
Você sabia? Autor de 'Três Graças' lançou livro aos 16 anos, ajudou a fundar o primeiro jornal gay do Brasil e foi preso durante a ditadura
Autor de grandes sucessos da dramaturgia da TV Globo, Aguinaldo Silva está de volta à emissora depois de seis anos com "Três Graças", novela que estreia nesta segunda-feira (20). Veja também: Protagonista fará grande descoberta no primeiro capítulo de 'Três Graças' E mais: Saiba quando o misterioso personagem de Eduardo Moscovis deve surgir na novela Aos 82 anos, Silva tem muita história para contar dentro e fora da TV: lançou seu primeiro livro aos 16 anos, atuou como jornalista policial e foi preso durante a ditadura militar. A transição para a televisão aconteceu após um convite de Daniel Filho. — Eu estou novelista. O que sou mesmo é jornalista. O que aprendi no jornalismo é o diferencial das minhas novelas — afirmou, em entrevista para o programa Roda Viva, em 2016. A seguir, relembre fatos curiosos e marcantes da carreira do autor. O autor das 21h Roque Santeiro Nelson Di Rago/Globo Silva é o único autor da Globo que só escreveu novelas para o horário das 21h. Antes de "Três Graças", a última empreitada tinha sido "O sétimo guardião" (2018). Ele é o nome por trás de sucessos como "Tieta"(1989), "Fera ferida" (1993), "Duas caras" (2011) e , ainda, da versão original de "Vale tudo", ao lado de Gilberto Braga e Leonor Bassères Vida em Portugal Apesar de manter uma casa no Rio de Janeiro, o autor tem cidadania portuguesa e passa longos períodos em Lisboa. Em suas redes sociais, costuma compartilhar com seus seguidores a rotina de trabalho. Em julho, por exemplo, mostrou um momento à frente do computador escrevendo "Três Graças". Aguinaldo Silva escrevendo "Três Graças" reprodução Amizade de longa data Aguinaldo Silva e Marília Gabriela reprodução Silva é muito amigo da apresentadora Marília Gabriela. A dupla trabalhou junta em "Senhora do destino" (2005), em que a atriz fez uma participação especial. Em 2017, Marília fez um elogio público ao autor em sua rede social. "Vocês, como eu, têm a sorte de conviver com um amigo que fala a sua língua verdadeiramente? Que entende as piadas que você conta, por mais tortas que sejam, que viveu épocas memoráveis ao mesmo tempo que você, que sabe dos seus segredos e divide os dele com generosidade, e que se cala quando você também e em seguida diz...Ai..Ai... e tudo fica em paz?! Pois é, eu tenho esse amigo. Não nos cobramos, nos vemos quando possível mas... não deixamos de nos ver. Hoje foi assim". Origem humilde Silva nasceu em Carpina, no interior de Pernambuco, a 45km de Recife. De família pobre, morou no município até os 10 anos de idade, quando seu pai conseguiu emprego na capital. O autor começou a trabalhar com 14 anos de idade e, com o dinheiro do primeiro salário, pagou a mensalidade da escola particular em que estudava. Em sua biografia, "Meu passado me perdoa", ele revela que aos 13 anos sofria bullying e violência psicológica dos colegas e que foi eleito, sem querer, a Rainha da Primavera na escola. Livro aos 16 anos Aos 16 anos, em 1961, Silva publicou o seu primeiro livro, "Redenção para Job" pela Editora do Autor, criada por pelos escritores Fernando Sabino, Vinicius de Moraes, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. Silva foi descoberto pelo jornalista Nilton Faria, que se interessou em ler seus escritos. Livro Redenção para Job, de Aguinaldo Silva reprodução Profissão jornalista série Plantão de Polícia com Hugo Carvana Acervo TV Globo Em 1962, ele foi convidado por Nilton Faria para trabalhar no Última Hora do Nordeste, criado por Samuel Wainer. Contratado, viveu um momento conturbado em 1964, quando a redação foi invadida por militares que depredaram o prédio. Silva passou um tempo escondido em um convento de beneditinos em Olinda, até que decidiu ir embora do estado e acabou parando no Rio de Janeiro. Ao longo da carreira, trabalhou no Última Hora carioca, no Jornal do Brasil e no jornal O Globo. Em 1969 foi preso e ficou incomunicável. Foi solto em 1970 e voltou para a redação, onde permaneceu até 1977. Especializado em reportagem policial, começou a escrever para diversos veículos, entre eles O Pasquim, para onde entrevistou o lendário personagem Madame Satã. Até que foi chamado por Daniel Filho para trabalhar em um seriado chamado "Plantão de polícia". O primeiro episódio, "Inimigo público", foi exibido em 1979 e é escrito por Silva e dirigido por Filho. Silva foi um dos fundadores do Lampião da Esquina, o primeiro jornal gay do Brasil, publicado entre 1978 e 1981. Estreia em novelas Cena de 'Partido alto' TV Globo Exibida em 1982, a minissérie "Lampião e Maria Bonita" foi a primeira produção de Silva. A pedido de Boni, o então diretor de programação da Globo, começou a escrever "Partido Alto", futura novela das 21h — naquela época no horário das 20h — ao lado de Gloria Perez. A trama de 1984 foi dirigida por Roberto Talma , com Claudio Marzo, Elizabeth Savala, Raul Cortez, Betty Faria e Lilian Lemmertz no elenco. TV e famosos: se inscreva no canal da coluna Play no WhatsApp Galerias Relacionadas Initial plugin text Num desses dias, o oficial revelou ter curiosidade de ler os livros do escritor, que aproveitou para pedir lápis e papel. “Faço um bilhete para a secretária da editora, você vai lá e entrega o bilhete autorizando que ela dê os meus livros para você”, disse ele, que na época publicava pela Gráfica Record Editora. “Daí escrevi: ‘Conceição, o portador desta trabalha na Ilha das Flores, onde me encontro, por favor entregue um exemplar de cada livro meu para ele’.” Foi por meio desse bilhete que descobriram o paradeiro de Aguinaldo. “Fui preso no dia 5 de novembro de 1969 e solto no dia 10 de fevereiro de 1970. Daí, voltei para O Globo e fui aceito como se nada tivesse acontecido. Fizeram até uma feijoada numa sexta-feira esperando que eu contasse alguma coisa, mas não contei merda nenhuma. Fiquei traumatizado durante muito tempo”, relata.