Diagnosticada com esclerose múltipla, top Carol Ribeiro fala da convivência com a doença: 'Não é uma sentença de morte'

Diagnosticada com esclerose múltipla, top Carol Ribeiro fala da convivência com a doença: 'Não é uma sentença de morte'

"Terei menos tempo de vida?” “Vou morrer?”. Essas foram as primeiras perguntas que a modelo e empresária Carol Ribeiro fez ao neurologista Rodrigo Thomaz, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, ao descobrir o diagnóstico de esclerose múltipla, em abril do ano passado. Até então, a jornada tinha sido longa e dolorida: sintomas como visão turva, braço esquerdo que não obedecia aos comandos, fadiga extrema, calorões e passadas mais lentas em desfiles, em crises que iam e voltavam, a atormentavam há dois anos. “Algumas coisas acontecem para te acordar e dar um recado, que é: observe-se mais, escute seu corpo. A vida não é só trabalho”, diz ela, durante duas horas de entrevista, no escritório da Prime Mgmt., agência de modelos da qual é sócia, na capital paulista. É comum que a doença, crônica, e que atinge o sistema nervoso central, prejudicando os movimentos e a fala, seja confundida com outras condições; no caso da top paraense, as suspeitas eram, inicialmente, de uma possível entrada na menopausa e síndrome do pânico. “Não é um diagnóstico rápido. Sou a louca do estudo, de querer entender tudo, e sempre fui mais objetiva. A realidade é essa? O.k., vamos trabalhar com o que temos para não sofrer depois. Mas quando você ouve esclerose múltipla, é um baque.” Vestido e luvas Cris Barros, colar Swarovski, meia-calça Calzedonia e sapatos Birman Gustavo Ipolito Aos 45 anos e 30 de carreira, com trabalhos para grifes como Louis Vuitton, Gucci, Saint Laurent e Balmain e incursões nas coberturas do tapete vermelho do Oscar pelo canal TNT, Carol despertou para um novo recomeço. A doença, entendeu, não é uma sentença de morte ou de uma má qualidade de vida. Com o apoio irrestrito do marido, o publicitário Paulo Lourenço, de 54 anos, e do filho, João, de 21, ela iniciou o uso de imunomoduladores, medicação injetável aplicada de 6 em 6 meses para frear o avanço da esclerose múltipla. Incluiu os exercícios físicos na rotina de forma definitiva e mudou a alimentação, cortando em 100% os industrializados. E, o principal: olhou para dentro e deu uma chance à terapia pela primeira vez. “Nunca achei que precisasse. Mas mudou minha percepção de algumas coisas. A gente precisa se permitir ser vulnerável e mais positiva”, garante. Um ano e meio após o diagnóstico, como você está se sentindo? Tomei a terceira dose do imunomodulador em junho e estou muito bem. É uma adaptação. A esclerose múltipla tem muitos sintomas, e eu tive um pouco de todos, mas não deixaram sequelas. A hipótese é que eu tenha tido duas grandes crises, uma em 2015 e outra em 2023. Quais foram esses sintomas? Há dez anos, senti que não controlava os movimentos do braço esquerdo. Quebrei muitos copos, “me batia” ao lavar o cabelo. Em exames de imagem, o médico acreditou ser consequência de um acidente de carro que sofri aos 17 anos quando morei no Japão. Fiz três meses de fisioterapia e passou. Em agosto de 2023, correndo na orla, em Miami, perdi a noção de espaço e tive um cansaço estranho, a visão turva. Depois, fiquei 17 dias sem dormir direito, suava, sentia um calorão. Suspeitei de síndrome do pânico e talvez o início da menopausa, porque as crises pioravam perto do período menstrual. Vestido Isabel Marant, colar Cartier, luvas Minha Avó Tinha, e meia-calça Calzedonia Gustavo Ipolito Viveu uma via crucis de médico em médico? Primeiro, fui ao ginecologista, e as minhas taxas hormonais estavam normais. Depois, um endocrinologista me passou remédios para a tireoide. Conversando com a (médica e modelo) Ana Claudia Michels, de quem sou muito amiga, ela disse para eu não tomar nada disso, porque não tinha nada na tireoide. Voltei ao ginecologista, e ele falou que eu precisava parar, escutar meu corpo. Aí, me encaminhou para um neurologista. Após muitos exames, o diagnóstico veio em abril do ano passado. Estudos dizem que a menopausa pode afetar mais as mulheres com esclerose múltipla. Já procurou tratamento hormonal? Os níveis de estrogênio, hormônio que ajuda a regular o sistema nervoso e imunológico, diminuem na menstruação e na menopausa. Por causa da doença, tenho muito mais os sintomas. Comecei um tratamento com implantes hormonais e ainda estamos em fase de ajustes, mas, em 40 dias, voltei a ser a Carol de antes, bem melhor, tipo “Mulher Maravilha”. Foi duro falar publicamente do assunto? Falei sobre a doença em um evento em abril deste ano, e as pessoas ficaram em choque. Mas já era algo resolvido para mim, então, não. É preciso desmistificar a esclerose múltipla como uma coisa que te incapacita. Estou conseguindo conviver com ela, mas sei que tenho privilégios. A medicação que você toma custa 200 mil reais por dose. O acesso foi difícil? A autorização do plano de saúde demorou 17 dias, mas pareceu muito mais. Tem quem esteja batalhando há um ano, só que tudo depende de como o médico faz o laudo. É possível conseguir o remédio pelo SUS, mas o que complica é receber o diagnóstico certeiro. Camisa Burberry na Trash Chic, luvas Cris Barros e pulseira Swarovski Gustavo Ipolito O que mudou na sua rotina? Evito álcool, embutidos, não posso comer nada cru ou mal passado e evito alimentos industrializados. No geral, estou mais saudável do que antes, porque me alimento melhor e incluí os exercícios físicos na rotina de forma definitiva. A doença te fez procurar terapia? Sim. Nunca havia feito, era cética, pensava que ninguém resolveria meus problemas. Mas é interessante porque abre caminhos, organiza os pensamentos. Sempre fui mais objetiva e realista, e a gente precisa se permitir ser vulnerável e mais positiva. Pensar que, sim, as coisas vão dar certo. Você e Paulo estão casados há 29 anos. Como ele ajudou você a lidar com tudo isso? Paulo é meu porto seguro. Todo mundo precisa ter o privilégio de ter alguém com quem possa ser vulnerável. Não gosto de ninguém me amansando ou dizendo “coitadinha da Carol”. Mas se tem alguém que pode fazer isso, é ele. Eu chorava, e ele se mantinha forte, mas o medo era grande. Quando o período crítico passou, percebi que ele também precisava de suporte. Já declarou que tinha tendência a ser uma mãe superprotetora. como trabalhou a independência do seu filho, João? É preciso respirar fundo e confiar. Teve a ver com ele ganhar o mundo aos 17 anos, quando foi estudar nos Estados Unidos. Hoje, faz faculdade de Economia em Miami. Mas é um trabalho eterno de entender que ele já cresceu. João é filho único, e vamos querer cuidar dele para sempre. Top Intimissimi, camisa Rober Dognani, luvas Minha Avó Tinha, pulseira Swarovski, calça Aläia na NK Store, cinto Virgínia Cavalheiro, meia-calça Calzedonia e sapatos Schutz Gustavo Ipolito Como vê os influenciadores na moda? Há lugar para todos, mas tudo depende do objetivo do estilista. Se ele quer colocar 10 influencers na passarela, ok, mas perde a essência, porque o foco se torna a pessoa e não a peça. Entendo que o número de seguidores é importante, um caminho sem volta. Mas é preciso ter personalidade, saber se comunicar, estar forte na moda, ter o que dizer, para depois se tornar um influenciador. No último ano, houve um troca-troca dos diretores criativos nas marcas de luxo. Como analisa esse movimento? Todo mundo está perdido. Quando uma marca abraça uma causa, é preciso ir até o fim, porque se parar no meio, “quebra”. Não dá para levantar a bandeira da diversidade, por exemplo, se não puder sustentá-la. O mercado também surfou na onda dos rappers, da rua, dos sneakers... As marcas tentaram ser modernizar, mas qual é o DNA delas? Como surgiram? Não dá para se afastar muito disso. Economicamente também há uma crise mundial no luxo. Vê saída para esse problema? O luxo ainda está tentando se entender, vivemos um processo de mudança. Os valores praticados hoje não cabem na realidade. Quiseram propagar a ideia de que a moda é democrática, mas é uma mentira, não faz parte da realidade de todos. E não precisamos de um item de marca para sermos importantes. No caso do Brasil, o futuro da moda, a longo prazo, é conseguir unir forças com conhecimento estético, ancestral, um olhar refinado no fazer, para que isso se torne o nosso luxo.

Quem são os 'caçadores de gringos', agentes especializados em prender foragidos americanos no México

Quem são os 'caçadores de gringos', agentes especializados em prender foragidos americanos no México

Por que um avião da Força Aérea dos Estados Unidos pousou no Brasil? Na tarde de 09 de abril de 2025, os agentes da Unidade de Ligação Internacional (UEI, na sigla em espanhol) realizavam uma operação, como tantas outras, na cidade mexicana de Tijuana, que faz fronteira com os Estados Unidos. À frente do grupo estava Abigail Esparza Reyes, uma experiente agente da UEI — corporação responsável pelas operações de monitoramento e captura de criminosos foragidos — principalmente americanos — que fogem para o México para se esconder. O alvo da operação era César Hernández, 35 anos, um homem condenado na Califórnia por assassinato, mas que conseguiu fugir durante uma transferência prisional em dezembro de 2024. Ele foi para Tijuana, onde tentou recomeçar a vida. A UEI, que atua em estreita colaboração com agências federais dos EUA, tinha localizado Hernández. E, por volta das 14h, foi realizada uma operação para prendê-lo. "Ele estava em um condomínio particular. Tinha a entrada e saída controlada", explica Eduardo Villa Lugo, jornalista especializado em segurança. Mas algo deu errado durante a operação. "Quando os agentes estavam entrando, coordenados por Abigail, começaram a atirar contra eles. Eles revidaram, mas o sujeito conseguiu escapar pelos fundos da casa", conta o jornalista. Um dos tiros, disparado do segundo andar da casa, atingiu Abigail. O socorro médico não pôde evitar sua morte, confirmada minutos depois dela dar entrada no hospital. Hernández fugiu nu, passando pelos telhados de outras casas do condomínio até alcançar uma rua, onde encontrou roupas em um carro estacionado, se vestiu e saiu caminhando calmamente. "Parecia cena de filme", conta Villa Lugo. Abigail Esparza Reyes tinha 33 anos e coordenava a operação quando foi baleada SSC via BBC Alguns dias depois, Hernández foi preso em outra área de Tijuana. Mas o estrago já estava feito: a morte da agente Abigail Esparza foi o golpe mais duro que a UEI sofreu em mais de 20 anos de operações bem-sucedidas. A corporação já conseguiu prender mais de 1.500 foragidos — quase todos americanos — que tentavam se esconder na área de fronteira do estado da Baixa Califórnia. Sua eficiência, baseada em análises de inteligência e planos cuidadosamente elaborados e executados, lhe rendeu reconhecimento tanto das autoridades do México quanto dos Estados Unidos. O trabalho da UEI também chamou atenção da imprensa. Em 2022, o jornal americano The Washington Post publicou uma reportagem sobre os agentes, a quem chamou de gringo hunters ou "caçadores de gringos", em português. O apelido foi usado por outros veículos e até mesmo pela Netflix, que lançou uma série de ficção baseada nas atividades de UEI. Agências dos EUA, como o FBI, a DEA, e os U.S. Marshals mantiveram, ao longo dos anos, uma estreita colaboração com a UEI, algo que não aconteceu com outras corporações de segurança mexicanas, nas quais os americanos não costumam confiar. "A comandante Abigail Esparza Reyes foi um pilar de caráter excepcional e dedicação ao serviço de sua comunidade. Será lembrada por sua valentia, seu serviço e seu sacrifício supremo", declarou o escritório do xerife do condado de San Diego, do outro lado da fronteira. A morte da agente levou a UEI a se afastar da exposição pública. A BBC Mundo — serviço em espanhol da BBC — solicitou uma entrevista com a unidade, que foi negada. Autoridades americanas costumam desconfiar das forças policiais mexicanas, o que dificulta cooperação entre elas Getty Images via BBC Villa Lugo também conta que, depois do falecimento da agente, os U.S. Marshals organizaram um evento e uma corrida beneficente em apoio à família dela. No México, houve uma homenagem oficial com a participação de autoridades dos EUA. "Existe uma irmandade entre a Unidade de Ligação e as corporações americanas." O analista de segurança Víctor Sánchez destaca que "o grande mérito da Unidade de Ligação Internacional é que lhe encarregaram missões, conduzidas com sucesso e, com isso, se construiu uma relação de confiança" com as autoridades americanas. "Normalmente, há certa desconfiança das autoridades dos EUA em relação às mexicanas para compartilhar informações, devido aos níveis de corrupção e às fragilidades institucionais", explica. Prisão e entrega rápida Em nível federal, não existem outras agências ou unidades locais no México que realizam trabalhos de monitoramento e prisão de forma equivalente à UEI da Baixa Califórnia. O porta-voz da Secretaria de Segurança e Proteção Cidadã (SSPC) federal explicou à BBC Mundo que, embora haja colaboração com os EUA em pedidos de prisão, e que já tenham sido efetuadas dezenas de capturas de foragidos — incluindo um que estava na lista dos 10 mais procurados pelo FBI em março — não existe uma unidade especializada em estrangeiros. Na Baixa Califórnia, por outro lado, muitos agentes e líderes de equipe recebem treinamento nos EUA em trabalhos de inteligência e táticas. "Alguns coordenadores têm capacitações até mesmo de caráter militar ou semimilitar em operações e elaboração de estratégias", destaca Villa Lugo. Quando as autoridades americanas identificam que um foragido da Justiça cruzou a fronteira para o México, elas podem solicitar a colaboração de equipes como a da UEI para realizar o monitoramento e prisão. É nesse momento que acontece a troca de informações. "Parte do processo de investigação acontece em instâncias americanas. Eles dizem: 'localizamos uma conta bancária, ou um sinal de celular, ou um e-mail de determinado IP com tal localização'. E como não tem autoridade no México, pedem apoio", explica Sánchez. Os agentes especializados da UEI preparam um plano de monitoramento e, quando o alvo é localizado, elaboram e executam uma operação para prisão. Como os alvos são pessoas individuais, isso implica o uso de um número menor de agentes, diferente das grandes operações contra o narcotráfico realizadas pelas autoridades estaduais e nacionais. O monitoramento de alvos, sem levantar suspeitas, é fundamental para o trabalho da UEI Getty Images via BBC Isso também lhes permite agir com mais discrição. Os agentes podem usar veículos e roupas sem as iniciais das corporações de segurança, ou algo que os identifique, durante as tarefas de monitoramento. Assim, não levantam suspeitas. Mas, quando deflagram uma operação, agem rapidamente: cercam o alvo e o prendem, identificando-se como agentes de segurança. E, da mesma forma que a prisão é rápida, a entrega às autoridades americanas também é. "O alvo não é preso para ser processado pela Justiça mexicana e depois ser deportado. O que acontece é uma deportação direta: parte-se do princípio que a pessoa entrou como turista, ultrapassou o tempo permitido (3 meses) e, por isso, é enviada de volta ao seu país", explica Sánchez. Os presos são levados até os postos de fronteira com os EUA e entregues para os agentes norte-americanos, que imediatamente assumem a custódia. Essa dinâmica acontece principalmente nos Estados fronteiriços. Mais ao leste, no Estado mexicano de Chihuahua, existe outra unidade especializada na busca e captura de americanos foragidos, que são devolvidos via o Estado do Texas. No entanto, eles registram poucos casos de prisão em comparação com a UEI, segundo Sánchez. "Tijuana (Baixa Califórnia) é, junto com a Ciudad Juaréz (Chihuahua), a fronteira com maior interação com os EUA, com muitos mexicanos e americanos atravessando de um lado para outro, famílias com integrantes nos dois lados. E o poder de captura envolve a entrega rápida dos detidos", explica o especialista. Um espaço seguro para 'gringos'? Nos últimos anos, o número de estrangeiros no México se diversificou, mas os de nacionalidade norte-americana têm, historicamente, predominado. Atualmente, eles somam quase 2 milhões de pessoas. Muitos mexicanos tendem a ser receptivos com os estrangeiros, o que faz do país um local relativamente tranquilo para aqueles que fogem da Justiça dos Estados Unidos ou de outro país. "É muito comum que eles fujam para o México por três motivos: primeiro, pela grande fragilidade institucional, com menos mecanismos para investigar; segundo, por questões culturais — é um país turístico que recebe bem o estrangeiro e não questiona se ele cometeu crimes, então, eles se sentem à vontade; e terceiro, pelo nível de renda. É possível ter uma vida aceitável sem muito dinheiro", explica Sánchez. Quase 100.000 pessoas e veículos passam diariamente por Tijuana e San Diego Getty Images via BBC Mas a dinâmica social da fronteira é diferente do resto do México ou dos Estados Unidos. A fronteira do noroeste, em especial, é uma das mais movimentadas do mundo. "Há um modo de vida muito homogêneo. Tijuana tem uma grande dinâmica de trabalho, de economia, de tudo, com San Diego. E muitas pessoas que vivem em San Diego têm familiares em Tijuana. Se alguém comete um crime ali [Califórnia], atravessa a fronteira e se esconde em Tijuana, que é uma cidade muito grande", explica Villa Lugo. "É muito fácil se estabelecer dessa forma e também porque há muitas pessoas com dupla nacionalidade", acrescenta. O México tem sido considerado um espaço seguro para os americanos não apenas por motivos criminais. Historicamente, houve outros tipos de migrações, por exemplo, por perseguições religiosas, como os milhares de norte-americanos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que atravessaram a fronteira no final do século 19. Um modelo, mas apenas para algumas áreas Embora existam outros lugares no México com um grande número de americanos, como em San Miguel de Allende (Guanajuato), a região à beira do lago Chapala (Jalisco) ou a Cidade do México, nessas áreas não existem unidades especializadas no monitoramento e captura de foragidos dos EUA. Segundo Sánchez, isso se dá porque a dinâmica social da fronteira não é igual a de outras partes do país, vistas como destinos mais turísticos ou para aposentadoria. Os foragidos americanos tendem a permanecer em áreas que consideram "conhecidas", como as regiões fronteiriças. Mas a grande capacidade da UEI, baseada em planejamento, inteligência e uma cooperação especial com as agências americanas, poderia servir de modelo em locais com alta presença de americanos. "Tem muito a ver com a incidência de crimes. Se há algum Estado com um grande número de cidadãos americanos que cometeram crimes, e usam essa região para se esconder, faria sentido ter unidades assim", considera Sánchez. Já em outras partes do país, não. A série da Netflix é uma ficção baseada nos tipos de operações executadas pela UEI Netflix via BBC Outro fator que deve ser levado em conta é o tipo de crimes que se vê nos casos acompanhados pela UEI. A maioria é grave: assassinatos, estupros, violência ou fuga da prisão, mas, no geral, são crimes cometidos por indivíduos que não fazem parte de uma grande organização criminosa ou do narcotráfico. Os americanos que se envolvem com cartéis de drogas ou outros grupos podem fugir para o México e se beneficiar da "rede de proteção" bem estabelecida que essas organizações oferecem, algumas, inclusive, com ajuda de autoridades corrompidas. "Se estiver envolvida uma quadrilha de tráfico de drogas, é muito possível que essa quadrilha tenha pessoas infiltradas na polícia e não haja cooperação nos EUA", destaca. "Mas quando se trata de um estuprador, que morava no Kansas e que hoje vive na Cidade do México, é pouco provável que a polícia seja corrompida." E como os crimes de narcotráfico no México são investigados exclusivamente por autoridades federais, as corporações locais ficam limitadas a atuar, mesmo diante de suspeitos conhecidos por essas atividades. "Muitos alvos prioritários por narcotráfico não têm nem sequer uma ordem de prisão local. Brincamos que, se quisessem, essas pessoas poderiam tirar uma carteira de motorista sem problemas, porque na Baixa Califórnia não são perseguidas", diz Villa. A Netflix lançou em julho a série Caçadores de Gringos, baseada nas operações da Unidade de Ligação Internacional Netflix via BBC

Pais que levam seus filhos às corridas em carrinho ganham as ruas; veja o que dizem especialistas

Pais que levam seus filhos às corridas em carrinho ganham as ruas; veja o que dizem especialistas

Além de cuidar do corpo, a corrida de rua pode ser uma maneira de manter quem se ama mais perto. Com alguns ajustes e muita disposição, pais e mães de crianças pequenas incluem seus filhos no esporte ao levá-los para correr em seus carrinhos de bebê. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Boca saudável: conheça os problemas e tratamentos para problemas dentários em idosos

Boca saudável: conheça os problemas e tratamentos para problemas dentários em idosos

A autoestima de milhares de pessoas é diretamente influenciada por problemas dentários que, em muitos casos, levam ao isolamento social. Em idades mais avançadas, quando a socialização se torna ainda mais indispensável, a falta de cuidado odontológico pode determinar, inclusive, se a pessoa terá vontade de sair de casa. Para maiores de 50: quais suplementos tomar para evitar o cansaço e a perda de massa muscular Leia também: O que significa acordar várias vezes durante a noite, segundo a ciência? Luciana Tedesco, dentista especialista em periodontia, relata que uma paciente passou a se isolar por vergonha. — Ela estava com a autoestima comprometida pelos dentes. Antes tinha uma vida social ativa, mas deixou de conviver com as amigas por causa do sorriso — conta. Com o envelhecimento da população, cuidados odontológicos com doenças crônicas serão cada vez mais essenciais. A modalidade de atendimento domiciliar, voltada a pacientes com dificuldade de locomoção ou outras condições que os impeçam de ir ao consultório, é desconhecida por parte da população, segundo Luciana. Mas pode ajudar no cuidado de idosos e evitar complicações. Sem tratamento adequado, doenças crônicas podem surgir e, com o avanço delas, levar à perda parcial ou total dos dentes. Conheça as condições mais comuns entre idosos: Doenças periodontais As principais são a gengivite e a periodontite. Muitas vezes indolores, alguns pacientes só percebem a doença em estágio avançado. A gengivite é marcada por sangramento, inchaço e vermelhidão na gengiva. É reversível e não há perda de inserção — a estrutura que mantém o dente fixo ao osso não é comprometida. Na periodontite, uma evolução da gengivite, a distância entre a gengiva e o dente é ainda maior, com risco de perda óssea e deixando o dente mole. — Ambas refletem desequilíbrios metabólicos e imunológicos do organismo— explica Dany Moura, cirurgiã-dentista. O tratamento inclui raspagem subgengival, controle de placa, laserterapia, antibióticos tópicos e, em casos mais avançados, cirurgia periodontal. Cáries radiculares As cáries radiculares são mais comuns em idosos. A diferença em relação às cáries comuns (coronárias) é que atingem a raiz, a parte mais vulnerável do dente. Alguns sintomas são descoloração próxima à raiz, cavidades visíveis, fraturas no dente, sensibilidade e, em casos graves e dor. Segundo Dany Moura, as principais causas para o problema são boca seca, dieta rica em carboidratos, dificuldade motora para higienização, mucosa mais fina e comprometimento do sistema imune bucal. — O tratamento em idosos é diferente, pois o biotipo, a fragilidade óssea e a resposta inflamatória de cada paciente devem ser considerados — afirma Dany. Pode ser feito o selamento da parte interna, restauração com resina ou cerâmica ou até a remoção do dente — sendo substituído por implante ou prótese. Edentulismo É caracterizado pela perda parcial ou total dos dentes. Ocorre por diversos fatores, como doença periodontal avançada, cáries extensas, bruxismo não tratado, traumas e falta de prevenção. — É evitável quando há cuidado contínuo. A perda dentária é reflexo de um organismo inflamado e desnutrido — destaca Dany. Alguns sinais importantes a serem observados são: mau hálito constante, retração gengival, dentes moles, abscessos recorrentes, perda óssea e falhas em próteses já existentes. Além disso, inflamações e sangramentos também são sinais de que o organismo não está funcionando corretamente. — A falta de dentes impacta na postura e na saúde emocional do paciente. Além disso, prejudica a fonética, a estética e a autoestima. A ausência de dentes altera a dinâmica muscular da face, causa envelhecimento precoce e acelera a reabsorção óssea do terço inferior da face — explica. Xerostomia A xerostomia, ou boca seca, é, na verdade, um sintoma e não uma doença, podendo acarretar problemas futuros. Segundo Luciana, a diminuição da quantidade e a mudança na qualidade da saliva deixam o idoso mais suscetível às cáries, que, por consequência, podem levar a outras complicações. O sintoma pode surgir como efeito colateral do uso de medicamentos, mas também pode estar associado ao diabetes e a doenças autoimunes. A especialista recomenda a investigação clínica para determinar o tratamento mais adequado. Câncer bucal Ao notar feridas que não cicatrizam, manchas vermelhas ou brancas persistentes na língua e nas mucosas, dor ao engolir, nódulos endurecidos, dores localizadas, sangramentos espontâneos e alterações na mobilidade da língua ou mandíbula, procure atenção imediata. Os principais fatores de risco, segundo as especialistas, são o tabagismo, consumo de álcool, má alimentação, baixa imunidade, HPV, próteses mal adaptadas, traumas, exposição solar, infecções crônicas e a falta de exames periódicos. No cuidado com idosos que não conseguem se comunicar, a tarefa de identificação é mais complexa, mas Luciana destaca sinais importantes para serem observados: — Se fica mais irritado, recusa o alimento, coloca a mão na boca. É importante quem convive com o paciente estar atento. Em casos iniciais, uma cirurgia pode resolver e curar. Nos mais avançados, terapias também são necessárias. — O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, com mínimo impacto funcional e estético — destaca Dany. Prevenção Seja para a própria prevenção ou na atenção a idosos, acamados ou não, há medidas indispensáveis para manter a saúde bucal. As dentistas recomendam a visitas periódicas ao dentista, higiene oral adequada, uso de escovas de dente macias, fio dental, enxaguante bucal em alguns casos e pastas de dente com flúor. Segundo Luciana, outra opção é o Waterpik, um irrigador dental que usa jatos de água para remover restos de comida e placas bacterianas. *Estagiária sob supervisão de Constança Tatsch.

Desvios da direita e riscos de Lula

Desvios da direita e riscos de Lula

Foi uma semana ruim para o bolsonarismo. A crise no círculo íntimo do ex-presidente e o desprezo pelos seguidores que estão presos ficaram expostos. As pesquisas da Genial/Quaest mostraram o efeito corrosivo do tarifaço para Jair e Eduardo Bolsonaro. O presidente Lula melhorou a avaliação do governo, e abriu vantagem em relação a todos os candidatos da direita, num eventual segundo turno no ano que vem. Pela primeira vez, as pesquisas mostram que Bolsonaro não é o candidato mais competitivo do seu campo político. Mas há problemas também para o atual mandatário. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Uma maneira surpreendente (e fácil) para melhorar seu foco, segundo especialistas

Uma maneira surpreendente (e fácil) para melhorar seu foco, segundo especialistas

Em 2008, 38 estudantes da Universidade de Michigan saíram para uma caminhada. Metade deles percorreu 4,5 km entre as árvores do Arboreto Nichols, em Ann Arbor, nos Estados Unidos, enquanto a outra metade caminhou a mesma distância pelas ruas movimentadas do centro da cidade. Uma semana depois, os dois grupos trocaram os percursos. Luto: Os 3 sinais de que uma pessoa vive suas últimas 24 horas antes da morte, segundo enfermeira de cuidados paliativos Orégano: conheça os 15 benefícios inesperados da erva para a saúde Antes de cada caminhada, os estudantes fizeram um teste que desafiava sua atenção e memória de trabalho: recebiam sequências de números cada vez mais longas e tinham que repeti-las de trás para frente. Ao voltarem ao campus, refizeram o teste. Caminhar pela cidade melhorou levemente o desempenho, mas caminhar na natureza aumentou as notas em quase 20%. — Você nem precisava gostar ou aproveitar a caminhada na natureza para ter esses benefícios cognitivos — afirma Marc Berman, professor de psicologia da Universidade de Chicago, que conduziu o estudo enquanto era aluno de pós-graduação em Michigan. Pessoas que caminharam em um frio dia de janeiro tiveram tanto benefício quanto aquelas que participaram do experimento em julho. O efeito da natureza sobre nossa mente já foi estudado muitas vezes antes e depois desse experimento, e a pesquisa geralmente — embora não sempre — mostra que a exposição a áreas verdes melhora nossa cognição e criatividade, além de nosso humor. Muitos de nós já experimentamos pessoalmente a capacidade revitalizadora do mundo natural — um momento de clareza ao chegar ao topo de uma montanha, ou o foco renovado após uma caminhada no parque na hora do almoço. Os cientistas tentam entender exatamente por que isso acontece. Em seu novo livro, "Nature and the Mind" ("Natureza e a Mente", em português), Berman atribui os benefícios cognitivos da natureza à chamada “teoria da restauração da atenção”. Proposta pela primeira vez na década de 1980 por Rachel e Stephen Kaplan (ambos professores de psicologia na Universidade de Michigan quando Berman estudava lá), a ideia é que nossa capacidade de foco é um recurso limitado, facilmente esgotado, e estar em meio à natureza é uma forma eficaz de reabastecê-lo. Um dos pontos mais importantes sobre a natureza, segundo pesquisadores da restauração da atenção, é que ela é “suavemente fascinante”, ou seja, prende nossa atenção de forma leve, sem ser entediante nem excessivamente estimulante. (Pense em observar ondas do mar indo e vindo, ou em contemplar um campo de flores silvestres.) Ambientes urbanos, por contraste, são fascinantes de maneira mais dura, exigindo nossa vigilância de forma que nos desgasta. Berman sugere que um dos motivos pelos quais a natureza tem esse efeito sobre nós são suas propriedades físicas, especialmente as linhas curvas e os fractais. O arco de um rio ou de uma formação rochosa, ou os padrões repetidos de um floco de neve, podem ser mais fáceis de processar para o cérebro do que as linhas retas de um arranha-céu. — Isso pode dar um descanso ao cérebro, e talvez seja por isso que vemos esses benefícios — destaca ele. A teoria da restauração da atenção dominou o campo da neurociência ambiental por décadas, mas nem todos estão convencidos. — As evidências estão se acumulando para provar que, sim, há algo em caminhar na natureza que beneficia nossa atenção — afirma Gloria Mark, professora de informática da Universidade da Califórnia, em Irvine, e autora do livro "Attention Span" ("Capacidade de Atenção", em português). Ainda segundo ela, a restauração da atenção é “uma teoria, e não sabemos se essa é a verdadeira explicação do que está acontecendo”. A teoria é um pouco “vaga”, concorda Amy McDonnell, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de Utah. Grande parte da pesquisa depende de testes cognitivos e dos relatos subjetivos das pessoas sobre como se sentem ao estar na natureza, deixando muitas perguntas em aberto, como o que realmente acontece no cérebro. McDonnell é uma das especialistas tentando preencher essa lacuna. No ano passado, ela realizou um experimento semelhante ao de Berman, no qual pessoas caminharam em um arboreto local ou em um campus médico urbano. Caminhar em ambos os ambientes melhorou as habilidades cognitivas em comparação com os resultados prévios à caminhada. Mas, quando McDonnell analisou as ondas cerebrais por meio de EEG, aqueles que estiveram na natureza apresentaram menos atividade cerebral imediatamente após a caminhada, seguida por picos maiores ao refazerem a tarefa de atenção. Isso sugere que o cérebro descansou “e depois voltou a funcionar mais eficiente e forte do que nunca após a exposição à natureza, em comparação com um ambiente urbano”, destaca McDonnell. Há também debates se são realmente as propriedades físicas da natureza que trazem os benefícios restauradores, como propõe Berman, ou se é outra coisa. Por exemplo, McDonnell apontou: talvez os efeitos positivos venham de outras experiências frequentemente associadas ao tempo passado na natureza. É porque você está sozinho? Porque está se exercitando, ou simplesmente porque está afastado do trabalho? A qualidade do ar faz diferença? Pode ser também algo ligado ao olfato. Em um artigo publicado no ano passado, especialistas de diferentes áreas sugeriram que os efeitos da natureza sobre nosso bem-estar podem estar relacionados aos sinais olfativos encontrados ao ar livre, como os compostos químicos emitidos pelas árvores. Provavelmente não é apenas um fator que torna a natureza tão benéfica para o cérebro, pontua Ruth Garside, professora da Escola de Medicina da Universidade de Exeter, na Inglaterra, que publicou uma revisão sobre a teoria da restauração da atenção. — Há uma parte de mim que acha que a magia, por assim dizer, está justamente nessa combinação de elementos funcionando juntos — afirma Garside. — E talvez percamos algo quanto mais tentamos dissecar as explicações.

Um bom começo

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Agosto é o Mês da Primeira Infância — uma celebração oficializada por lei e um convite à sociedade para olhar com mais atenção, cuidado e responsabilidade para os primeiros seis anos, os mais decisivos da vida humana. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Análise: Como alinhar nossos tempos e movimentos próprios com os dos outros no trabalho, no amor e na vida

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Numa roda de conversa entre amigos, começamos a falar sobre algo que parece simples, mas que mexe com a vida inteira da gente: o tempo e o movimento de cada um. Me lembrei na hora de uma frase que minha avó sempre diz: “Devagar também é pressa, mas devagar demais, também não dá”. Parece brincadeira, mas essa sabedoria simples carrega um dilema gigante. Como alinhar nossos tempos e movimentos próprios com os dos outros no trabalho, no amor e na vida? Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Saiba como se dão traições e seus efeitos

Saiba como se dão traições e seus efeitos

A figura do traidor assombra a História, a literatura e as nossas vidas comezinhas. É um fantasma que surge nos livros, nos palcos e nas conversas mais triviais. Ninguém quer amanhecer com os cornos enrijecidos, sejam eles políticos, profissionais, amorosos. O traidor é aquele que, à sombra, rompe pactos e apunhala a confiança, trocando lealdade por proveito próprio. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.

Adeus, calor: temperaturas em queda marcam fim do veranico no Rio

Adeus, calor: temperaturas em queda marcam fim do veranico no Rio

O veranico, que trouxe dias quentes e secos para o território fluminense na última semana, está de saída. Depois de garantir a diversão de cariocas e turistas no sábado (23), o fenômeno começa a enfraquecer a partir deste domingo (24) com o declínio das temperaturas. Segundo o Climatempo, a previsão para hoje é de sol com muitas nuvens, que devem aumentar ao longo do dia, com possibilidade de chuvisco. As temperaturas ficam entre 18ºC e 28ºC. Veranico: cariocas e turistas lotam praias da Zona Sul em sábado de despedida do veranico Vape: venda proibida de cigarros eletrônicos dispara na Zona Sul do Rio; Procon, Sedcon e PM apreendem mais de 100 em um único dia Na segunda (25), o dia deve ser ainda mais nublado, com algumas aberturas de sol, mas sem chuva. A previsão é para temperaturas entre 19ºC e 26ºC. O meteorologista do Climatempo, Guilherme Borges, explica a mudança. — No domingo, acontece a quebra do bloqueio que está favorecendo esse cenário de aquecimento, então as temperaturas máximas já começam a voltar para dentro da normalidade de agosto, consequentemente ficando mais baixas. Mas, como essas massas quentes não terminam de maneira homogênea em todas as regiões, a gente diz que o fenômeno tem uma tendência de acabar na segunda-feira, pelas mudanças dos ventos e pela frente fria que deve estar chegando neste dia. Já segundo o Alerta Rio, no domingo (24), o tempo na cidade passa a ser influenciado por uma região de baixa pressão no oceano. A previsão é de céu com poucas nuvens de manhã, com aumento gradual de nebulosidade, mas ainda sem chuva. Os ventos devem ficar moderados a ocasionalmente fortes (18,5 km/h a 76 km/h). A partir de segunda (25), ventos úmidos associados ao deslocamento desta região de baixa pressão devem manter o tempo nublado, com risco de chuvisco e chuva fraca isolada à noite. Os ventos estarão fracos a moderados (até 51,9 km/h)

Com recorde de turistas na cidade, praia vira território fértil para cobranças abusivas; veja casos de golpes na orla da Zona Sul

Com recorde de turistas na cidade, praia vira território fértil para cobranças abusivas; veja casos de golpes na orla da Zona Sul

Era fim de tarde quando sete amigas argentinas, recém-chegadas de Buenos Aires, decidiram brindar as férias no Rio com uma caipirinha na Praia de Copacabana. Mas a descontração virou dor de cabeça. O extrato bancário mostrou que a cobrança pela bebida foi 50 vezes acima do anunciado. O caso não é isolado. Multiplicam-se relatos de visitantes que levam, na bagagem de volta, episódios de preços abusivos, golpes e outros crimes nas praias cariocas. Hostilidade que tem levado frequentadores da orla e autoridades a debaterem saídas, que vão da simples orientação aos viajantes ao uso de tecnologia para garantir a segurança nas areias e nos calçadões. Veranico: cariocas e turistas lotam praias da Zona Sul em dia mais quente do mês, com 36,2ºC Vapes ou pods: venda proibida de cigarros eletrônicos dispara na Zona Sul do Rio; Procon, Sedcon e PM apreendem mais de 100 em um único dia — Paguei a bebida e, pouco depois, vi que tinham feito uma compra de R$ 1 mil no meu cartão — conta a argentina Gisele Ganduglia, uma das vítimas da caipirinha superfaturada em Copacabana. Situações como esta ocorrem quando o turismo no Rio está em alta. O estado registrou, no primeiro semestre, o maior número de visitantes estrangeiros dos últimos dez anos para o período: 1,32 milhão, aponta a Embratur, 52,5% a mais que os 868,3 mil dos primeiros seis meses de 2024. Argentina, Chile, EUA, Uruguai e França são os países de origem mais recorrentes. Ontem, muitos desses turistas se misturaram aos locais para aproveitar o sábado de veranico com temperatura máxima de 36,2C, segundo os registros do Alerta Rio, e praias lotadas em pleno inverno na capital fluminense. E tiveram de redobrar os cuidados para não serem lesados. Estatuto ignorado Em maio deste ano, a prefeitura chegou a publicar um decreto com regras de convivência na orla. As normas impedem as “abordagens insistentes, constrangedoras ou inadequadas para cooptar clientes”, a venda de alimentos em palitos (churrasquinho, camarão e queijo coalho), além de churrasqueira ou fogareiros: tudo o que se vê, no entanto, a cada metro de areia. Vítimas. Família do Maranhão é cercada por ambulantes: R$ 45 por um queijo coalho e R$ 20 pelo copo de mate Gabriel de Paiva Há dez dias, na Praia do Arpoador, irregularidades assim pesaram no bolso de uma família do Maranhão. Logo que começaram a caminhar perto da água, eles foram abordados por vendedores insistentes de mate, queijo coalho e milho. Pagaram R$ 20 no copo de bebida e R$ 45 no queijo. — A gente não sabia que o espetinho custava uns R$ 15. Ficamos sem graça e, depois, descobrimos que tínhamos sido enganados — desabafou a estudante Laura Cunha. Além da cobrança abusiva, turistas — como as argentinas em Copacabana — têm sido vítimas do “golpe da maquininha”, quando o ambulante digita um valor mais alto no equipamento que, convenientemente, está com o visor quebrado. Na última quarta-feira, duas italianas pagaram R$ 3,1 mil em um maço de cigarros no Arpoador. No mesmo dia, um vendedor de caipirinha cobrou mais de R$ 2 mil de colombianas em Copacabana. Já no último mês de maio, no Rio para ver o show de Lady Gaga, a canadense Charlotte Leblanc e o marido, Noah Leblanc, foram vítimas de um falso vendedor de passeios que cobrou R$ 1 mil por um pacote para Angra dos Reis. Ele oferecia a atração no calçadão de Copacabana. — Pagamos e combinamos de nos encontrar no dia seguinte. Mas ele nunca mais atendeu o telefone. A gente vem para se encantar e não para ficar com medo a cada abordagem — reclamou Charlotte. Há ainda crimes que põem em risco a vida dos visitantes. No último dia 8, dois ingleses caíram no golpe “boa noite, Cinderela”. Foram dopados por três mulheres e tiveram objetos roubados por elas, em Ipanema, num caso de repercussão internacional. Embora a orla tenha se tornado área fértil para golpistas, nem sempre os crimes chegam à Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat). Para piorar, os golpistas estariam atuando nas praias lado a lado com traficantes. Fonte ligada à Polícia Civil afirma que integrantes do Comando Vermelho estão instalados na orla da Zona Sul, o que foi confirmado ao GLOBO por várias pessoas que tiram honestamente seu sustento da praia. Na semana passada, a equipe do jornal flagrou, inclusive, homens oferecendo drogas a visitantes no calçadão de Ipanema, na altura da Rua Joana Angélica. — O tráfico tomou conta da praia. Vendem droga aqui. Por isso, eles (criminosos) proibiram o roubo. E o boato é que os golpistas são “fechados” com os bandidos — contou uma trabalhadora da orla em Ipanema. De 2014 para cá, o número de furtos nas praias da capital despencou 70%: de 4.163 para 1.209 em 2024. Os roubos também caíram: de 507 para 162, uma queda de 68%. Por outro lado, no mesmo período, os estelionatos saltaram de três casos para 80. Os dados são do Instituto de Segurança Pública. Um plano de policiamento do 19º BPM (Copacabana), de março de 2025, aponta, porém, que a grande circulação de moedas estrangeiras, câmeras e celulares continua estimulando roubos e furtos na orla. O planejamento reconhece ainda que o tráfico e o consumo de entorpecentes se concentram na areia, na Avenida Atlântica e nas comunidades do entorno. Soluções sugeridas Frequentadora da Praia de Copacabana, a professora Ana Clara Félix, que já viu um vendedor cobrar R$ 200 por dois queijos coalhos de um estrangeiro, diz que é preciso ter fiscalização: — O básico bem feito, às vezes, é a superinovação. Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO, conta que os hotéis têm orientado turistas a conferirem o valor da compra no visor das maquininhas de cartão e a evitarem digitar a senha à vista de terceiros. — Esse tipo de crime é muito ruim para a imagem da cidade — diz ele. A barraqueira Aldenice Conceição, de 78 anos, há 51 no Posto 9, em Ipanema, faz sua parte. Sempre diz aos clientes para não deixarem pertences com estranhos: — Também orientamos a tomarem cuidado ao sair com cartões, celular e dinheiro. Tem muita gente boa na praia, mas também muita gente mal intencionada. Para Horácio Magalhães, presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, a solução seria recadastrar os ambulantes, que deveriam usar colete e crachá, para “separar o joio do trigo”. Secretário municipal de Ordem Pública, Marcus Belchior, argumenta que os vendedores nas praias são cadastrados e precisam portar a licença municipal. Na opinião dele, a solução seria a instalação de câmeras voltadas para a areia e vistorias por drone. Somadas as equipes da Guarda Municipal e da Seop, cerca de dois mil agentes atuam nas praias. — Para melhorar nossa fiscalização, temos que investir muito em tecnologia. Por mais que um agente fiscalize determinado indivíduo, quando ele estiver a cem metros de distância, pode ser que o ambulante volte (a cometer irregularidades) — diz Belchior. — Não dá para ter um agente por pessoa na cidade. Na orla carioca, há 1.265 barracas, 309 quiosques e 808 ambulantes licenciados. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, práticas que envolvam ameaça, coação ou informações falsas, que exponham o cliente ao ridículo ou interfiram em seu lazer, são crimes de consumo, com pena de detenção de três meses a um ano. Denúncias de cobranças abusivas podem ser feitas pela central 151. Já em casos em que o vendedor informa um valor, mas, na hora do pagamento, cobra a mais, se configura crime de estelionato, com pena de reclusão de até cinco anos, além de multa. A ocorrência deve ser registrada em uma delegacia. A Polícia Civil informa que investiga grupos criminosos na orla em conjunto com a PM. Os batalhões de Copacabana e Leblon afirmam que têm intensificado o patrulhamento e que, em junho, prenderam 13 suspeitos de aplicar golpes em turistas.

Bar da Frente: dona do boteco eleito o melhor do Rio faz mais amigos que bolinhos: ‘Gosto de gente’; conheça Mariana Rezende

Bar da Frente: dona do boteco eleito o melhor do Rio faz mais amigos que bolinhos: ‘Gosto de gente’; conheça Mariana Rezende

Garota carioca, suingue, sangue bom. Assim é Mariana Rezende, dona do Bar da Frente, eleito na quinta-feira da semana retrasada o Melhor Boteco da cidade pelo Prêmio Rio Show de Gastronomia 2025. Quatro dias depois, na última segunda-feira, com um sorriso tão aberto quanto os braços do Cristo Redentor que a abençoa da janela, a tijucana de família com origem no subúrbio recebeu O GLOBO em sua casa, em Botafogo. Pairava a alegria pelo prêmio e pelos momentos vividos com o filho, Cícero, no evento do Jockey — a dupla, ao lado de Toninho Momo (Bar do Momo) e da filha dele, Luiza, de 14 anos, encantou os convidados. Missões: Prefeito Eduardo Paes anuncia a criação de terminal de BRT para atender Caxias e Magé Lazer: Cariocas e turistas lotam praias da Zona Sul em sábado de despedida do veranico — O que aconteceu (no Rio Gastronomia) foi meu Natal, sabe? O dia que eu passei com o Cícero, vê-lo num show... Ele nunca tinha visto nenhum show. Ele colou na grade, Iza dançou na frente dele, sorriu no meio da multidão — conta ela, lembrando também da aula de croquete de mortadela que deu com o filho. — Tem sido gratificante receber esse reconhecimento. Estou feliz porque conseguimos fazer algo juntos. Era um sonho. Cícero, de 8 anos, é apaixonado pela mãezona, pelo Flamengo e por “macarrão de leite e carninha”, prato à “moda filho” que o menino devorou enquanto Mariana, de 44, dava entrevista. Além de ser a receita preferida dele, o espaguete com carne moída e requeijão é a expressão da praticidade de que precisa a mãe atípica com uma rotina cronometrada. Entre as demandas de um escritório de advocacia e das duas unidades do Bar da Frente que comanda, encaixam-se os tratamentos do filho, que tem grau 2 de suporte no espectro autista. — Gosto de dar beijo na mamãe e de macarrão — diz ele, a sós com a repórter. Múltipla jornada Advogar; levar e buscar Cícero na escola e nas terapias (hoje, a guarda é dividida meio a meio com o pai); ir ao bar caçula, em Copacabana, e ao de 16 anos, na Praça da Bandeira; se exercitar na academia; viajar Rio afora para dar aulas de culinária; prestigiar amigos em inaugurações de bar e em lançamentos de filme; beber cerveja e rir de si mesma; cuidar do cãozinho senil Bahuan, de 18 anos; arrumar tempo para paquerar. Seria difícil para muita gente seguir a receita da vida dessa cozinheira carismática e sorridente. Mas quem embarra com Mariana por aí é capaz de jurar que a vida é “bolinho”. Às risadas, Kátia Barbosa, chef renomada e amiga de marcha — o Bar da Frente recebeu esse nome por estar em frente ao Aconchego Carioca, que pertence a Kátia, na Praça da Bandeira —, lembra que a própria filha já sonhou repetir a vida da falante amiga da mãe: — Um dia, Mari estava sentada batendo papo, e minha filha Giovanna ouviu as aventuras loucas de bar, histórias... Ela escutava aquilo atenta, e falou: “Aí, Mari, eu quero a sua vida!”. E eu: “Não, Giovanna! Tá maluca? Tu quer a vida da Mari? Deus que me perdoe!” A gente morreu de rir! Até hoje, todo mundo ri da Gi encantada — diverte-se Kátia, mãe da Gi, hoje publicitária, e também de Bianca, que é... dona de bar. Mariana fugiu de casa aos 14 anos para curtir festa no Mackenzie, no Méier, apanhou da mãe, Valéria, e pagou mico na calçada pós-balada: — Eu não fazia nada ilícito, só queria estar com os amigos. Ela também foi expulsa de casa, na Tijuca, e intimada a morar com o pai, militar, em Botafogo. Andou para lá e para cá na cidade. Fez a primeira tatuagem escondida, formou-se no Ensino Médio em Processamento de Dados, passou para faculdade aos 17 e foi, sozinha, ao Maracanã ver o Flamengo pela primeira vez. Aos 18, já cursando Direito na Candido Mendes, começou a ganhar dinheiro vendendo sanduíche de frango com milho e de ricota com kani e champignon para “patricinhas e playboys”. A estreia como vendedora na faculdade foi meses depois de sair de um escritório onde trabalhava das 9h às 18h como recepcionista — as aulas eram das 18h às 22h. — Cheguei lá com a minha bolsinha: “Quem quer sanduíche natural?” Nunca ficava dura! — lembra. No segundo dia de faculdade, levou um susto. — Minha mãe quase morreu. Ela teve uma crise tireotóxica — conta. A mãe entrou em coma, ficou internada quatro meses, melhorou, e Mari saiu do hospital com mais uma penca de amigos. Valéria, por sua vez, tinha sequelas que a impediam de trabalhar fora. Então, começou a cozinhar. Ao mesmo tempo, Mariana seguia, com habilidade de mexer os caldos sem perder o ponto e temperar a vida, equilibrando vida afetiva e profissional. A integridade e a parceria, segundo os amigos, são dela. No bar, o foco no trabalho chama atenção. Mas a concentração pode virar galhofa se surgir um amigo com copo na mão. Entre a galera da cozinha, ela tem um apelido carinhoso: azar. — Chego ao bar da Praça da Bandeira e eles falam: “Ih, o azar chegou, hein! O azar chegou”. Me sacaneiam direto — diz a chef premiada, que até já experimentou momentos de tranquilidade. — Teve um período de calmaria: abri o bar, comecei a namorar, viagem para a Europa, Lula presidente, casei... Tive um casamento Criança Esperança. Cada um doou um negócio. Até que a vida entornou o caldo de novo. Quando Mariana estava grávida de cinco meses, Valéria descobriu um câncer. No puerpério, a chef viu a mãe passar pela quimioterapia, raspou a cabeça dela e comemorou seus 65 anos. Meses após dar à luz Cícero, já perto do Natal de 2018, ele perdeu a avó. Pouco depois, a cozinheira decidiu se separar do pai do filho. No ano seguinte, a família recebeu o diagnóstico de autismo do menino. Advogada, Mariana fez o próprio divórcio e o inventário da mãe. — A parte cansativa da minha vida não é o trabalho. Tenho muitos amigos. E bons. Mas a vida da mãe atípica é muito solitária. Há dores que só a gente tem — confessa. — Deitar a cabeça no travesseiro sabendo que tem muitos mil reais de terapia do filho para pagar num mês e não ter a garantia de que vai bancar dá agonia em muitos momentos. Eu até evito pensar. Sou forte, mas também quero poder ser vulnerável. Freguesia variada Dedicar-se a ser a melhor mãe que pode, dar conta de bar premiado ou conhecer pessoas? Há dúvidas entre amigos sobre qual é o maior talento de Mariana. No início do ano, na inauguração da filial de Copacabana, onde o sócio Julio Ferretti também dá expediente, a fila de convidados era diversa: tinha ator estrelado, clientes que de tanto frequentar o Bar da Frente viraram amigos, herdeiro de magnata, comentaristas de carnaval e levantadores de copo. — Eu gosto de gente, desde sempre (risos). Na escola, nunca tive uma patota só — conta, na sala com brinquedos e presentes de amigos anônimos e famosos. Seu lugar de aconchego tem também detalhes de uma decoração inacabada: — Meu melhor amigo, o Lulu (Luiz Claudio Guedes), fez o projeto. Não acabei a casa até hoje porque esse FDP resolveu morrer! — brinca, ao recordar o amigo que a ajudou após Valéria partir. A canequinha com que a mãe pegava arroz quando criança, fotos e pastas com receitas são as lembranças de Valéria, carioca cujos olhos, ao sol, “tinham cor de girassol”. A recordação virou tatuagem de flor. Mariana, que no início do ano teve depressão, se emociona ao contar que há anos não sonha com ela. — Estou vivendo um sonho, mas não consigo sonhar. Aconteceu depois que ela morreu. Era um sonho no sonho: ela falava e eu não conseguia ouvir. Mas entendia que era um “vai ficar tudo bem”. Sonhei com ela no dia em que o Lulu morreu. Eu o encontrei morto dois dias depois — diz ela, que é espírita. — Se minha mãe fosse viva, Cícero ia pesar 200 quilos. Meus amigos diziam que ela ia dar mamadeira de leite condensado (risos). Apesar da multidão que a segue, Mari aprendeu a lidar com a solitude. Para aliviar as preocupações e tratar as dores, a terapia, o médico e o mergulho no mar da Praia Vermelha são indispensáveis. A boa fase na vida familiar, e na profissional, claro, não desmobiliza a chef, que sabe que assim como cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, apressado come cru: — Eu me levei para muitos lugares ao longo deste tempo. E vou me levar para outros. Falta decidir quais. Mas vou chegar.

O STF e a presidência

O STF e a presidência

O Supremo Tribunal Federal (STF) teve sempre um papel político importante, embora hoje ele esteja mais explicitado do que nunca na definição do seu atual presidente, ministro Luis Roberto Barroso que, diversas vezes, definiu como o papel do Supremo “empurrar a história na direção certa”. Pedro Lessa foi um dos grandes defensores da supremacia da Constituição no início da República, em embates contra o governo de Floriano Peixoto. Victor Nunes Leal, autor de “Coronelismo, Enxada e Voto”, foi cassado pelo AI-5 em 1969, juntamente com os colegas Hermes Lima, ex-chanceler e Evandro Lins e Silva, grande jurista, defensor dos direitos humanos. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.