e metragem serão definidos pelo investidor. Como o prédio fica no entorno de áreas tombadas, a construção será em degraus. O trecho mais próximo da Selarón teria três pavimentos, podendo chegar a dez pavimentos nos pontos mais afastados. Mais de 40 mil vítimas: Mulheres pardas entre 20 e 29 anos são as principais vítimas de violências notificadas por profissionais de saúde — Esse terreno tem potencial para acelerar a revitalização da Lapa e de todo o Centro. A intenção é que seja uma âncora para atrair novos negócios e atividades para o entorno da Selarón. E se encontra na área que recebe incentivos fiscais e urbanísticos do programa Reviver Centro— diz Guerrante. Crueldade: 'Ela não merecia isso', escreve mãe de jovem morta por traficantes na Zona Oeste do Rio O investidor também ficará responsável pela implantação de uma praça que servirá como um dos acessos para a Selarón. A Teotônio Regadas já tem outros investimentos previstos, mas com recursos públicos para transformá-la em uma rua de serviço, com pouco trânsito. A mudança faz parte de projeto em fase de licitação pela secretaria de Infraestrutura que inclui a recuperação de mais duas vias de acesso à atração: Joaquim Silva e Visconde de Maranguape. Essa intervenção deve durar seis meses, ao custo estimado de R$ 1,9 milhão. Valor da área O valor de venda que servirá de referência para o leilão ainda se encontra em análise na prefeitura. Mas, segundo fontes do mercado imobiliário, a estimativa é que o terreno possa valer cerca de R$ 30 milhões. O terreno pertence a uma empresária chinesa que já recusou várias ofertas pela área. Outros empreendimentos próximos à Lapa surgiram nos últimos anos. Lançado em novembro de 1995, o Cores da Lapa teve todos os 688 apartamentos vendidos em menos de duas horas. O condomínio foi construído em um terreno onde existiu uma fábrica da cerveja Antarctica. Os apartamentos estão distribuídos em seis edifícios e 12 mil metros quadrados de área. No ano seguinte, foram vendidos apartamentos do Condomínio Viva Lapa, na Rua Gomes Freire. Vizinho a esse empreendimento, está previsto que um edifício garagem passará por retrofit, convertendo-se em residencial pelo Reviver Centro. Batizado de The INC Lapa, o prédio terá 168 estúdios, piscina, sauna, área gourmet no rooftop, academia, coworking, sala de reunião, lounge, minimercado e lavanderia, além de portaria 24 horas.

Caps de SP passam a oferecer atendimento para vício em apostas e jogos de azar

Caps de SP passam a oferecer atendimento para vício em apostas e jogos de azar

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou nesta segunda-feira (25) uma lei que cria o Programa Estadual de Conscientização e Tratamento aos Malefícios dos Jogos de Apostas Online e Cassinos Físicos. A iniciativa tem como objetivo enfrentar o crescimento da dependência em apostas dentro dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Leia mais: Especialista indica exame que fumantes ou ex-fumantes devem fazer: 'Ele pode salvar sua vida' Inércia do sono: médico explica por que acordar e ficar na cama não é preguiça Para oferecer esse tipo de acompanhamento, os Caps deverão contar com equipes preparadas para lidar com casos de dependência, incluindo psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. Estão previstas ainda terapias em grupo e parcerias com universidades, entidades especializadas e organizações da sociedade civil para ampliar a rede de acolhimento. Como mostrou O GLOBO, o número de brasileiros que se deram conta que as apostas se tornaram um vício e procuraram ajuda profissional nos Centro de Apoio Psicossocial (Caps), do Sistema Único de Saúde (SUS), aumentou nos últimos anos. A quantidade de atendimentos passou de 413 em 2021 para 1.265 em 2024, o que representa um aumento de 206%, segundo dados do Ministério da Saúde. No âmbito nacional, o aumento tem sido considerado um desafio para a pasta. O ministro Alexandre Padilha afirmou que a Saúde está “contratando pesquisas para entender melhor o impacto” dos jogos na saúde mental dos brasileiros e na rede pública de saúde. — Temos um desafio novo na saúde, que é o problema do vício nos jogos, que já impacta a saúde brasileira. Já aumentou a presença nos Caps de pessoas que vão lá e revelam isso, e eu acho que a grande maioria nem revela — afirmou Jogos de apostas causam vício em muitos André Mello/ Editoria de Arte Número de pacientes subestimado Segundo levantamento sobre o impacto das bets na Saúde e Economia divulgado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em maio, na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) faltam profissionais especializados e até mesmo espaço físico para o tratamento. “Há problemas na articulação entre as áreas responsáveis, falta de indicadores específicos para monitorar o problema e poucas campanhas de conscientização sobre os riscos do vício. Além disso, o número de atendimentos registrados como jogo patológico pode estar subestimado e as ações para detectar precocemente casos de dependência são limitadas”, diz o relatório do TCU. O Ministério da Saúde destaca que, de 2022 a 2024, foram habilitadas 653 novas unidades de atendimento da Raps, representando um aumento de 10%. Diz também que o orçamento para ações de saúde mental passou de R$ 1,6 bi em 2022 para R$ 2,2 bi em 2024. Os jogos de apostas on-line cresceram sem controle no país desde que a atividade foi legalizada em 2018. A regulamentação só entrou em vigor em janeiro deste ano. Desde então, apenas empresas autorizadas podem operar. As que não se adequaram foram consideradas ilegais e sofreram sanções, incluindo suspensões de operação. O Painel do Orçamento Federal prevê R$ 10,9 milhões no orçamento do Ministério da Saúde para “prevenção, controle e mitigação de danos sociais advindos da prática de jogos, nas áreas da saúde”. Até o momento, foram investidos R$ 471, 9 mil.

O quadro geral dos atingidos

O quadro geral dos atingidos

O número final ainda está sendo refinado, mas em torno de oito mil empresas foram atingidas pelo tarifaço de Donald Trump. Esta crise afeta as empresas de forma diferente e, por isto, a ajuda do governo foi formatada para socorrer mais quem teve prejuízo maior. O economista Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que até o dia 8 todos os sistemas de financiamentos estarão prontos e espera para a segunda quinzena as primeiras liberações de crédito. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Aterro de Gramacho tem capacidade para acumular 23 milhões de litros de chorume, evitando contaminação do manguezal

Aterro de Gramacho tem capacidade para acumular 23 milhões de litros de chorume, evitando contaminação do manguezal

Destino de dejetos produzidos na cidade do Rio de Janeiro por mais de três décadas, o aterro sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, já foi conhecido como o maior lixão a céu aberto da América Latina. Fechado em 2012, ainda hoje é considerado uma área de risco ambiental. O terreno exige cuidados para evitar que o chorume —líquido proveniente da decomposição orgânica, eventualmente misturado a metais pesados — produzido pelo acúmulo de dejetos contamine o manguezal do entorno, e até a Baía de Guanabara. Essa operação custa R$ 2 milhões por mês à Comlurb, gastos com equipes que cuidam de uma estação de tratamento, além da manutenção de lagoas usadas para armazenar o material poluente. O passivo é tão grande que a expectativa é que Gramacho continue a produzir chorume pelo menos até 2050. Máquinas de jogos: Paes e Castro ainda não se reuniram para tratar sobre a videoloteria Mulheres pardas entre 20 e 29 anos: grupo representa principais vítimas de violências notificadas por profissionais de saúde O despejo de lixo a céu aberto no local — com área superior à do Aterro do Flamengo — foi cena comum entre 1978 e 2006, quando começaram a ser adotadas medidas para minimizar o impacto ambiental na área. A última fase desse projeto foi concluída no mês passado, com a inauguração de nova lagoa de chorume, a sexta de Gramacho, usada para armazenar o material não tratado. — Antes dessa obra, quando chovia forte, tínhamos que adotar medidas para evitar que não vazasse até a Baía. Uma parte do excedente que não conseguíamos tratar nessas condições acabava sendo levada para estações de tratamento de esgoto (ETE) do Rio em solução de emergência — explica Jorge Arraes, presidente da Comlurb. Lagoas de chorume O dirigente da empresa de limpeza pública da cidade chama atenção para a complexidade da rotina local. Parte do chorume acumulado nas lagoas segue para uma estação de tratamento capaz de processar 45 mil litros por hora. O excedente é transportado por caminhões-pipa até áreas que eram usadas para despejo de lixo, onde o líquido passa por nova filtragem. Mesmo após o tratamento, a água usada no processo continua imprópria para o consumo humano e, por isso, é despejada em afluentes do Rio Saracuruna — seguindo regras do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Toda essa estratégia busca evitar a contaminação do entorno, mas o ambientalista Sérgio Ricardo de Lima, do Movimento Baía Viva, faz críticas às ações de tratamento do chorume e ao monitoramento ambiental: — Em quase 40 anos, o lixo despejado em Gramacho foi suficiente para acumular 1,6 milhão de litros de chorume. Essa estação de tratamento é muito pequena para cuidar de tudo isso. E há relatos de que chegou a ficar fora de operação em alguns momentos, poluindo o meio ambiente. Gramacho sofre ainda com outro problema sério. Ao redor da instalação existem aterros clandestinos, que crescem cada vez mais em áreas controladas por traficantes, e geram chorume também — afirma Sérgio Ricardo. O ambientalista acrescenta que pescadores artesanais da Baía de Guanabara atribuem à situação atual em Gramacho dificuldades para exercer seu ofício no entorno do Rio Sarapuí. Com entrada em operação da nova lagoa, Gramacho passa a ter capacidade de acumular até 23 milhões de litros de chorume, o equivalente ao volume de água de 9,2 piscinas olímpicas (cada uma comporta 2,5 milhões de litros). A chegada da sexta estrutura resultou em aumento de 22%, em comparação à capacidade anterior, de aproximadamente 19 milhões de litros. O chorume chega às lagoas por uma vala que circula o antigo lixão. Para evitar a contaminação do solo, essa estrutura recebeu revestimento de uma espécie de argila fina, pouco permeável. Outra parte da operação consiste em monitorar a estabilidade dos terrenos, já que em algumas áreas o lixo armazenado ao longo dos anos chegou a 60 metros de altura, o equivalente a um prédio de 20 andares. —O passivo ambiental deixado por Gramacho era muito grande. Na realidade, quase tudo que a Comlurb prometeu ao desativar o aterro foi cumprido. Os manguezais foram recuperados e foi implantado um polo de reciclagem para os antigos catadores que trabalhavam lá. Mas algumas iniciativas não saíram do papel, como uma parceria com a prefeitura de Caxias para reurbanizar o bairro, degradado por décadas— diz o deputado e ambientalista Carlos Minc, líder do PSB na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Estudos para energia solar Na década passada, através de uma concessão à iniciativa privada, houve exploração e comercialização do biogás formado a partir do lixo em decomposição. Segundo a Comlurb, ainda há emissão de gás metano, mas a quantidade não é mais viável economicamente. Há outras opções em estudo para o futuro uso do terreno. —Uma das ideias é aproveitar áreas de Gramacho que não receberam lixo para implantar uma fazenda de captação de energia solar, para geração de energia elétrica, assim como fizemos em um aterro desativado de Santa Cruz (em fase de instalação de equipamentos). Estudos de viabilidade econômica estão sendo feitos pela iniciativa privada. A gente deve ter os resultados em setembro, para decidir se vamos licitar uma operação do gênero— diz o presidente da Comlurb. Caso o projeto seja bem-sucedido, estima-se que Gramacho teria capacidade de fornecer 50 megawattshora de energia, o suficiente para abastecer até 50 mil residências. Gramacho fechou em definitivo em maio de 2012, às vésperas da Rio +20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A partir daquela época, mais de 9,5 mil toneladas de lixo recolhidas na cidade do Rio de Janeiro e em outros municípios da região metropolitana passaram a ter como destino o Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica (CTR). Quando o aterro sanitário de Jardim Gramacho entrou em operação, em 1978, a legislação ambiental era menos rígida do que a atual. Por anos, o lugar funcionou como um lixão sem qualquer controle, em torno do qual chegaram a se reunir 6 mil catadores, incluindo crianças, que buscavam material reciclável. Boa parte dos resíduos e do chorume produzido chegava aos manguezais e contaminava a Baía de Guanabar. — A ideia de despejar lixo ali às margens da Baia não seguiu critérios técnicos e revela a incompetência dos governantes daquela época. E as gerações seguintes pagam pela falta de planejamento, — critica o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-RJ), Renato Espírito Santo. Perigo aéreo Além de catadores, o descarte diário a céu aberto atraía urubus, que se alimentavam de material em decomposição. Houve ocasiões em que a concentração de aves chegou a atrapalhar as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão). O lixo doméstico ainda era misturado a material oriundo de clínicas e hospitais, expondo os catadores ao risco de doenças. A partir de 1996, Gramacho começou a receber melhorias que a longo dos anos mudaram sua classificação de lixão para aterro controlado, com o material acumulado coberto por mantas.

PM do Rio estuda contratação de central de call center para atender chamadas do 190

PM do Rio estuda contratação de central de call center para atender chamadas do 190

Diante da queda percentual de chamadas atendidas pela central do 190 e a avaliação de uma “deterioração progressiva” no serviço, identificadas no ano passado, a Polícia Militar do Rio analisa a contratação de uma empresa de call center para atender o telefone de emergência da corporação. Com isso, agentes que trabalham no serviço atualmente poderiam ser empregados em outras atividades, como o policiamento ostensivo. A contratação deverá ocorrer por meio de licitação, via pregão eletrônico, com o menor preço como critério de julgamento, conforme prevê um estudo técnico preliminar, elaborado em maio deste ano pela Diretoria Geral de Tecnologia da Informação e Comunicação, ao qual O GLOBO teve acesso. Tentativa de assalto: suspeitos de tentar roubar PM são presos ao dar entrada no Hospital Carlos Chagas com comparsa baleado Segurança pública: PM do Rio pede acesso às câmeras dos ônibus para coibir crimes Ao todo, 188 atendentes terceirizados se dividiriam em turnos de 6 horas diárias, com 40 funcionários simultâneos atuando no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na Cidade Nova, na capital fluminense, onde está instalada a central do 190. O serviço continuará operando 24 horas, nos sete dias da semana, mas com policiais militares apenas como monitores, como acontece em São Paulo, por exemplo. No estado vizinho, são recebidas 50 mil ligações diárias, em média, com atendentes terceirizados registrando os chamados e direcionando para outros setores, informa a Secretaria de Segurança Pública paulista. A supervisão e tomada de decisões, por outro lado, seguem a cargo de policiais. Central 190 pode ser terceirizada na PM do Rio Brenno Carvalho / 31-03-2023 Professora do curso de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense, Jacqueline Muniz pontua que centrais de atendimento já são operadas por civis nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo. Como vantagens enumeradas por ela estão a formação plural e salários 30% menores para ter um atendente qualificado, que passaria por treinamentos de três a seis meses e atuam com protocolos claros. —É melhor gastar a polícia, que é caro, fazendo o policiamento. Mesmo que despacho tenha supervisão policial, isso não é problema nenhum: provavelmente é como vai funcionar aqui e já é assim no Ceará e em São Paulo, são os modelos híbridos — menciona ela, colocando como desafios a reestruturação da estrutura da PM e os trotes (hoje, 6% das ligações). — Não há necessidade de ter porte de arma nem carteira de policial para fazer o atendimento: isso significa economizar na atividade meio, racionalizar a prestação de serviços, reduzindo o tempo de resposta. De acordo com a especialista, as principais demandas da população não são sobre o crime organizado, mas sobre desordens, como som alto, e brigas. Atualmente, perturbação da ordem e violência doméstica são os principais motivos de ligações para o 190 fluminense. Justificativas Fernando Gutman Barbosa, gerente de projetos da PM, assina o estudo de 68 páginas, demandando pelo coronel Gilbert dos Santos, do Centro de Controle Operacional da Polícia Militar (Cecopom). Segundo o texto, foi identificada queda no percentual de chamadas atendidas pelos atendentes do serviço de atendimento de emergência da corporação no ano passado: outubro teve o menor percentual de atendimentos desde o início do monitoramento (que iniciado no ano retrasado): 82,42% das chamadas foram atendidas (o ideal deve estar acima dos 93%), com projeção de piora, “reforçando a urgência de medidas corretivas”. A queda progressiva de atendentes também é citada. Em 2024, a média diária era de 31 atendentes (número considerado o mínimo aceitável para garantir o atendimento), enquanto o número diário chegou a 22 em novembro. Questões de saúde e faltas, as movimentações para outras unidades da polícia estão entre os motivos para essa queda, além do envelhecimento e entrada da reserva de policiais que são substituídos por atendentes do 190 em outros setores. Ao menos 47 praças deixaram o atendimento de emergência desde 2023. Em outubro, 146 policiais, entre subtententes, sargentos, cabos e soldados, estavam lotados no setor. Outro agravante é que setores do interior do Rio — Volta Redonda (5º CPA), Campos (6º CPA) e Teresópolis (7º CPA) —, que tinham ligações encaminhadas para batalhões de área, passaram a direcionar as ligações para a central 190, o que colaborou para o aumento em 24% na média mensal de chamadas recebidas na central 190: o salto foi de 136 mil, em 2023, para 167 mil no último ano, com outubro tendo registrado o pico de atendimentos (200 mil). Desde dezembro do ano passado, o processo para a possível contratação da central de teleatendimento foi aberto e, em junho, suas últimas movimentações foram com a aprovação do estudo e encaminhamento para "fases subsequentes do processo licitatório", conforme reconheceu a Diretoria Geral de Tecnologia da Informação e Comunicação da PM. Em nota, a PM informa pontua que “até o momento, não há qualquer definição a respeito de mudanças no Serviço de Emergência 190”. Custo Em média, a estimativa é que esse serviço tenha custo mensal de cerca de R$ 1,8 milhões ao Estado (R$ 21,8 milhões ao ano), valor 44% maior que o gasto em folha atualmente com os profissionais que trabalham no 190: R$ 1,2 milhão (entre salários e valores de pagamento de hora extra, com o Regime Adicional de Serviço). No entanto, o estudo da PM pontua que “o valor da contratação deverá ter uma redução” após a licitação. A redução com custos de salários e encargos previdenciários são apontados como vantagens, assim como a reposição imediata de mão de obra em casos de baixa, o que não é possível hoje. O antropólogo Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM, lembra que o estado viveu na década passada a experiência de contratar terceirizados para atender no 190, mas que "houve um descuido" e que "havia uma insensibilidade" por parte dos atendentes. O serviço voltou para as mãos de policiais ao fim de um órgão da Secretaria de Segurança. Por isso, para ele, o contrato com os novos atendentes deve deixar claro que a população deve estar "em primeiro lugar". —Deve-se visar sempre o bom atendimento e o amparo, não só uma um atendimento eficiente, mas também esse aspecto emocional das pessoas. Os profissionais têm que ter uma habilidade muito grande. É um serviço de emergência — pontua. Em Sergipe, onde o serviço tem terceirizados desde 2009, 88 atendentes se revezam em quatro turnos para atender as ligações. Eles são os responsáveis por colher informações da ocorrência e encaminhá-las aos batalhões, onde policiais as recebem e encaminham para a rua, enviando alertas para policiais na rua, por exemplo. — Como são funcionários de CLT, caso algum esteja com desvio de conduta, é mais fácil de você corrigir, demitir, por exemplo, e contratar alguém que tem o perfil e se enquadre naquilo que a gente entende como um atendimento padrão — pontua o tenente coronel J. Luiz Ferreira, diretor do Centro Integrado de Sergipe, que atende as ligações do 190 do estado. No Rio, Os atendentes — que devem ser ágeis na digitação, ter mais de 18 anos e Ensino Médio Completo — passarão ainda por uma avaliação psicológica para esse tipo de serviço. A ausência de antecedentes criminais, assim como a “avaliação de conduta social, reputação e idoneidade” do candidato, também serão levados em consideração na contratação. O salário deve ser em torno de R$ 2 mil.

Você tem predisposição genética a doenças?

Você tem predisposição genética a doenças?

Não é novidade que nascemos com certas predisposições genéticas a doenças. A novidade é que com um simples exame feito no DNA da saliva ou sangue podemos identificar e nos prevenir de algumas delas. De nossos 20 mil genes, cerca de apenas cem são testados nesse exame. Por que bem esses genes? Porque testes genéticos devem respeitar aspectos éticos e ter utilidade clínica. Apenas eles são genes que por consenso internacional foram criteriosamente classificados como “acionáveis”, ou seja, se o exame apontar certa predisposição genética, existem ações médicas que comprovadamente podem minimizar o efeito da predisposição. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

'A PrEP não está chegando às pessoas mais vulneráveis ao HIV, como os jovens', diz pesquisadora da Fiocruz

'A PrEP não está chegando às pessoas mais vulneráveis ao HIV, como os jovens', diz pesquisadora da Fiocruz

Havia expectativa no ar este ano na principal conferência de HIV/Aids do mundo, realizada no mês passado, em Ruanda. Por um lado, os cortes de verbas para o combate ao vírus promovidos pelo governo Trump ameaçavam programas do mundo inteiro, principalmente da África Subsaariana. Na outra ponta, a da esperança, a chegada das versões injetáveis dos remédios da profilaxia pré-exposição (PrEP) carregava a promessa de maior adesão de usuários e impacto profundo no controle da infecção. Na delegação brasileira, um nome sobressaía: o da infectologista brasileira Beatriz Grinsztejn, atual presidente da International Aids Society (IAS), associação mundial que promove o encontro. Com mais de 25 anos de trajetória nesse campo, a especialista já acompanhou de perto muitos avanços e entraves na história da epidemia. Na entrevista a seguir, a chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e HIV/Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) fala sobre as novas drogas para prevenir a infecção, a eterna busca por uma vacina e os acertos e limitações do programa brasileiro de PrEP. Durante muito tempo falou-se sobre a tentativa de cura ou de pesquisas de vacina como o grande foco nas buscas pela erradicação do HIV. Recentemente, esses esforços parecem ter se concentrado na PrEP. É isso mesmo? O termo erradicação é extremamente complexo em termos epidemiológicos. E está fora do horizonte. O que a gente busca de fato, e que é viável, é eliminar o HIV como um problema de saúde pública, conforme as metas da OMS para 2030. Isso significa reduzir significativamente o número de novas infecções e mortes relacionadas ao HIV. E a gente continua avançando nisso nos últimos anos com várias estratégias, como testar e tratar, como o acesso universal à terapia antirretroviral e a PrEP. Além disso, é importante destacar que as buscas por uma cura e pela vacina se mantêm. Mas a impressão é de que a PrEP saltou em importância recentemente, principalmente com as novas versões injetáveis. A PrEP é extremamente importante. Mas, isoladamente, ela não vai nos levar a eliminação do HIV como um problema de saúde pública. Isso tem que vir num contexto da testagem ampliada, do acesso ao tratamento antirretroviral. A gente ainda tem no mundo 9,2 milhões de pessoas que vivem com HIV e que não estão em tratamento. Isso corresponde a mais ou menos 25% das pessoas que vivem com HIV. São várias estratégias combinadas, que variam conforme o momento da vida da pessoa. A corrida por uma vacina continua aquecida, então? As pesquisas continuam. Porque o mundo vive crises de financiamento, e para se manter uma política de PrEP é preciso ter dinheiro, investimentos para os insumos continuarem disponíveis. Na perspectiva de saúde pública, o acesso a uma vacina é muito diferente disso. Uma pesquisa publicada na Science recentemente voltou a trazer esperança ao campo das vacinas contra o HIV. Os imunizantes testados induziram anticorpos em 80% dos casos usando a tecnologia de RNA mensageiro. Essa abordagem é promissora? Esses estudos em humanos e macacos oferecem novas pistas na longa busca por uma vacina para o HIV. Os autores destacaram que se trata da primeira vez que uma vacina contra o HIV gera anticorpos capazes de neutralizar a infecção em uma porcentagem significativa de sujeitos. No entanto, as vacinas não estimularam anticorpos amplamente protetores como o necessário para uma vacina ser bem-sucedida. O programa de PrEP brasileiro já tem oito anos de existência. Como ele impactou nossa realidade? Nesse quesito, o Brasil foi novamente pioneiro, assim como havia sido lá atrás, na década de 1990, em relação ao acesso universal à terapia de retroviral. Temos acesso universal à PrEP, qualquer pessoa que se identificar com a necessidade de usar pode procurar o Sistema Único de Saúde (SUS). Na América Latina, somos o país com o maior número de usuários de PrEP. Desde o início da oferta no SUS, 274.216 pessoas iniciaram o uso. Hoje, 66%, ou 128.573 pessoas, estão em uso ativo, mas 65 mil descontinuaram. Qual é a estratégia do programa? É uma política que se estende ao país inteiro, com 1.170 pontos de dispensação. As estratégias são diferentes conforme as cidades ou os estados. No município do Rio de Janeiro, por exemplo, um avanço muito importante que se deu foi o acesso por meio do programa de atenção primária e de saúde da família, além dos serviços especializados. Isso levou à expansão do programa. A cidade de São Paulo trabalha de forma diferente, com outras abordagens de extremo sucesso, como a estação de prevenção no metrô, que funciona até as 23h com máquinas tipo “vending machines” onde você pode retirar a PrEP ou a PEP (o tratamento pós-exposição ao vírus). E quais são as lacunas, onde dá para melhorar? É importante ressaltar que a maior parte dos usuários de PrEP não é de jovens entre 18 a 24 anos, eles só representam 10% do total. E o maior número de novas infecções pelo HIV no Brasil acontece justamente nessa faixa. Então, a gente ainda não tem a PrEP chegando às pessoas sob maior vulnerabilidade. Também é preocupante a taxa de descontinuação, que se dá mais entre os indivíduos pardos e pretos e com menor escolaridade. Como explicar o fato de os mais jovens não serem tão atingidos pelo programa? A gente tem uma questão muito séria de conservadorismo no nosso país. Bancadas conservadoras impedem que a educação sexual nas escolas possa acontecer. Então, não temos de fato um conhecimento sendo disseminado entre os jovens sobre a saúde sexual, sobre a prevenção primária do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Temos hoje uma grave epidemia de sífilis no Brasil, por exemplo. No início do programa, se falava mais de públicos mais vulneráveis ao contato com o vírus, como os homens que fazem sexo com homens e as profissionais de sexo. Isso mudou? Ainda se ouve falar pouco da inclusão de mulheres. Em tese, a PrEP está disponível para qualquer pessoa que tenha interesse em usar. Então, não existe uma restrição ao uso entre mulheres, pelo contrário. Mas ele chega a elas de forma ainda muito limitada. O conhecimento sobre PrEP — e agora entra de novo o fator educação — entre mulheres cis é relativamente baixo, inclusive entre aquelas que se encontram sob maior vulnerabilidade. Além disso, existem barreiras estruturais, culturais, institucionais que dificultam o acesso. O próprio machismo estrutural nos serviços de saúde faz com que os profissionais muitas vezes não abordem a sexualidade das mulheres abertamente e deixem de considerar que elas potencialmente podem estar expostas ao HIV. Precisamos então ampliar o entendimento das pessoas sobre a PrEP? Temos que diversificar as narrativas em relação aos seus benefícios, explicar que ela não precisa ser uma solução aplicada para a vida inteira da pessoa, pode muito bem ser usada em determinados momentos de maior vulnerabilidade. E que ela não deve ser ofertada apenas como uma resposta a situações de risco, mas também como parte da promoção de saúde sexual e da autonomia das mulheres. As PrEPs injetáveis estão avançando no mundo, com doses mais espaçadas e em tese uma adesão maior. Estamos preparados para receber o cabotegravir (profilaxia com injeções a cada dois meses)? Fizemos um grande estudo de implementação no Brasil que incluiu 1.200 pessoas, entre homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, pessoas não binárias. Ele foi realizado em seis serviços de saúde pública do SUS. Os dados iniciais foram apresentados no início deste ano e houve uma excelente aceitação do medicamento: 83% das pessoas a quem foi ele foi ofertado junto com outras opções escolheram o cabotegravir. O estudo foi feito justamente para a população entre 18 e 30 anos, que é onde acontecem a maior número de infecções. O que falta para ele ser oferecido? Ele já está registrado na Anvisa, mas não foi incorporado ao SUS por questões de inadequação dos preços. Ainda não se chegou ainda a uma negociação viável de preços para que o Brasil possa de fato incorporar essa tecnologia. E o nosso estudo de implementação do lenacapavir ((PrEP com duas injeções por ano)? Quando virá? Ele já está pronto e deve ser iniciado no segundo semestre deste ano. Tem financiamento da Unitaid (iniciativa global para HIV/Aids, malária e tuberculose) a apoio irrestrito do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz. Vamos fazer em oito centros, para o mesmo público do cabotegravir: homens que fazem sexo com homens, população trans e pessoas não binárias. A Gilead, do lenacapavir, e a ViiV, fabricante do cabotegravir, fizeram acordos de produção de genéricos em alguns países com o Medicines Patent Pool (organização da ONU para garantir acesso a medicamentos essenciais). Quantos países serão contemplados? Isso inclui o Brasil? São 136 territórios cobertos pela licença do cabotegravir, 120 países da Gilead. Praticamente toda América Latina está fora desse acordo. O Brasil, então, não tá coberto por nenhum dos dois. Teremos que pagar o preço cheio? Essas são negociações que se dão com o Ministério da Saúde. A gente espera que as empresas tenham sensibilidade para uma negociação com preços justos. Qual será o impacto de uma eventual incorporação dessas PrEPs injetáveis nos programas brasileiros? Hoje, temos dificuldade na expansão da PrEP e entre os mais jovens. E a gente vê que a persistência das pessoas no programa é pior entre as pessoas menos escolarizadas, mais pobres, e entre pardos e pretos. Essas novas estratégias com drogas de longa ação podem ser úteis não só para aumentar o interesse na PReP como melhorar a persistência. Esses injetáveis acabarão com a PReP de comprimido? Essas drogas são fundamentais para aumentar o interesse e o portfólio. Cada forma de PrEP pode ser adequada a um momento da vida do indivíduo. Não existe uma única solução. A gente viu com os contraceptivos como novas formas que surgiram ao longo do tempo ampliaram muito o uso em geral. Sempre haverá um espaço para a PrEP oral, que é muito mais barata e é extremamente eficaz. Vivemos um momento de incerteza na economia global com as taxações do governo Trump e os desmontes de programas de saúde. Como isso afeta o quadro de HIV/Aids no Brasil? As políticas do atual governo americano de cortes de verbas, de extinção da USAID e de restrições ao PEPFAR (iniciativa dos EUA lançada em 2003 para destinar verbas a programas contra HIV/Aids no mundo todo) não atingem nem acesso, nem o tratamento, nem a prevenção do HIV no Brasil. Existe uma concepção equivocada de que recebemos algum tipo de auxílio externo para manutenção de seus serviços, mas não. Tudo é oferecido pelo nosso SUS. Entretanto, em outras regiões do planeta e para outros países, a situação é muito diferente. Quem será mais afetado? Os países da África Subsaariana foram os mais atingidos com a extinção da USAID e com os cortes substanciais feitos no PEPFAR. E isso é extremamente grave porque esses países tinham uma dependência da iniciativa que correspondia em alguns casos a 80% do montante de seus programas de prevenção. É dramático. No longo prazo, como os cortes impactam o cenário? O PEPFAR foi um programa de extremo sucesso, ele salvou 26 bilhões de vidas. Mas é impossível a gente imaginar que ele fosse continuar exatamente como estava para todo sempre. Adaptações são necessárias. O que é inconcebível é executar cortes de forma radical, sem preparação nenhuma. Mas é esperado que os países ao longo do tempo adquiram propriedade sobre os seus programas e não fiquem numa dependência externa tão violenta. Do lado mais esperançoso, mesmo o corte não tendo sido algo bom, dá para ver no cenário uma movimentação que rearranje um pouco essa dinâmica e crie um multilateralismo dos programas de HIV no mundo. Segundo o último relatório da Unaids, o Brasil atingiu duas das três metas de 95%. Em 2024, 96% das pessoas que viviam com HIV conheciam seu diagnóstico e 95% das pessoas em tratamento estavam com a carga viral suprimida. Porém, só 82% das pessoas que sabem que vivem com HIV estavam em tratamento antirretroviral. O que falta para atingirmos esse objetivo? A questão tem a ver com acesso. Embora a gente tenha um programa de acesso universal, quando falamos do individual as coisas se complicam. O HIV é um dos elementos na vida das pessoas, e para muitas está longe de ser uma prioridade. Quando se trata de pessoas menos escolarizadas, mais empobrecidas, em situações de autoestigma, com dificuldades na aceitação do diagnóstico, tudo isso afasta. Muitas vezes, os serviços de saúde não são amigáveis. Também temos uma situação importante que é o desengajamento do cuidado, quando a pessoa que já começou a se tratar parou. Isso se acentuou durante a pandemia e no pós-pandemia. Essas pessoas não necessariamente já voltaram aos serviços. O Brasil já foi referência no mundo de programa de HIV/Aids. Isso se mantém? O Brasil ainda ocupa esse lugar, mais do que nunca. Num momento em que a gente vê esses cortes e essa enorme dependência de países para manter os seus programas, temos uma situação única, de autonomia. Somos um exemplo de integração de políticas contra o HIV. No ano que vem, a conferência de HIV/Aids da IAS será no Brasil. Qual é a expectativa? Será importantíssimo. Esperamos trazer 10 mil pessoas para o Rio de Janeiro. É muito importante trazer os olhares para a situação da América Latina, que é uma das únicas regiões no mundo onde o número de novas infecções pelo HIV continua a crescer. Entre 2010 e 2024, tivemos um aumento de 13% nas novas infecções pelo HIV, principalmente nas populações mais vulnerabilizadas, de jovens, pardos e pretos e pessoas com menos escolaridade.

Tarcísio acelera

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Ao mesmo tempo que reafirma sua lealdade quase suicida ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pisa no acelerador no discurso de candidato à Presidência da República, reproduzindo até o famoso slogan de um dos mais populares presidentes brasileiros, Juscelino Kubitschek. Fazer 40 anos em quatro é uma promessa de palanque de Tarcísio, que nunca antes havia ultrapassado a linha imaginária que separa o sonho da realidade. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Bolsonarismo vê arranjo do ‘sistema’ para forçar candidatura Tarcisio

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Uma sequência de eventos com a presença de potenciais candidatos da direita à presidência da República nos últimos dias, em especial Tarcísio de Freitas, e a divulgação da última pesquisa do PL para as eleições de 2026 causaram uma convulsão nos setores mais radicais do bolsonarismo. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.