
Pesquisa aponta que 41,9% dos brasilienses trocariam o carro pelo transporte público se a tarifa fosse gratuita
Larissa Barros Uma pesquisa realizada pelo Observa DF, grupo de estudos da Universidade de Brasília (UnB), revelou que 41,9% dos entrevistados migrariam do transporte particular para o público caso a gratuidade fosse diária. O levantamento reacende o debate sobre mobilidade urbana e mostra como fatores como custo, conforto e qualidade do serviço influenciam diretamente na escolha do meio de transporte. De acordo com o pesquisador Thiago Trindade, um dos autores do relatório, o estudo foi feito com mil pessoas e reflete a percepção da população sobre o impacto da gratuidade total no sistema. “Essa pesquisa é uma pesquisa de opinião pública, feita com uma amostra de mil pessoas entrevistadas. A pergunta era se o participante estaria disposto a deixar de usar o carro ou a moto caso a gratuidade universal fosse implementada no transporte público sete dias por semana, 24 horas por dia”, explica. “Entre os usuários de transporte particular, 41,9%, ou seja, praticamente 42%, declararam que estariam dispostos a fazer essa migração”. Um exemplo que ajuda a entender esse comportamento é o de Sandro de Sousa, que decidiu deixar o carro na garagem e adotar o ônibus como principal meio de locomoção há menos de um ano. “A necessidade maior era transportar os filhos no trajeto casa-escola/escola-casa. Com a formação deles, estou mais livre para escolher como ir ao trabalho”, contou. Para ele, a mudança foi motivada, sobretudo, pela economia e pela facilidade de acesso. “Meu local de trabalho tem boa oferta de ônibus, então acabou sendo uma escolha prática e vantajosa”. Apesar da possibilidade de economia, o pesquisador ressalta que a qualidade do serviço ainda é um dos principais obstáculos para atrair novos usuários. “O transporte público no Brasil, de modo geral, é muito precarizado. É absolutamente compreensível que uma grande quantidade de pessoas queira sair desse sistema. Para estimular a adesão ao transporte coletivo, além da tarifa zero, é preciso também melhorar o serviço”, avalia Thiago. Ele lembra que a queda na qualidade tem levado usuários a buscar alternativas individuais. “Os ônibus vêm perdendo passageiros para carros e aplicativos de transporte, como Uber e 99, justamente porque o sistema é ruim, caro e demorado. Não faz sentido pagar caro numa passagem para andar num ônibus que atrasa e oferece pouco conforto”, reforça. De acordo com o secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves, o tema ultrapassa a questão do deslocamento e está diretamente relacionado ao desenvolvimento social e econômico. “O transporte está ligado à inclusão social, ao acesso ao lazer e à rede de proteção das pessoas mais vulneráveis. Muita gente não tem condições de pagar a tarifa, mesmo ela sendo uma das mais baixas do país, variando entre R$3,50 e R$4,00”, afirma o secretário. Zeno também explicou que, quando o programa de gratuidade aos domingos foi ampliado, houve um aumento considerável no número de viagens. “Antes, tínhamos cerca de 227 mil viagens aos domingos, e o número subiu para uma média de 460 a 475 mil. Mesmo com essa alta, foi preciso ajustar apenas cerca de 5% da frota, o que mostra que conseguimos transportar mais passageiros sem elevar substancialmente os custos”, detalhou. Segundo ele, a iniciativa permitiu reduzir o valor da tarifa técnica, já que o custo passou a ser melhor distribuído entre o governo e os usuários. “A experiência tem sido exitosa e mostra que o sistema pode ser mais eficiente sem necessariamente gerar novos gastos.” Apesar disso, a gratuidade total ainda divide opiniões entre os usuários. Na Rodoviária do Gama, alguns passageiros afirmam que, mesmo com o transporte gratuito, não abririam mão do conforto do carro. O principal motivo seria o receio de superlotação. Bruno Gomes, que utiliza o transporte público diariamente, também reclama da falta de qualidade no serviço. “Os ônibus demoram, às vezes estão quebrados, e alguns funcionários destratam a gente”, relatou. Para Sandro, que vivencia a experiência de depender do transporte coletivo, o número de 41,9% de adesão à gratuidade ficou até abaixo do esperado. “Fiquei surpreso por ser só um pouco mais de 40%. Isso mostra que o argumento de que as pessoas só pensam em gratuidades não é tão verdadeiro. A maioria valoriza outros benefícios, como conforto, tempo e menos aglomeração.” Ele conclui: “A escolha consciente acaba sendo uma soma de fatores: economia, praticidade e qualidade de vida”.