
J&F, dos irmãos Batista, compra participação na Eletronuclear e estreia no mercado de energia nuclear
A Eletrobras anunciou nesta quarta-feira que vendeu 100% de sua participação na Eletronuclear, empresa responsável pela operação e construção de usinas nucleares no país, como Angra 1 e 2, em Angra dos Reis, para a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O valor do negócio é de R$ 535 milhões pelas ações da empresa, mas a J&F assumirá também outros compromissos que a Eletronuclear possui. Troca de comando: Eletrobras conclui venda de térmicas para os irmãos Batista De acordo com analistas, o negócio marca a entrada da empresa dos irmãos Batista na geração nuclear, e libera a Eletrobras de uma série de obrigações associadas a um setor do qual buscava desinvestir. "O movimento é coerente com o foco estratégico da Eletrobras de se consolidar como a maior empresa de energia elétrica renovável do país após a privatização", escreveram os analistas da Ativa investimentos. Com o negócio, a Eletrobras simplifica sua estrutura corporativa e reduz incertezas jurídicas e regulatórias associadas à Eletronuclear. No início deste ano, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) do governo federal adiou a decisão sobre a retomada das obras de Angra 3, terceira usina nuclear do país. O complexo está em construção desde a década de 1980, se tornou um dos projetos mais longos e controversos do setor energético nacional. A Eletrobras já vinha desinvestindo em termelétricas, inclusive com vendas anteriores à própria J&F, com foco na estratégia de concentrar recursos em geração renovável e transmissão. Ainda neste mês, a Eletrobras vendeu a usina termelétrica movida a gás natural Santa Cruz, no Rio de Janeiro, para a J&F, por R$ 703,5 milhões. A usina era a última de um pacote de 13 térmicas que tiveram a venda anunciada pela Eletrobras em junho do ano passado para a Âmbar Energia, braço de energia do Grupo J&F. Segundo a Eletrobras, o negócio gerou um total de R$ 3,6 bilhões para a Eletrobras. As outras 12 usinas desse pacote estão localizadas no Amazonas. A transação marcou o fim do processo de desinvestimento dos ativos termelétricos e o início de um portfólio de geração que passa a ser composto exclusivamente por fontes 100% renováveis. A meta da empresa é ser Net Zero já em 2030, zerando a emissão de gases causadores do efeito estufa. Para os analistas da Ativa, a venda da Eletronuclear libera caixa para a Eletrobras, abrindo espaço para novos investimentos alinhados com os novas diretrizes da empresa. Segundo o comunicado, a J&F deterá uma participação de 68% do capital total e de 35,3% do capital votante da Eletronuclear, que segue controlada pelo governo, através da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear (ENBPar), estatal vinculada ao Ministério das Minas e Energia. No negócio, a empresa dos irmãos Batista, assumirá as responsabilidades que eram da Eletrobras na Eletronuclear, como as garantias prestadas em favor da estatal aos credores da Eletronuclear. Além disso, a J&F também ficará responsável pela futura integralização das debêntures emitidas em acordo firmado com a União no início deste ano, no valor de R$2,4 bilhões. A empresa se comprometeu a destinar esses recursos para a extensão da vida útil de Angra 1. A venda da participação na Eletronuclear foi assessorada pelo banco BTG Pactual, num processo que começou em 2023. A Eelterobras informou que, considerando o valor de investimento feito na sua coligada de R$ 7,8 bilhões no segundo trimestre deste ano, o processo de venda resultou numa provisão de aproximadamente R$ 7 bilhões, a ser contabilizada no terceiro trimestre deste ano. "A transação representa um marco importante para a Eletrobras e reforça o compromisso assumido com os seus acionistas e o mercado, de otimização de seu portfólio e alocação de capital, com foco na geração de valor e simplificação de sua estrutura conforme previsto em seu Plano Estratégico", informou a companhia ao mercado.